Apesar dos desafios impostos pela pandemia e pelo corte de recursos, as universidades públicas brasileiras seguem sendo importantes polos de pesquisa, extensão e inovação #AgenciaEscolaUFPR
Por Isabela Stanga e Maria Fernanda Mileski
Com edição e sob supervisão de Chirlei Kohls
Fazer a diferença. Essa tem sido a principal característica da ciência brasileira nos últimos anos. Mesmo diante da redução dos investimentos, as pesquisas científicas resistem e desempenham um papel crucial no desenvolvimento do Brasil e do mundo, além de proporcionar melhorias diretas para a sociedade. Neste Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador (8), olhar ao redor é uma oportunidade de enxergar o impacto da ciência no dia a dia, que é produzida principalmente pelas instituições de ensino superior. Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), a produção científica tem se mostrado relevante nas várias áreas do conhecimento e também na busca em contribuir diante dos desafios impostos pela Covid-19.
Durante a pandemia, por exemplo, a UFPR realizou mais de 30 mil testes gratuitos de Covid-19 em assintomáticos e produziu mais de 106 mil litros de álcool 70% para doar a instituições. Além disso, pesquisadores estão desenvolvendo uma vacina com insumos e tecnologia 100% nacionais, com previsão de disponibilização para a população em 2022.
Segundo o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, a Covid-19 evidenciou para vários setores da sociedade que apenas a ciência é capaz de encontrar uma saída para o que o país tem vivenciado. “Apesar de lidar com os cortes de verbas e ataques de movimentos negacionistas, os cientistas, as universidades públicas brasileiras e a UFPR se sobressaíram nesse momento tão delicado e estão realizando um importante trabalho, desde pesquisas até ações que ajudam diretamente a população”, afirma.
O professor ainda ressalta que nunca houve um esforço tão grande de cientistas em prol de uma única causa. “Nessa data tão importante eu gostaria de reiterar o meu respeito e minha admiração a todos os cientistas, em especial aos da UFPR, que sempre estiveram à frente de seus laboratórios e projetos, buscando soluções para um mundo melhor”.
Fora do campo da saúde, a Universidade também desenvolve ações amplas que impactam a população de diferentes formas, como o monitoramento e resgate de animais encontrados no litoral paranaense. Já o SAC Dengue é um sistema criado pela UFPR para o controle das condições climáticas favoráveis à infestação do vetor da dengue no Paraná. E através da ação direta com a sociedade, a Universidade também desenvolve projetos voltados à capacitação social, como com mulheres periféricas, para que atuem como Promotoras Legais em suas comunidades. Confira abaixo alguns dados e estudos desenvolvidos na UFPR.
Ouça um boletim informativo do Volume UFPR sobre o Dia Nacional da Ciência e dos Pesquisadores, uma produção da Agência Escola UFPR em parceria com a rádio UniFM:
Produção científica na UFPR para ajudar no combate à pandemia
Os desafios impostos pela Covid-19 no Brasil serviram para mostrar, mais uma vez, os pontos fortes e o impacto da ciência na vida de todos os brasileiros. Apesar da onda de desinformação, universidades e pesquisadores seguem desenvolvendo pesquisas relevantes para o combate à pandemia em todo o país. Na UFPR, a produção científica em relação ao novo coronavírus envolveu diversas áreas do conhecimento. O resultado ultrapassou os muros da Universidade, com ações de enfrentamento em todo o Paraná.
Na pandemia, o álcool 70% se tornou um grande aliado na luta contra a Covid-19. Com o objetivo de suprir a necessidade desse material e também a alta nos preços do produto, alguns departamentos da UFPR começaram a produção e doação de álcool 70% para a sociedade.
A iniciativa voluntária Rede de Combate à Covid-19 da UFPR, que é uma ação conjunta de vários setores da instituição, uniu professores, alunos, técnicos e comunidade para a realização de ações integradas no enfrentamento da pandemia no Paraná. Entre as frentes de trabalho, a UFPR já produziu mais de 106 mil litros de álcool 70% para ajudar instituições no combate à Covid-19. O dado envolve a produção realizada nos campus de Curitiba, no Campus Avançado de Jandaia do Sul, no Setor Litoral e no Setor Palotina.
Segundo o professor do Departamento de Química e integrante da Rede de Combate à Covid-19 da UFPR Rinton Alves de Freitas, entre as principais instituições atendidas com a produção de álcool 70% em Curitiba estão secretarias municipais de saúde de cidades da Região Metropolitana, Complexo Hospital das Clínicas UFPR, Hemepar, Hospital do Trabalhador, Ministério Público do Paraná, Secretaria de Estado da Justiça, entre outros.
Testagem gratuita da Covid-19 em várias cidades do Paraná
A produção científica da UFPR também alcançou a sociedade através da realização de milhares de testes em pessoas assintomáticas, ou seja, aquelas que não possuem os sintomas da Covid-19. Até o mês de junho de 2021, foram realizados mais de 31 mil testes em assintomáticos em mutirões com a comunidade acadêmica da UFPR – formada por estudantes, servidores e terceirizados, além de seus familiares e coabitantes -, servidores de outros órgãos governamentais, pessoas em situação de rua, indígenas, grupos vulneráveis, população carcerária, entre outros.
A testagem foi coordenada pela Direção do Setor de Ciências Biológicas da UFPR, em parceria com os laboratórios de Imunogenética e Histocompatibilidade (LIGH) e de Citogenética Humana e Oncogenética (LabCHO). A ação fez parte de um estudo para identificar indivíduos assintomáticos e propiciar o isolamento, como medida para evitar a contaminação de outras pessoas. Atualmente, as testagens estão acontecendo somente com pessoas sintomáticas da comunidade da UFPR.
De acordo com a coordenadora da pesquisa e professora do Departamento de Genética da UFPR, Daniela Fiori Gradia, além de evitar a maior disseminação da Covid-19 pelo isolamento de pessoas contaminadas, as testagens contribuíram na educação e divulgação de boas práticas sanitárias junto à população atendida. Esse é, também, um dos objetivos daqueles que produzem ciência. “As universidades públicas são as principais geradoras de conhecimento no Brasil, e seus produtos são de propriedade da instituição, garantindo um aporte financeiro e intelectual que resultará na melhoria da qualidade de ensino e pesquisa que será refletida na população local”, relata.
Além de Curitiba, uma ação coordenada pelo professor do Departamento de Medicina Veterinária Alexander Biondo estuda a resposta imunológica da Covid-19 em quatro aldeias indígenas, incluindo comunidades do litoral paranaense. São elas: Tekoa Pindoty, Kauray Porã, Araçaí e Tupã Nhá Kretã. Ao todo, foram cerca de 140 indígenas testados. O estudo revelou que aproximadamente 50% da população indígena já teve contato com o vírus, a partir de testagem realizada antes da vacinação. A ação também conta com um grupo de veterinários para ajudar com os animais de companhia das aldeias, tratando-os com vermífugos e antipulgas.
O projeto contou com a colaboração do Laboratório de Microbiologia Molecular da UFPR Litoral, que desenvolveu testes imunológicos para a detecção da Covid-19 com custo de R$ 5 para a produção e capacidade de realização de 96 amostras simultâneas, com resultado ofertado em cerca de sete minutos. O professor e coordenador do laboratório, Luciano Huergo, afirma que a tecnologia de desenvolvimento do teste é barata, o que possibilita a aplicação em massa e o avanço para a detecção de outras doenças.
“O princípio da técnica é muito simples, o que estamos fazendo é receber as proteínas de outras doenças, como a dengue. Em vez de adicionarmos as nanopartículas do coronavírus, colocaremos as da dengue e esperamos que isso vá funcionar. O conceito é que o teste seja válido, a princípio, para qualquer doença”.
Através de parcerias com prefeituras do litoral do Paraná, a testagem está disponível para a sociedade, através de um sistema de agendamento. O professor finaliza relembrando a importância da ciência, principalmente nesse momento de combate à pandemia. Para ele, o conhecimento científico é o motor no desenvolvimento de vacinas, testes e tratamentos para a Covid-19. “São várias frentes, mas a pesquisa e a ciência movem tudo. É o nosso dia a dia, sem elas estaríamos na idade da pedra”, diz Huergo.
Ainda com relação à Covid-19, o professor Alexander Biondo também é coordenador de uma pesquisa que analisa a contaminação de pets pela doença e que avaliou, de outubro de 2020 a março deste ano, 90 cães e 53 gatos nas cidades de Curitiba, São Paulo, Recife, Campo Grande e Belo Horizonte. Até o momento, apesar de 14% de cães e 15% de gatos testarem positivo, não há evidências de transmissão de pets para pessoas.
Uma vacina 100% nacional desenvolvida pela UFPR
De ponta a ponta, a produção científica da UFPR agora conquista um novo êxito: o desenvolvimento da vacina contra Covid-19, que usa insumos nacionais e tem tecnologia de produção 100% desenvolvida pela Universidade. Outro ponto positivo é o custo de produção. De acordo com o professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR, Emanuel Maltempi de Souza, são gastos menos de R$ 5 para a fabricação de cada dose.
“Falta ao nosso país a experiência de desenvolver e produzir vacinas. Isso nos faz pesadamente dependentes de insumos importados. Com cerca de 213 milhões de habitantes no Brasil, nós temos que deter esse conhecimento. Isso quer dizer que temos que ter a capacidade técnica de planejar uma vacina, desenvolver os trabalhos de pesquisa, testar nas diferentes fases e produzir centenas de milhões de doses”, defende o cientista, que também é um dos responsáveis pela pesquisa da Vacina UFPR.
Confira o vídeo a seguir para saber mais sobre a vacina da UFPR:
A vacina desenvolvida na UFPR deve encerrar a fase de testes pré-clínicos até o final de 2021. A previsão é que até 2022 o imunizante possa ser disponibilizado para a população, com a aprovação nos testes pré-clínicos e clínicos. Para o avanço na pesquisa, a Universidade lançou a Campanha “Vacina UFPR”, que objetiva receber doações de pessoas físicas e jurídicas.
Os valores arrecadados devem contribuir na chamada fase clínica (com testes em humanos). Outro benefício no desenvolvimento da vacina pela UFPR são suas características multifuncionais. Se recombinado, o imunizante pode ser usado para outras doenças, como dengue, zika vírus e outros. Conforme o professor Emanuel, o projeto foi concebido pensando no benefício em retornar para a sociedade os conhecimentos produzidos pela Universidade. “Se continuarmos tendo sucesso no desenvolvimento e testagem da vacina UFPR, estou convencido que o país terá condições de produzir as doses necessárias para todos os brasileiros”.
Mais de 12 mil animais resgatados das praias do Paraná
Além de iniciativas voltadas à área da saúde e ao combate ao novo coronavírus, a UFPR também desenvolve ações em outras áreas do conhecimento. Por meio de estudos e pesquisas, bem como, dos programas de extensão universitária, a universidade exerce influência para fora de seus muros e também colabora com órgãos públicos.
O Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) faz parte do Centro de Estudos do Mar, em Pontal do Paraná, e possui como foco a pesquisa e a extensão voltadas à conservação da biodiversidade marinha. Sob supervisão da professora Camila Domit, o laboratório coordena o Centro de Reabilitação, Despetrolização e Análise de Saúde da Fauna Marinha e o Programa de Avaliação Ecológica e de Saúde Marinha no litoral do Paraná (Promar), que realizam o monitoramento e o resgate de animais encontrados nas baías litorâneas.
Outras linhas de atuação do LEC são o Projeto Conservação da Toninha, responsável por observar a dinâmica populacional da Toninha, espécie de golfinho mais ameaçada do país, e o Projeto Sentimar, através do qual são realizados levantamentos de contaminantes presentes nas águas marinhas.
Em cinco anos de atividade, o LEC já resgatou mais de 12 mil animais das praias do Paraná e participou de mais de seis Planos de Ação Nacional relacionados à conservação ambiental. Atualmente, os pesquisadores do laboratório trabalham em conjunto com o Ministério Público do Estado Paraná (MP), dando suporte às discussões pertinentes ao uso do território e dos recursos naturais, a fim de manter a conservação das espécies.
De acordo com a professora Camila, um exemplo recente de auxílio prestado ao MP aconteceu no processo de licenciamento para derrocagem (explosão subaquática) em frente ao Porto de Paranaguá, em que o Laboratório trouxe informações sobre os possíveis impactos ambientais e para a pesca artesanal que poderiam ser causados pela ação.
Com mais de 100 pessoas em sua equipe de colaboradores, o LEC pretende prestar serviços e também propagar a produção científica por meio de suas atividades. “É um laboratório que possui as portas e as janelas abertas, temos como objetivo realizar uma ciência de qualidade e também difundi-la”, explica a professora Camila. “Queremos levá-la aos mais diferentes cantos e aos mais diferentes atores, para que ela se torne uma ciência útil e de mudança”, completa.
Monitoramento climático para controle da dengue
Assim como o Setor Litoral, o Departamento de Geografia da UFPR executa pesquisas e extensão relacionadas às relações entre seres humanos e natureza através do Laboratório de Climatologia – Laboclima, porém focadas em situações climáticas. O Laboclima une professores, pesquisadores, estudantes, estagiários, bolsistas e demais interessados em climatologia, buscando expandir o conhecimento na área.
Um dos projetos desenvolvidos pelo Laboratório com apoio do Instituto Tecnológico do Paraná (Simepar), do Ministério da Saúde, da Secretaria Estadual da Saúde do Paraná e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) busca controlar a dengue a partir de seu vetor, o Aedes aegypti. O SAC Dengue atua como um sistema de risco, monitorando as condições climáticas favoráveis para a infestação do mosquito nas regiões paranaenses. Com as informações levantadas, o Laboclima produz um Boletim de Alerta, usado pelas Secretarias do estado – como a Secretaria Estadual de Saúde – para o acompanhamento da dengue e das outras doenças transmitidas pelo vetor (chikungunya e zika) no Paraná.
Segundo Francisco de Assis Mendonça, pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) da UFPR e coordenador do Laboratório, a equipe também organiza cursos e oficinas sobre a prevenção da dengue para professores e alunos da rede municipal de ensino de Curitiba. Sobre as outras linhas de atuação do Laboclima, Francisco expõe que o grupo também oferece cursos para gestores e políticos municipais da Região Metropolitana de Curitiba, a fim de capacitá-los para a gestão urbana tendo em vista os impactos das mudanças do clima.
Acerca das ações do Laboclima, o pró-reitor da UFPR reconhece que exerce grande impacto por meio de suas pesquisas. “Temos contribuído de maneira direta para que a sociedade paranaense reconheça mudanças climáticas globais. Tanto no sentido de mitigar os efeitos das mudanças climáticas quanto também da adaptação humana a elas”, aponta. “Em segundo lugar, destaca-se os estudos que realizamos sobre doenças transmissíveis. Eu destaco especialmente a questão da dengue. Temos desenvolvido no Laboratório de Climatologia várias pesquisas que envolvem saúde humana. Temos colaborado com a população dando informações no sentido de precaver-se sobre as alterações climáticas e os impactos do clima sobre as doenças”, acrescenta.
Estudos e atendimentos sobre relações trabalhistas e plataformas digitais
As universidades, como espaços de produção de conhecimento, estudam fenômenos que tenham impacto na sociedade. Na UFPR, pesquisas realizadas em diferentes setores, como as Ciências Jurídicas, possuem como objetivo avaliar situações relevantes para a vida cotidiana.
A Clínica de Direito do Trabalho, ligada ao curso de Direito da Universidade, é coordenada pelo professor Sidnei Machado e, além de realizar atendimentos jurídicos, também atua em observatórios, grupos de estudos em que os alunos acompanham processos judiciais e movimentos sociais relevantes. Devido à pandemia da Covid-19, a Clínica tem desenvolvido pesquisas sobre o contexto de isolamento social envolvendo as relações trabalhistas, como estudos sobre os entregadores de aplicativo e as plataformas de trabalho digitais.
Nesse sentido, em um dos levantamentos realizados em março deste ano, a iniciativa identificou mais de 70 plataformas laborais online em atividade no Brasil e concluiu que houve aumento da digitalização dos serviços de saúde (que representaram 16% das empresas) e de educação (12% do total encontrado).
De acordo com Alexandre Pilan Zanoni, assistente de pesquisa da Clínica, os estudos avançaram e, atualmente, o grupo está analisando dados de 160 plataformas digitais de trabalho no Brasil. “Conseguimos, com o suporte e financiamento do Ministério Público do Trabalho, acesso aos dados gerados pela empresa israelense Similarweb, a qual está fornecendo dados de acesso dessas 160 plataformas nos últimos 24 meses. Teremos, com isso, a capacidade de avaliar as plataformas com mais trabalhadores ativos, bem como, a variação ao longo do tempo. Podendo indicar impactos da pandemia da Covid-19 nessa modalidade de trabalho por plataformas digitais”, reforça.
Detecção de contaminantes que podem afetar a regulação hormonal de grávidas
Outro estudo realizado por estudantes da UFPR, por meio do Projeto Cuidar (Estudo Curitibano de Investigação do Ambiente e Reprodução), teve como objetivo detectar contaminantes que possam afetar a regulação hormonal de mulheres grávidas no Brasil. A pesquisa, realizada pelo Programa de Pós-graduação em Fisiologia e pelo Programa de Pós-graduação em Farmacologia, acompanhou 50 gestantes, as quais forneceram três amostras de urina durante a gestação.
Nas amostras de todas as mulheres, o professor Anderson Joel Martino Andrade e as alunas Michele Bertoncello Souza e Marcella Tapias Passoni localizaram substâncias conhecidas como ftalatos, componentes que podem desregular os hormônios humanos e que estão presentes em perfumes, esmaltes, desodorantes, materiais hospitalares e também são usados como plastificantes.
Confira o vídeo a seguir para ver mais sobre os resultados encontrados pelo Projeto Cuidar:
O professor Anderson, criador do Projeto Cuidar, expõe que, devido aos resultados encontrados, as grávidas foram instruídas a evitar o contato com os ftalatos, ao reduzir o uso de cosméticos durante a gestação, evitar embalar alimentos em embalagens plásticas, priorizar consumir produtos naturais, entre outras medidas para diminuir o contato com o contaminante.
“Muitos dos estudos desenvolvidos na Universidade, sejam de ciência básica ou aplicada, têm repercussões marcantes na vida das pessoas. Nossa pesquisa reforça a necessidade de investigações adicionais, para monitorar a exposição de populações humanas a agentes químicos ambientais. Assim como a implementação de políticas públicas que visem a redução ou substituição desses agentes em produtos de consumo”, defende.
Campanhas educativas e produção de medicamentos
Aliados às atividades de extensão e de pesquisa acadêmica, existem ainda projetos da UFPR que prestam diretamente serviços para a sociedade. A Farmácia Escola (FESC-UFPR), vinculada ao Departamento de Farmácia da Universidade, é uma das iniciativas acadêmicas que contempla atividades formativas para os alunos, ao mesmo tempo em que realiza atendimentos para a comunidade em geral.
A Farmácia Escola possui diferentes vertentes de atuação social, entre elas, o desenvolvimento de campanhas educativas sobre temas em saúde (como cuidados com a hipertensão arterial, diabetes, câncer de pele, entre outros) e o acompanhamento farmacoterapêutico de pessoas, em que professores, alunos e técnicos orientam os pacientes com relação ao uso de seus medicamentos. A equipe também realiza ações sobre o descarte de remédios em escolas públicas com crianças entre sete e oito anos, através do projeto de extensão “Descarte Consciente de Medicamentos”.
Em 2010, durante a epidemia da H1N1, a Farmácia Escola produziu o medicamento Tamiflu em solução oral para crianças, quando este não estava disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), juntamente a outras farmácias universitárias, a pedido da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná. Nessa época e também recentemente, com a pandemia da Covid-19, os profissionais da FESC-UFPR produziram álcool em gel a fim de distribuí-lo para hospitais, casas de repouso, secretarias de saúde municipais e outras instituições.
A coordenadora da Farmácia Escola, professora Camila Klocker Costa, ressalta que sua intenção é beneficiar a sociedade de modo geral, através do trabalho voluntário dos alunos, professores e técnicos. “Sabemos que as universidades federais e estaduais são responsáveis pela maior parte da ciência produzida no país. Eu vejo como de extrema importância essa ciência não ficar restrita na universidade, mas trazer um benefício para a comunidade”, explica. “Somos uma instituição pública, paga pelos impostos da sociedade. Por isso, temos que dar uma retribuição de alguma forma. É isso que tentamos fazer ao longo desses anos”, completa.
Capacitação para direitos das mulheres
A fim de promover o diálogo do conhecimento acadêmico para além dos muros da academia, alunas e professoras do curso de Direito da UFPR participam do projeto Promotoras Legais Populares – Mulheres que ousam lutar constroem o poder popular (PLPs). A iniciativa oferece um curso capacitante às mulheres periféricas, para que atuem como Promotoras Locais em suas comunidades.
Desde sua criação, cerca de 500 mulheres foram impactadas pelo projeto, conforme explica a professora Melina Fachin, coordenadora do PLPs. Uma nova edição do curso será ofertada em breve e atenderá 70 mulheres, sobretudo as periféricas, marcadas por vulnerabilidades.
“Atuamos levando a formação jurídica para a sociedade, com enfoque de gênero, porque as mulheres estão no centro das discussões”, descreve a professora Melina. “O verdadeiro significado da extensão é levar a Universidade para fora, projetá-la para a comunidade e, também, agregar o saber popular à formação acadêmica”.
Brasil como 13º maior produtor de conhecimento científico
Apesar de todas as dificuldades, o Brasil se mantém como o 13º maior produtor de conhecimento científico do mundo, segundo o relatório “Panorama da ciência brasileira: 2015-2020” divulgado recentemente pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). No país, a pesquisa é realizada principalmente no âmbito das universidades públicas. Dado divulgado em relatório da empresa Clarivate Analytics, a pedido da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Ministério da Educação (MEC), revelou que 15 universidades públicas brasileiras são responsáveis por 60% da produção científica no país.
Nos últimos anos, pesquisadores assistiram à redução dos investimentos públicos em pesquisa. Para a vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Fernanda Sobral, a desvalorização pode ser observada pelos poucos recursos financeiros destinados à produção científica, através do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA – 2021) e pela luta para se conseguir a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
“Por outro lado, cada vez mais a sociedade reconhece o valor da ciência, porque mesmo com essas condições restritivas que não favorecem a nossa produção científica, ela tem se mostrado relevante dada a competência acumulada, que se deve às políticas de fomento de pós-graduação anteriores e à atuação das universidades e dos institutos de pesquisa”, defende Sobral.
A vice-presidente da SBPC ainda completa que, no Dia Nacional da Ciência e dos Pesquisadores, é preciso mostrar a importância no investimento dessa área para garantir o futuro do país. Isso porque, a produção científica está intimamente ligada ao crescimento econômico e social brasileiro. Quem endossa esse argumento é o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPR, professor Francisco de Assis Mendonça, que reflete não haver na história um país que tenha se desenvolvido sem o apoio da pesquisa científica. Para ele, o retorno da ciência e do conhecimento produzido pelas universidades se dá de maneira direta e impactante, pela quantidade de estudantes que se qualificam anualmente nos cursos de graduação, mestrado, doutorado e especialização ofertados.
“São profissionais qualificados que atuam na comunidade. Portanto, o retorno social do conhecimento produzido acontece de maneira direta. Não há dissociação entre sociedade e universidade. É impossível imaginar que o nosso país vá alcançar alguma posição melhor de desenvolvimento sem que haja, efetivamente, um investimento adequado nas universidades brasileiras”, defende.
Por meio de pesquisa, extensão e inovação, as universidades são espaços de produção e de compartilhamento de conhecimentos capazes de gerar impacto social. Neste Dia Nacional da Ciência e do Pesquisador, os estudos e projetos abordados na reportagem são apenas uma pequena parcela de tudo o que é realizado pela Universidade Federal do Paraná – que, assim como outras universidades públicas, salva vidas de muitas maneiras e contribui com o desenvolvimento do país e do mundo.
A Agência Escola preparou posts com dados sobre o impacto social de algumas pesquisas desenvolvidas na UFPR para valorização da ciência. Você pode baixá-las abaixo e compartilhá-las em suas redes sociais!
Arte dos posts: Gustavo Conti
Textos dos posts: Kamilla Schreiber, Raphaella Concer, Patricia Goedert Melo e Chirlei Kohls
Em breve, a Agência Escola produzirá uma matéria com a participação das pessoas atendidas por ações e impactadas pelas pesquisas da UFPR. Não perca!
Foto destaque: Camila Klocker Costa/Farmácia Escola UFPR/Arquivo pessoal