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Pesquisa da UFPR traz nova esperança para pacientes com enxaqueca

O estudo investigou a relação entre a qualidade do sono e a intensidade das dores de cabeça

 

Por Murilo Ferreira

Foto: banco de imagem e arquivo pessoal    

Supervisão: Maíra Gioia

 

A enxaqueca crônica, que afeta milhões de pessoas, pode ter uma nova abordagem terapêutica focada no sono. Uma pesquisa desenvolvida na Universidade Federal do Paraná (UFPR), liderada pela professora e médica neurologista Alessandra Zanatta, que faz parte do Departamento de Clínica Médica do Setor de Ciências da Saúde, e pelos estudantes de medicina Daniel Andreis e Maria Lúcia Ferreir investigou a relação entre a qualidade do sono e a intensidade das dores de cabeça. Os resultados mostraram que pequenas mudanças de hábitos podem trazer um alívio significativo para pacientes que já tentaram diversas outras opções de tratamento.

Professora Alessandra (no meio), Daniel e Maria. Foto: arquivo pessoal

A pesquisa teve início em um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) e focou nos pacientes do Ambulatório de Cefaleia do Hospital de Clínicas com enxaqueca crônica e queixas de insônia, um grupo que frequentemente lida com a dor quase todos os dias. Alessandra Zanatta, especialista em medicina do sono e orientadora da pesquisa, explica a escolha do Ambulatório, que é dividido em diversas áreas específicas e, frequentemente, registram queixas relacionadas ao distúrbio do sono. Ela conta que os dados da literatura mostram que quem dorme mal tende a ter mais dores de cabeça, e vice-versa, e por isso a abordagem distúrbio do sono surgiu como uma possibilidade para otimizar o tratamento desses pacientes.

 

 

Metodologia e o foco na individualidade

 

O estudante de Medicina Daniel Andreis explica a metodologia do estudo. Inicialmente, o grupo de pesquisa aplicou um questionário e realizou a triagem de pacientes com queixas de insônia no Ambulatório de Cefaleia. Em seguida, os pacientes selecionados receberam sessões de psicoeducação sobre o sono, com instruções personalizadas.

 

“A gente conversava com eles para identificar dentro da rotina deles o que estava de errado, e o que poderia melhorar um pouco em relação a essas características da insônia”, conta Daniel.

 

Foto: pixabay

A abordagem individualizada foi um ponto central. Embora existam pontos básicos de higiene do sono que servem para todos, como ter horários regulares para dormir e acordar, a equipe adaptava as orientações à realidade de cada paciente. Alessandra comenta que o estudo mostra a importância de buscar soluções viáveis para cada pessoa, desde pequenas mudanças como evitar o uso do celular perto do horário de dormir, além disso ela ressalta que cada pessoa tem suas limitações e impeditivos e esse é o principal foco da pesquisa: entender o que era viável para cada um e que pudesse possibilitar uma melhora no sono.

 

 

Resultados 

 

Os resultados do estudo foram considerados bem favoráveis. A equipe observou uma melhora na qualidade do sono dos pacientes e uma diminuição na gravidade da dor de cabeça, tanto na intensidade quanto na frequência.

 

“A gente não acreditava que tantos pacientes iam fazer e que tantos pacientes iam ter um resultado tão positivo”, afirma Daniel.

 

A professora Alessandra também ficou satisfeita com o impacto, especialmente em pacientes com enxaqueca crônica refratária – um forma grave e debilitante -, e que já haviam tentado várias opções medicamentosas e que persistiam com a dor.

A pesquisa chamou a atenção dos médicos coordenadores do próprio Ambulatório de Cefaleia, que já planejam incluir as orientações sobre o sono na rotina de atendimento. Para Alessandra, isso é uma das maiores conquistas do projeto: “O nosso estudo também foi mostrar que o médico não precisa ser especialista para orientar essa parte básica que pode ajudar muitos pacientes. Eles são estudantes de medicina, eles foram muito bem nisso, o que fizeram teve impacto na vida daqueles pacientes”.

O estudo foi apresentado em um congresso científico realizado no Hospital de Clínicas e será levado para o Congresso Mundial do Sono em Singapura. A professora lembra que a medicina do sono é relativamente nova no currículo das universidades brasileiras e, por isso, o estudo reforça a importância de todos os profissionais de saúde terem um conhecimento básico sobre o tema. Alessandra, que leciona a disciplina de Introdução à Clínica Médica, já dedica uma aula para falar sobre distúrbios do sono, a fim de chamar a atenção para a alta frequência desses problemas na população. O serviço de medicina do sono CHC-UFPR recebe residentes de diversas áreas, como neurologia, otorrinolaringologia, pneumologia e psiquiatria para um treinamento específico na área. A pesquisa liderada pela professora e médica neurologista Alessandra Zanatta e pelos estudantes de medicina Daniel Andreis e Maria Lúcia Ferreira reforçou que a formação básica sobre o sono pode auxiliar significativamente os pacientes, uma vez que os distúrbios são muito prevalentes na população.

 

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