Curso promovido pela Agência Escola UFPR mostrou a importância da divulgação científica para a sociedade e ofereceu contato de estudantes com profissionais de todo o Brasil #AgenciaEscolaUFPR
Por Carolina Genez
Sob supervisão de Maria Fernanda Mileski
“A iniciativa de um curso de Jornalismo Científico é extremamente importante nesse momento que estamos vivendo, porque ajuda alunos e jovens a usarem o ferramental de pensamento crítico no dia a dia, para saberem distinguir fontes e informações. Esse entendimento científico e midiático”, conta a jornalista de ciência e meio ambiente e vice-presidente da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadores de Ciência (RedeComCiência), Meghie Rodrigues.
A Meghie foi uma das palestrantes do curso de Jornalismo Científico proposto pela Agência Escola UFPR (AE). Durante os meses de agosto, setembro e outubro, os bolsistas da graduação e da pós-graduação da AE participaram de uma formação interna e certificada, que tinha como objetivo aprofundar conceitos e experiências da divulgação e do jornalismo científico aliando teoria e prática, para estimular a percepção crítica da produção de conteúdo, dialogando com o eixo de formação da Agência Escola UFPR. Também participaram das aulas integrantes da Assessoria a Projetos Educacionais e Comunicação (Aspec), do Setor de Ciências Biológicas da UFPR, e da Superintendência de Comunicação e Marketing (Sucom) da Universidade.
Nos onze encontros do curso que aconteceram de forma remota, os bolsistas tiveram contato com pesquisadores, jornalistas e especialistas em diferentes vertentes do jornalismo e da divulgação científica. A troca de experiências entre os participantes gerou momentos marcantes nas aulas, onde os estudantes puderam esclarecer suas dúvidas sobre o jornalismo científico e as diferentes mídias de atuação da profissão.
Além da Meghie, as convidadas e convidados do curso foram: a Natália Martins Flores, que é jornalista de ciência, gerente de conteúdo da Agência Bori e pesquisadora do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Universidade de Campinas (Unicamp); Amanda Milléo, jornalista e Mestra em Comunicação, pesquisadora do movimento antivacinação e repórter de Saúde; Lenise Klenk, que é jornalista, mestre em Comunicação e Política pela UFPR e professora dos cursos de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR); e Helen Anacleto, que é repórter da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), doutoranda e mestre em Comunicação pela UFPR.
Também participaram: Almudena Muñoz Gallego, professora da Universidad Complutense de Madrid e coordenadora da equipe CAI CREAV, que tem foco na divulgação científica audiovisual; Marina Monteiro, que se dedica à análise e visualização de dados, à divulgação científica e participa da produção de conteúdo no podcast Dragões de Garagem; Marina Tomás, que se dedica à área de percepção pública da ciência, percepção de riscos, comunicação da ciência e atua como divulgadora científica no podcast Dragões de Garagem; Mellanie Fontes-Dutra, biomédica e doutora em neurociências, que atua na Rede Análise Covid-19, Grupo Infovid, Todos Pelas Vacinas e União Pró-Vacina; e Lucas Zanandrez, biomédico e mestre em Inovação Tecnológica, que se dedica integralmente à divulgação científica no projeto Olá, Ciência!.
Para a coordenadora da Agência Escola UFPR e pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFPR (PPGCOM), Regiane Ribeiro, o curso de Jornalismo Científico foi mais que essencial para a formação dos bolsistas e dialoga muito bem com a nova campanha e slogan da AE: “Inspire Ciência”. Além disso, ela pontua que a preocupação em inspirar e divulgar ciência tem relação direta com a popularização e democratização do conhecimento científico.
“É algo que para nós é muito importante, que é o fortalecimento de uma comunicação pública que valorize o interesse público e a cidadania. Fazemos parte de uma universidade pública e, no Brasil, elas produzem mais de 90% do conhecimento científico. Precisamos, de certa forma, devolver para a sociedade o trabalho fantástico que é feito dentro das instituições”, relata a professora Regiane.
Jornalismo Científico na formação de estudantes
Atualmente é cada vez mais importante a realização de cursos como o promovido pela Agência Escola UFPR, já que a pandemia da Covid-19 mostrou com mais intensidade um fenômeno chamado infodemia. O termo criado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) se refere a um grande aumento no volume de informações associadas a um assunto específico.
Já um levantamento de dados realizado pelos pesquisadores em Comunicação e Jornalismo Científico Graciele Almeida de Oliveira e Diogo Lopes de Oliveira e publicado no livro “Pensando o Brasil pós-pandemia: reflexões e propostas” mostra que apenas 4,7% dos cursos de jornalismo nas universidades públicas no Brasil contam com Jornalismo Científico como disciplina obrigatória.
A professora Regiane pontua que um jornalismo preparado para a ciência pode trazer grandes contribuições, como foi a intenção do curso. “Está muito ligado aos três eixos da AE: da formação, experimentação e capacitação. A partir dos processos formativos que os nossos alunos de graduação e de pós-graduação percebem como é bacana e importante divulgar ciência”, afirma.
Meghie concorda ao abordar que um curso de jornalismo científico na graduação estimula que alunos vejam a ciência como um campo de cobertura. “Pode ser muito interessante porque a ciência é um campo cheio de particularidades. Quando se tem um curso de formação na graduação, há a possibilidade de experimentar e errar como estudante, tendo orientação de um professor ou jornalista que é mais experiente na área. Há também a possibilidade de aprender um pouco sobre o método científico”, ressalta a jornalista.
A experiência do curso para bolsistas da AE
Um dos maiores desafios do jornalismo é saber se comunicar e traduzir a informação científica para o público. A estudante do curso de Jornalismo da UFPR e bolsista de graduação da Agência Escola Paula Bulka enfatiza a importância do curso em sua formação profissional e reforça a ideia de um jornalismo acessível. Para ela, uma experiência de formação como a que foi oferecida pela AE demonstra que é essencial o jornalismo ser claro, objetivo e para todos. “É muito legal ver o peso de pegar uma informação que parece tão inacessível, com palavras difíceis que encontramos em um artigo científico ou pesquisa e conseguir transformar aquilo em um texto que seja entendido por todos. Acho que esse foi o principal aprendizado que tive e que vou levar comigo pra minha formação”, conta Paula.
A Agência Escola UFPR é um projeto criado em 2018 pelo Setor de Artes, Comunicação e Design (Sacod) para conectar ciência e sociedade, se dedicando à prática da divulgação científica do que é produzido dentro da Universidade Federal do Paraná. Na AE os bolsistas têm a chance de experimentar o jornalismo científico e diferentes linguagens criativas na produção de materiais e de conteúdos para a divulgação de pesquisas produzidas por cientistas – além do Jornalismo, outras áreas e cursos estão ligados à AE.
É Paula quem relata que com o curso de Jornalismo Científico, os estudantes tiveram a chance de desenvolver outras habilidades e colocá-las em prática nas rotinas produtivas da Agência Escola. “Na verdade é muito bom poder ser bolsista de um lugar que proporcione não só a experiência de mercado durante a graduação. Há essa troca de experiências e a produção de conteúdo, mas também pensa na formação dos bolsistas”.
Bruno Caron é mestrando no PPGCOM e bolsista de pós-graduação da Agência Escola UFPR. Ele também participou das aulas do curso de Jornalismo Científico e explica que os encontros foram essenciais na sua formação profissional como jornalista. Segundo Bruno, no curso os bolsistas tiveram a oportunidade de ter discussões que no dia dia acabam não sendo realizadas com frequência pelo volume das atividades. “Acho que é um grande ganho a capacitação dos bolsistas para atuar com jornalismo científico e para desenvolver melhor a divulgação científica”, afirma.
O interesse e a procura por ciência existe, por isso é importante que esse conteúdo seja acessível. Assim como Paula, Bruno enxerga que esse foi o maior aprendizado do curso oferecido pela AE e completa que esse interesse do público motiva ainda mais o trabalho na Agência Escola UFPR. “ O público está interessado em ciência e se houver um produto científico de qualidade as pessoas vão consumir. Acho que isso motiva mais a continuar o trabalho na AE, de traduzir o conhecimento que é desenvolvido na universidade e fazer isso de diferentes formas, em diferentes mídias e pensando em diferentes públicos. O público que consome ciência não é um só”, diz Bruno.
Um curso que colabora com a ciência e com o jornalismo
As fake news estão presentes em nosso vocabulário há alguns anos e se intensificaram durante a pandemia da Covid-19. Com isso, a divulgação científica e o esclarecimento de informações se tornam cada vez mais importantes. Além disso, o cenário de descrédito da ciência e os atentados contra profissionais da comunicação mostram ser cada vez mais relevante a realização de cursos que ajudem na formação do senso crítico em estudantes.
Através de sua experiência como jornalista de ciência e meio ambiente, Meghie comenta que há somente impactos positivos quando uma universidade ou projeto como a Agência Escola oferece formações e oportunidades de conversas entre estudantes e comunicadores de ciência, cientistas ou jornalistas. “É um passo importantíssimo que deviam fazer com todos os cursos, porque está enriquecendo um pouco mais o ferramental de pensamento e de senso crítico que esses estudantes têm antes mesmo de saírem da faculdade”.
Sobre esse contexto, a coordenadora da Agência Escola UFPR afirma que estamos em um momento importante para fazer com que as pessoas percebam a importância do jornalismo, da comunicação e da ciência nas nossas vidas. Para Regiane, a ideia é que cursos como o de Jornalismo Científico oferecido pela AE fortaleçam ações de formação, mas também mostrem como funciona a ciência e o quanto a universidade produz ciência. “É um dos caminhos para que possamos mostrar para as pessoas o quanto essa ideia negacionista de atuar contra a comunicação e os meios de comunicação é algo absurdo e fora de qualquer contexto em uma sociedade democrática, que precisa cada vez mais de informação”, defende.
Assim, cursos que dialogam com a divulgação científica são cada vez mais necessários. Contribuem na formação de novos profissionais de comunicação e no acesso de conteúdos pela comunidade, de forma clara e acessível. Isso fortalece as relações entre as pessoas e a ciência, rompe as barreiras na produção de conhecimento e incentiva as universidades públicas brasileiras a aproximar a sociedade do universo científico. “Então dentro dos nossos eixos, a formação para divulgação científica é uma condição básica para que a Agência Escola UFPR exista e para que consigamos fazer um bom trabalho. Cada vez mais vamos investir em cursos para além do processo interno da graduação e pós-graduação”, conclui Regiane.
Foto destaque: Reprodução/Chirlei Kohls