A produção científica desempenha importante papel para retornos presenciais da população e dos estudantes da UFPR, com cuidados ainda necessários #AgenciaEscolaUFPR
Por Maria Fernanda Mileski e Chananda Buss
Com edição e sob supervisão de Chirlei Kohls
Depois de quase dois anos de pandemia, as atividades presenciais da sociedade e, principalmente das instituições de ensino em todo o Brasil, vão voltando à “normalidade”, mas agora com um novo aprendizado: a importância da ciência. O trabalho de cientistas em todo o mundo, com orientações, protocolos e descobertas em relação à Covid-19, mostrou cada vez mais a diferença que a ciência exerce na vida da população. Pesquisas e projetos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) também atravessaram os muros e impactaram a vida de inúmeras pessoas, que conduzem ao momento de retomada que a sociedade vive agora.
Mesmo diante da redução de investimentos, as pesquisas científicas resistem e desempenham um papel importante no desenvolvimento do Brasil e do mundo, o que proporciona melhorias diretas na vida de cada cidadão. É só olhar ao seu redor, para enxergar os resultados da ciência presente no dia a dia. Durante a pandemia, a UFPR desenvolveu, por exemplo, um aplicativo que faz projeções matemáticas da curva de contágio da Covid-19, realizou notas técnicas sobre a evolução da pandemia no Paraná e implementou um estudo e revisão de leis sobre trabalho remoto no Brasil. Além disso, pesquisadores da Universidade estão desenvolvendo uma vacina com insumos e tecnologias 100% nacionais.
Apesar da onda de desinformação, universidades e pesquisadores seguiram desenvolvendo estudos relevantes para o combate à pandemia em todo o país. É o que relata o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, que reforça que a instituição se baseou na ciência para direcionar as decisões da Administração da Universidade. “Num momento em que a ciência é incrivelmente questionada em todos os lados, em que existe o negacionismo e o movimento antivacinação, a UFPR não poderia fazer diferente do que apostar forte e firme na ciência. Afinal, as universidades tiveram um papel fundamental ao longo da pandemia e continuarão tendo nesse contexto do pós-pandemia”, afirma.
Em 2020 e 2021, a Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 na UFPR teve um papel crucial na orientação e combate ao coronavírus na sociedade. Ricardo Marcelo destaca a qualificação e a formação de qualidade dos cientistas da UFPR, que guiaram as orientações sanitárias em geral, inclusive fora da Universidade, para toda a sociedade. Além disso, as pesquisas científicas desenvolvidas pela instituição também contribuíram, criaram soluções e fizeram descobertas em diversas frentes, com impacto não só em Curitiba, mas também em todo o estado do Paraná e em outras regiões do Brasil – confira no infográfico abaixo.
Quem endossa a importância das orientações dos cientistas para as decisões sobre a pandemia em toda a sociedade é o professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 na UFPR, Emanuel Maltempi de Souza. Ele ressalta que nunca houve um esforço tão grande de cientistas em prol de uma única causa e conta que a UFPR trouxe diversas contribuições para o enfrentamento da pandemia, como com testes e novos fármacos, confecção dos equipamentos de proteção individual (EPIs) e na linha de frente dos leitos de pacientes com Covid-19 do Complexo do Hospital de Clínicas da UFPR.
“Houve também destaque das análises estatísticas, tanto localmente quanto globalmente. Junto ao acompanhamento dos números, pesquisadores da UFPR (e de outras universidades) aplicaram modelos epidemiológicos visando prever o comportamento (pelo menos no curto prazo) e a tendência da pandemia. Um trabalho de primeira classe. E as universidades foram fundamentais na testagem das vacinas que usamos atualmente e que nos permitem vislumbrar o fim da pandemia”, defende o pesquisador.
Emanuel ainda afirma que o conhecimento produzido dentro das universidades brasileiras retorna para a população. “O corpo técnico-científico da Universidade foi capaz de se inteirar das novas informações produzidas e traduzi-las para a comunidade em geral. Isso, eu acredito, ajudou a população a se preparar para a doença, contribuiu para a redução da curva de contágio e permitiu que o sistema público de saúde não entrasse em colapso”, aponta.
Pesquisadores orientam sobre ensino na volta das aulas presenciais
A ciência direcionou as ações e decisões tomadas na UFPR durante a pandemia, assim como está sendo feito na retomada das atividades presenciais. As contribuições vão além dos direcionamentos sobre cuidados sanitários nas instituições. Também englobam pesquisas científicas que auxiliam alunos, professores, gestores e famílias no retorno das aulas, em relação às dificuldades, desafios e descobertas no processo de ensino-aprendizagem de crianças, adolescentes e de estudantes do ensino superior.
Na UFPR, o projeto de extensão “Organização do trabalho pedagógico e gestão escolar no contexto da Covid-19”, desenvolvido por pesquisadores do Departamento de Educação, Ensino e Ciências (DEC) do Setor Palotina, oferece apoio a escolas da região. Foi assim no início da pandemia, quando houve a necessidade de auxiliar na reorganização das instituições frente às novas demandas de ensino, como o ensino remoto e híbrido.
“A informação do projeto foi compartilhada entre as escolas e vimos que iria render ações maiores. Fizemos pequenas formações e quando vimos, estávamos trabalhando com várias instituições da Região Oeste do Paraná. Tivemos vários retornos de professores e gestores que se sentiram contemplados em suas dúvidas e dificuldades”, afirma a professora e coordenadora do projeto, Raquel Angela Speck.
O resultado do trabalho motivou a formulação do livro “Ressignificando as práticas de ensino e de aprendizagem no contexto do ensino emergencial”, lançado em 2021 pela Editora CRV e disponível gratuitamente para download. A obra reúne experiências e aborda as possibilidades do ensino remoto surgidas no contexto da pandemia da Covid-19. Segundo Raquel, o conteúdo também é útil e pode contribuir com o retorno das atividades presenciais nas instituições de ensino, como em relação às estratégias pedagógicas que podem ser adotadas para não perder aquilo que já foi aprendido sobre o uso das tecnologias digitais.
Atualmente, os integrantes do projeto continuam a atuar junto às escolas, para oferecer apoio e orientações sobre os desafios no retorno das aulas. “Foi um ano e pouco sem aula. Terão alunos com alguma defasagem, seja porque não conseguiram aprender adequadamente ou que não atingiram os objetivos educacionais, até mesmo com a questão emocional e afetiva prejudicada”, relata.
A ciência em torno do trabalho desenvolvido pelo projeto de extensão em Palotina também envolve a preocupação do retorno das aulas com bases científicas para as medidas e protocolos de segurança, como acontece na volta das atividades presenciais dos estudantes da UFPR.
Protocolos para retorno das aulas presenciais na UFPR
Depois de quase dois anos de aulas presenciais suspensas na Universidade Federal do Paraná (UFPR) em decorrência da pandemia da Covid-19, a instituição se prepara para a retomada do ensino presencial na próxima segunda-feira (14). Os protocolos de proteção para o retorno estão sendo implementados baseados na ciência e na orientação de cientistas de diversas áreas do conhecimento que fazem parte da Comissão de Retomada das Atividades Presenciais.
Segundo Ricardo Marcelo, as organizações para o retorno das atividades presenciais na UFPR, assim como em outras universidades em todo o Brasil, seguem as orientações e projeções de cientistas e de órgãos que analisam os números da pandemia. “Com o máximo cuidado possível e ouvindo os cientistas, resolvemos postergar por duas semanas a retomada das atividades letivas, que inicialmente aconteceria em 31 de janeiro e agora será na próxima semana, precisamente porque as projeções indicavam que os números estariam em queda já em meados de fevereiro. E isso, efetivamente, se confirmou”, relata o reitor.
Para o desenvolvimento dos protocolos de segurança com o objetivo de um retorno seguro, a Comissão de Retomada das Atividades Presenciais na UFPR se debruçou em pensar nas medidas de proteção necessárias na Universidade. Entre as principais medidas e contribuições da ciência, estão a apresentação do comprovante de vacinação contra a Covid-19; a criação de uma plataforma que auxilia no monitoramento da Covid-19; a reorganização dos espaços físicos de salas de aula, laboratórios e áreas administrativas; a orientação de professores e gestores sobre o ensino de estudantes no pós-pandemia; entre outras ações.
Plataforma Check UFPR auxilia na retomada das atividades
Para manter a retomada presencial das atividades seguras na Universidade, algumas soluções foram realizadas internamente na UFPR. Esse é o caso do acompanhamento e orientação dos casos confirmados e suspeitos de coronavírus pelo Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Saúde (Nepes). Para monitorar quais pessoas podem estar infectadas pelo vírus dentro da Universidade, a plataforma Check UFPR é uma solução.
Ela monitora os ambientes frequentados pelos alunos, professores e servidores técnico-administrativos. Se algum caso de Covid-19 for detectado pelos usuários da plataforma, todas as pessoas que foram possivelmente contaminadas são contatadas, instruídas e acompanhadas pelo atendimento do Nepes. “O sistema identifica a pessoa, calcula quantos dias antes ela poderia ter transmitido e observa todos os contatos”, afirma André Mariano, professor da UFPR responsável pelo aplicativo.
“Os usuários precisam entrar e fazer seu cadastro. E daí, quando entrar em um espaço, clicar em um botão do QR Code que abre a câmera. Apontar para a porta [com o QR Code] e pronto. O check-in está feito”, explica André. Esse código impresso deve estar presente na entrada de espaços da Universidade com alta circulação de pessoas.
O professor afirma que essa é uma solução de biossegurança desenvolvida na UFPR que pretende minimizar os impactos causados pela transmissão de vírus entre as pessoas. “Como os espaços são públicos e vão ser utilizados por muitas pessoas, é muito importante rapidamente identificar quem está com Covid”, pontua.
Existem ainda outras soluções que serão utilizadas na retomada das atividades presenciais, como o mapeamento tridimensional dos ambientes realizado pela própria Universidade, pelos setores de Tecnologia, Ciências da Terra e pelo Campus Avançado de Jandaia do Sul. Com uma análise de rotatividade, tempo de permanência e outros fatores, é possível estabelecer as diretrizes de uso desses locais, garantindo a biossegurança dos alunos, professores e servidores técnico-administrativos.
Retorno seguro já é uma realidade na UFPR
O retorno das aulas presenciais da UFPR no 14 de fevereiro não é a primeira experiência da Universidade desde o início da pandemia, já que algumas atividades voltaram presencialmente antes disso. O curso de Odontologia é um desses casos. Segundo a coordenadora do Programa de Pós-graduação em Odontologia (PPGO), Juliana Lucena Schussel, esse retorno foi essencial pelo caráter prático do curso e por se tratarem de profissionais de saúde que estavam realizando atendimentos odontológicos nesse período ao Sistema Único de Saúde (SUS).
Esse exemplo retrata como a retomada pode ser realizada seguindo protocolos que garantam a segurança de alunos, professores e servidores técnico-administrativos. “Tivemos três casos de Covid-19. Ao fazer o rastreamento, observamos que nenhum desses casos foi uma contaminação nas dependências do curso. Eles se contaminaram externamente. Isso nos deu mais confiança que nossas diretrizes de retorno funcionaram bem”, relata a professora Juliana.
Diversos protocolos foram seguidos nessa retomada presencial da Odontologia. “Compramos equipamentos de proteção individual, estamos fazendo aferição de temperatura e testagem das superfícies. Os alunos fizeram um treinamento de como devem se portar, como colocar e retirar os equipamentos. Tem todo um processo”, acrescenta Juliana. A coordenadora ainda explica que muitos dos procedimentos, como o uso de máscaras, já eram realizados pelos estudantes antes da pandemia por ser um curso da área da saúde. “Estamos à disposição para fazer esse tipo de orientação para os alunos e explicar como foi o nosso processo”, diz.
O reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, endossa as contribuições que diversas áreas de conhecimento da Universidade podem trazer para o retorno das atividades presenciais. “Não poderia haver outra alternativa senão a ciência informar aquilo que fizemos desde o início de 2020. Ela continuou nos informando ao longo das diversas fases da pandemia e está informando agora, nesse momento bastante complexo de retomada das atividades letivas”, conclui o reitor.
Foto destaque: Juliana Barbosa/Aspec-SCB-UFPR