Bárbara Carine Soares Pinheiro fala sobre expectativas sobre a luta pelo espaço dentro das ciências e a importância do debate acerca do tema #AgenciaEscolaUFPR
Por Breno Antunes
Sob supervisão de Chirlei Kohls
Em comemoração ao Dia Internacional das Mulheres e Meninas nas Ciências, celebrado no dia 11 de fevereiro, começou com uma solenidade de abertura na manhã desta quinta-feira, às 8h30, o evento “Meninas nas Exatas: por elas para todos”, realizado pelo Setor de Ciências Exatas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A programação remota é composta por oficinas, palestras, gincanas, rodas de conversa, entre outras atividades, todas buscando valorizar o papel das mulheres nas ciências. As atividades assíncronas somente para as pessoas inscritas seguem até segunda-feira (15). Para saber mais sobre o evento, clique aqui.
Às 9h, aconteceu a palestra de abertura com Bárbara Carine Soares Pinheiro, professora de Química da Ufba (Universidade Federal da Bahia). Mulher, negra, cisgênero, nordestina, mãe, empresária e educadora, Bárbara falou sobre sua trajetória e vivência dentro da luta feminista e negra no campo acadêmico abordando a descolonização sob a perspectiva das cientistas negras nas Ciências Exatas e na Tecnologia.
Em entrevista para a Agência Escola UFPR, a professora falou sobre as suas expectativas sobre a luta pelo espaço dentro das ciências e a importância do debate acerca do tema. Confira:
Breno Antunes – Qual a importância desse debate sobre as pautas antirracista e feminista na ciência?
Bárbara Carine Soares Pinheiro – Eu acredito que a importância é incomensurável. É uma pauta muito cara para nós, mulheres negras, que tem que ser abordada a partir de uma perspectiva interseccional. A ciência é um espaço de poder, e como todos os outros espaços como esse, ela é brancocêntrica, cisgênero, heteronormativa, capacitista. Esse debate, das múltiplas opressões que cerceiam nossos direitos dentro da sociedade, também nos atravessa e atinge dentro do espaço científico. Logo, é um debate importante porque precisamos entender que a ciência é humana, e, portanto, ela sofre os reflexos das nossas humanidades.
Breno – Você acredita que existe um espaço maior para esse tipo de discussão nos últimos anos? O que você acredita que ainda precisa ser feito para vermos o cenário mudando nesse sentido?
Bárbara – A questão não é que existe um maior espaço para a discussão, como se quem tem a outorga do poder nos conferisse esse direito. Eu acredito que há uma luta secular em curso, em que diferentes mulheres se integraram a essas agendas. Algumas agendas se cruzam. Nós temos mulheres travestis, negras, brancas, em diversas perspectivas. Elas tiveram uma culminância, não como fim, mas como resultado dessa agenda, nesse processo de uma maior expansão do debate. Isso não significa que há uma escuta ou mudanças efetivas. Talvez a gente tenha mais voz, mas que talvez ela só ressoe dentre nós mesmas. Talvez a gente ainda esteja em um momento de autofortalecimento. No que eu vejo, há uma audiência muito pequena dos homens sobre essas temáticas, ou há uma infantilização dessas pautas. Ainda não me sinto confortável para falar em um lugar de vitória, já que temos muito para conquistar. Temos que quebrar barreiras, incomodar, conquistar aliados. Precisamos que os homens compreendam seu papel dentro dessa luta feminista e dessa luta antirracista.
Breno – Como você vê esse cenário mudando nos próximos anos?
Bárbara – Acredito que nos próximos anos vamos continuar enfrentando uma ofensiva conservadora. A legitimação dos sistemas de opressões se fortaleceram ainda mais. Entretanto, acho que ganhamos uma força no sentido de pensar essas estruturas a partir de uma ótima contra-hegemônica. A onda virtual gerada pela pandemia também proporcionou melhores redes, então temos melhores possibilidades de nos vincularmos a outros grupos. Eu, por exemplo, pude me aproximar de uma pauta anticapacitista, que era uma coisa que não estava tão próxima de mim, muito por conta das redes sociais. Nos próximos anos, vamos continuar nessas redes de articulação, tanto por meio de eventos como esse, que é um evento importantíssimo, quanto por meio de redes de autocuidado e de construção de agendas mais coletivas. Muitas pessoas estão aprendendo umas com as outras nesses processos de escuta, porque nossos lugares de fala são distintos. Quando escutamos o outro a partir de sua experiência de vida, as coisas se tornam mais fortalecedoras para o coletivo.
Breno – Quais iniciativas e ações estão sendo feitas que podem ajudar nessa luta?
Bárbara – Acho que as iniciativas e ações são diversas. Vemos mulheres criando coletivos nos espaços universitários, mas essas redes se criam em diversos espaços de poder para além da universidade, como nos sindicatos, partidos e quadros políticos. Nunca tivemos tantas candidatas mulheres negras para vereador na minha cidade como no ano passado (Salvador-BA). Eu tenho participado de muitos eventos, pessoas têm criado vários canais de podcast, solicitado entrevistas. O movimento está acontecendo e precisamos cada vez mais compreender o inimigo em comum que temos, que é o patriarcado, o racismo, o classismo, e nos unirmos diante desse enfrentamento.
Clique aqui e assista à palestra de abertura do Meninas nas Exatas