Por Priscila Murr
Fotos: Agência Escola UFPR e SETI/PR
Supervisão: Maíra Gioia
Discussão da nova estratégia de CT&I para os próximos 10 anos aconteceu entre 30 de julho e 1º de agosto em Brasília
“A ciência voltou”. Estas foram as primeiras palavras da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, na abertura da 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CNCTI 2024), que aconteceu entre os dias 30 de julho e 1º de agosto, no Complexo Brasil 21, em Brasília (DF). O encontro marcou um momento especial de retomada, depois de um hiato de 14 anos. Esse espaço de diálogo, que reúne diferentes atores da sociedade, tem por objetivo a reflexão com vistas à elaboração de uma nova estratégia nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) para os próximos 10 anos.
Durante a Plenária 1 de Abertura, o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, enfatizou o potencial de inteligência reunido durante o evento, destacando a capacidade do cientista brasileiro.
“Esse número de cientistas poucas pessoas conseguem reunir. E estão aqui por quê? ‘Pensando no Brasil’! Aqui não falta cientista capaz de debater”, afirmou.
Lula destacou, ainda, o momento histórico para a ciência do país.
“O dia de hoje é um dia marcante para a sociedade brasileira. O Brasil precisa aprender a voar. Nós somos grandes, nós temos inteligência. O que nós precisamos é ter ousadia de fazer acontecer”, garante.
A CNCTI acontece há quase 40 anos e, ao longo de sua história, aborda temas importantes para o progresso da ciência no Brasil, como: políticas de Estado e modelos de financiamento, inovação e inclusão, com foco nos novos rumos da ciência e da tecnologia. Para viabilizar a realização da etapa nacional, um longo processo de dezembro de 2023 a maio de 2024, reuniu sociedade civil, estudantes, professores, pesquisadores, empresários, representantes de movimentos sociais e agentes públicos, de forma presencial e remota.
Ao todo, registradas 221 reuniões, sendo 14 encontros municipais, 26 estaduais, além do Distrito Federal; 29 encontros temáticos (entre Conferências e Seminários); 157 eventos livres e cinco regionais (Sudeste, Norte, Sul, Centro-Oeste e Nordeste). Mais de 70 mil pessoas fizeram parte dos eventos que antecederam a 5ª CNCTI.
Neste último encontro, somando os formatos presencial e on-line, mais de 30 mil pessoas acompanharam as discussões que devem embasar a nova Estratégia Nacional que direcionará o setor pela próxima década. Os três dias de programação contaram com 27 debates simultâneos e 24 sessões plenárias, contemplando os quatro eixos temáticos já propostos: ‘desenvolvimento social’, ‘programas e projetos estratégicos’, ‘reindustrialização em novas bases e apoio à inovação empresarial’ e ‘expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação’.
A Embaixadora da Ciência, Jaqueline Goes frisa que, ao longo da história, as técnicas e avanços científicos e tecnológicos têm sido cruciais para a evolução e para o progresso da humanidade. Ela aponta que a ciência auxilia na compreensão do mundo e também ajuda na melhora da qualidade de vida das pessoas. Além disso, ela afirma sem receios que, “se nós quisermos, podemos, através da ciência e inovação, reduzir a zero, ou muito próximo de zero, todas as disparidades que encontramos no nosso país. Sejam elas no campo social, econômico ou político”.
A ciência paranaense
O Paraná registrou forte envolvimento na 5ª CNCTI, sendo representado pela participação da Agência Escola UFPR, representantes do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação Paraná Faz Ciência (NAPI PRFC) e por uma comitiva do governo do estado, que contou com coordenadores e assessores da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Seti) e da Fundação Araucária, além de reitores, diretores, professores de instituições paranaenses de ensino superior públicas e privadas, bem como pesquisadores de diversos NAPIs.
Articulador do NAPI PRFC e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Rodrigo Reis, palestrante na mesa de “Educação para a Ciência” trouxe, em sua fala, a importância das políticas de educação e popularização da ciência para o país. Citando o exemplo da China, que investe uma média anual de 2 bilhões de dólares do fundo de ciência e tecnologia na popularização da ciência, ele explicou que “uma política estratégica pode fortalecer o desenvolvimento científico e tecnológico, a partir da liderança tecnológica e econômica, atraindo jovens cientistas e promovendo uma cultura científica nacional”.
A também articuladora do NAPI PRFC e professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Débora Sant’ Ana, reforçou a importância da discussão proposta, garantindo que “formar os cientistas do amanhã e enfrentar os desafios do desenvolvimento depende do que fazermos para popularizar a ciência e fortalecer a cultura científica do nosso país”.
Como contribuições principais, o Paraná chama a atenção para o desenvolvimento social, a educação, a pesquisa e a articulação de ações de ciência, tecnologia e inovação, nesta ordem de importância. O secretário de Ciência e Tecnologia e Inovação e Ensino Superior do Paraná (SETI), Aldo Bona, ressalta, além disso, o diálogo como sendo fundamental para a integração e para o debate entre os atores nacionais.
“Esse evento nos permite ampliar a rede de contatos, fortalecendo a perspectiva de cooperação com outros estados e o governo federal”, afirmou.
O Presidente da Fundação Araucária, Ramiro Wahrhaftig, também salientou o diálogo como ponto forte da 5ª CNCTI. Para ele, essa integração permite a reflexão sobre o papel da ciência, da tecnologia e da inovação, delineando os rumos para os próximos anos.
“Estamos discutindo temas importantes para o país e também para o estado, reunindo as principais lideranças de ciência e tecnologia do Paraná, a fim de contribuir com o avanço do setor”, disse.
Reconhecendo a Conferência como um momento de integração, a partir da harmonização entre aquilo que vem sendo feito no Estado do Paraná e o planejamento Nacional, o diretor da Fundação Araucária, Luiz Marcio Spinosa, destacou a participação e enfatizou as realizações paranaenses.
“Nós trouxemos para cá um conjunto de oportunidades diretamente associadas ao desenvolvimento do Paraná, que hoje estão sendo compiladas no escopo Nacional. Dentre as ações, eu citaria em particular os Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (NAPI). Hoje a gente tem um pouco mais de 60 NAPIs constituídos, são organizações em rede, cada organização dessa envolve 60 ou 70 pesquisadores e todos eles voltados para as necessidades de desenvolvimento do Paraná”, afirmou.
Já a estudante da UEM e integrante da equipe do Paraná Faz Ciência e do Conexão Ciência, Maysa Ribeiro, traz um olhar crítico sobre a multiplicidade no evento. Ela conta que, a partir da Conferência, já vislumbra um caminho, mas ainda faltam estratégias para a garantia efetiva da pluralidade.
“O que eu vi foi a representação de instituições importantes, sim, mas seria diverso se a implementação desse documento nacional tivesse a participação massiva de mulheres negras, homens negros, população diversificadas, pessoas neurodivergentes, adolescentes, estudantes periféricos, nesses espaços que não são pra gente cotidianamente, mas que deveriam ser. Então, eu me senti diversas vezes representada, em eixos específicos, mas não nas plenárias destinadas ao grande público”, disse.
Conheça a história da CNCTI
A 5ª CNCTI é um encontro de caráter consultivo, lançado em 12 de julho de 2023, por meio do Decreto Presidencial nº 11.596. Realizada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), com coordenação do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), organização social vinculada à pasta, tem parceria com centenas de instituições científicas e empresariais do país, e é baseada em quatro eixos temáticos:
· Recuperação, expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação;
· Reindustrialização em novas bases de apoio à inovação nas empresas;
· Ciência, tecnologia e inovação para programas e projetos estratégicos nacionais;
· Ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento social.
A 1ª CNCT aconteceu em 1985, com o tema “Rumos do novo Ministério”. O objetivo foi discutir com a sociedade as políticas voltadas para a área, de modo a subsidiar as ações do recém-criado Ministério da Ciência e Tecnologia.
Já a 2ª CNCT foi realizada em 2001, sob a temática “Novo modelo de financiamento para a área, baseado nos fundos setoriais”. Essa conferência oportunizou o debate sobre o novo modelo de financiamento baseado nos fundos setoriais, que foi colocado em prática em 1999. Além disso, foi momento de criação do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).
Em 2005, no 3º encontro, a ênfase foi na importância da CT&I para gerar riqueza e promover a inclusão social, com foco principal na educação. O tema dessa Conferência foi: “Desenvolvendo ideias para desenvolver o Brasil”.
Cinco anos depois, em 2012, 4ª CNCTI abordou a temática “Política de Estado para ciência, tecnologia e inovação com vistas ao desenvolvimento sustentável”. Esse encontro viabilizou as discussões segundo as linhas do PACTI 2007-2010.
Por fim, a 5ª CNCTI aconteceu neste ano de 2024 e foi direcionada pelo tema “Ciência, Tecnologia e Inovação para um Brasil justo, sustentável e desenvolvido”. Marcando a retomada ampla da divulgação científica, depois de 14 anos sem nenhuma edição, o encontro contou o lançamento de plano brasileiro de Inteligência Artificial (IA), além dos debates sobre temas urgentes para a construção de uma nova estratégia nacional para a área de CT&I. E o resultado desta discussão embasa a formulação da nova Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (Encti) que direcionará o setor até 2030.