Por Leticia Negrello Barbosa
Edição: Alice Lima
Cultura, arte e ciência se relacionam na mensagem da Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Conhecida como o maior evento de divulgação científica da América Latina, ocorre a cada ano em uma universidade brasileira diferente.
Desta vez, na semana dos dias 23 a 29 de julho, diversos campi da Universidade Federal do Paraná (UFPR) serão movimentados por conferências, feiras de ciência e inovação, apresentações culturais e diversas outras programações. E para simbolizar este encontro, toda identidade visual do evento foi pensada e inspirada nas obras de Poty Lazzarotto — um dos maiores artistas curitibanos.
Sarah Scholz, designer gráfica da Superintendência de Comunicação e Marketing da UFPR e integrante da comissão de Comunicação da SBPC 2023, comenta que a inspiração veio do painel “A História da Tecnologia”, localizado no Centro Politécnico da UFPR. A obra retrata diversos avanços científicos ao longo do tempo e esteve presente na última edição da SBPC em Curitiba, em 1986, trazendo também um importante fator emocional de memória.
“Muitos dos estudantes que participaram do evento na época, hoje são professores nas universidades, são profissionais que contribuem para a SBPC, para o avanço científico e para o desenvolvimento educacional e cultural do Brasil”, conta a designer à Agência Escola UFPR, em boletim sonoro especial.
Poty, um artista atemporal
De família tradicional italiana, Napoleon Potyguara Lazzarotto — ou apenas Poty — iniciou sua história com a arte em uma pequena casa de madeira, onde hoje funciona o Serviço Distrital do Cajuru. O “Vagão do Armistício” era como chamava a modesta cantina de risoto mantida pelos pais do artista, com formato de um trem e desenhos feitos por um jovem Poty por todo o teto. O local pode até ousar se chamar de ‘Capela Sistina curitibana’, como brinca José Carlos Fernandes, jornalista, professor do Departamento de Comunicação da UFPR e especialista em História da Arte no Século XX.
Zeca conta que teve um breve contato com o artista em 1996, dois anos antes de seu falecimento. Em um especial que produziu como colaborador da Gazeta do Povo, em comemoração aos 50 anos da Revista Joaquim, o jornalista cometeu um erro de data e ligou a Poty para pedir desculpas.
“Ele falou assim: ‘olha, imagina pedir desculpa por isso, você não sabe nada da vida, a vida tem coisas muito mais graves do que isso’”, ele relata, surpreso pela reação do artista.
Mesmo após a morte do muralista, em 1998, sua obra permanece viva e celebrada na cidade de diversas formas. Seja pelos mais de 40 murais em locais públicos espalhados na cidade, pelo acervo de obras no Museu Oscar Niemeyer, ou pelas releituras e homenagens — como é o caso da identidade visual da 75ª Reunião Anual da SBPC.
“É impressionante como o Poty não morreu. Em Curitiba ele não morreu”, reforça o professor.
O professor comenta que é um privilégio da cidade ter as obras de alguém como Poty como marca registrada da cidade. “É um traço forte, bem construído, indescritível e não dá para copiar”. Ao longo da vida, o artista trabalhou com uma variedade de materiais (madeira, vidro, cerâmica, azulejo, concreto) e diversas temáticas, que incluem cenas cotidianas e populares, e também imagens típicas do Paraná — como o pinheiro, os tropeiros e a gralha azul.
75 anos de uma sociedade científica
Não apenas um congresso, reunião ou evento, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é uma organização que existe desde 1948, e presenciou diversos momentos da história do país. Definida como uma “entidade civil, sem fins lucrativos ou posição político-partidária”, engloba mais de 170 sociedades científicas brasileiras na missão de contribuir para o desenvolvimento científico do país e promover a disseminação da ciência.
A UFPR foi palco de cinco reuniões anuais da organização, e este ano, sob o tema “Ciência e Democracia para um Brasil Justo e Desenvolvido”, a reunião é edição comemorativa dos 75 anos de existência, e resistência, da SBPC. Cada edição do evento possui sua identidade visual singular, que é criada especificamente para aquele ano e local.
Segundo Sarah Scholz, responsável pela identidade deste ano, a busca foi por uma representação tanto da SBPC quanto da universidade e de Curitiba.
“Durante o processo de criação, pensou-se em como poderiam ser relacionadas as identidades da UFPR, de Curitiba e do Paraná, e quais elementos poderiam ser utilizados para construir uma identidade que representasse esses protagonistas e contasse um pouco da história da região”, conta.
O mural “A História da Tecnologia”, que foi base para a criação, foi então digitalizado e transformado em um arquivo vetorial. “Dele, extraímos os ícones para composição do logo e utilizamos brushes (pincéis) que apresentam semelhança com as texturas de pintura do painel”, explica a designer.
O trabalho pode ser encontrado por todas as redes sociais da SBPC, além de estar presente em adesivos, flyers e banners durante o evento, em julho.