fbpx

Notícias

Em respostas para sociedade, cientistas reforçam necessidade de cuidados para evitar contaminação de coronavírus

Orientações ressaltadas são manter distância, usar máscara, lavar as mãos com frequência ou usar álcool em gel e só sair de casa se for necessário
#AgenciaEscolaUFPR

Por Chirlei Kohls

 

Ao explicar questões como a produção de anticorpos, os testes, o tratamento da Covid-19 e outras dúvidas da sociedade, cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) reforçam a necessidade dos cuidados para evitar a contaminação. Para isso, relembram as orientações de manter distância das pessoas de pelo menos 1,5 metro, usar máscara, lavar as mãos com frequência ou usar álcool em gel e só sair de casa se for necessário.

“Com essas regras simples, a probabilidade de contrair o novo coronavírus é muito baixa. Vacina eficiente é a forma de eliminarmos o perigo que esse vírus representa, mas isso vai levar, na mais otimista das hipóteses, um ano”, explicam os oito cientistas que responderam às perguntas da população.

As dúvidas da sociedade sobre o novo coronavírus integram a campanha “Pergunte aos Cientistas”, da Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica e Cultural da UFPR. Para participar, basta enviar a pergunta ao e-mail agenciaescolaufpr@gmail.com ou no direct do perfil @agenciaescolaufpr no Instagram, com nome completo, idade, profissão e cidade onde reside.

As explicações abaixo foram feitas pelas cientistas Edneia Cavalieri, Adriana Mercadante e Patricia Dalzoto, professoras do Departamento de Patologia Básica; Alexandra Acco e Juliana Geremias Chichorro, professoras do Departamento de Farmacologia, e Maria Carolina Stipp, doutoranda do mesmo departamento; e Juliana Bello Baron Maurer, professora do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular. Também participou o presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR, Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular. Confira abaixo:

Contaminação

“Quanto tempo pessoas não contaminadas poderão começar a produzir anticorpos à Covid-19 em função à exposição maciça do vírus inativado pela luz ultravioleta solar, limpezas e desinfecções, exposição a pequenas quantidades de vírus suficientes para sensibilizar o organismo, mas não adoecerem, gerando anticorpos naturalmente?” (Mario Vicente Troiano, 53 anos, engenheiro químico, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Mario! Esperamos que esteja bem. Até o momento não há evidência de que a imunização ocorra em pessoas não contaminadas. O desenvolvimento da imunidade a um patógeno através de uma infecção é um processo de várias etapas que geralmente ocorre ao longo de uma ou duas semanas. O corpo responde a uma infecção viral imediatamente com uma resposta inata inespecífica, na qual macrófagos, neutrófilos e células dendríticas retardam o progresso do vírus e podem até impedir que ele cause sintomas. Essa resposta inespecífica é seguida por uma resposta adaptativa, na qual o corpo produz anticorpos que se ligam especificamente ao vírus. Esses anticorpos são proteínas também chamadas de imunoglobulinas. O corpo também produz células T que reconhecem e eliminam outras células infectadas pelo vírus. Isso é chamado de imunidade celular. Essa resposta adaptativa combinada pode eliminar o vírus do corpo e, se a resposta for forte o suficiente, pode impedir a progressão para uma doença grave ou reinfecção pelo mesmo vírus. Esse processo é frequentemente medido pela presença de anticorpos no sangue. A maioria dos estudos que avaliaram pacientes que se recuperaram da Covid-19 mostra que os mesmos desenvolveram anticorpos contra o vírus apesar de alguns pacientes apresentarem níveis muito baixos de anticorpos no sangue. No entanto, ainda existem dúvidas sobre qual a duração dessa imunidade, bem como se pessoas que desenvolveram anticorpos estariam protegidas contra uma segunda infecção pelo vírus.
Voltando à sua pergunta, você sugere que as partículas virais inativadas, portanto incapazes de provocar doença, estariam entrando em contato com a população e induzindo imunidade. Infelizmente, como explicado acima não é assim que funciona. É necessário que o organismo entre em contato com uma certa dose do antígeno com sua estrutura correta durante um determinado período de tempo e com o tipo celular ou tecido correto. Em primeiro lugar, os produtos usados para desinfecção alteram a estrutura dos antígenos virais, tornando-os ineficientes. Em segundo lugar, as quantidades de antígenos virais contaminantes (superfícies e ar aventados) são muito baixas – se tiver vírus ativo pode provocar a doença, levando à multiplicação do vírus bilhões de vezes o que levaria à resposta imune. Finalmente, os antígenos teriam que entrar em contato com células que reconhecem antígenos e produzem anticorpos. Por isso desenvolver vacina não é trivial: precisamos identificar qual antígeno usar, quanto usar, como inocular no paciente e garantir a segurança, ou seja, que não desenvolva reação indesejada.

“Estou ciente da dificuldade em se determinar quem está contaminado com a Covid-19 visto que necessita identificar se nas células contêm o mapeamento genético, NDA/RDA, que caracteriza o vírus. Tem com identificar se a pessoa não tem nada? Se tivermos um procedimento/equipamento que separasse os não infectados, com precisão, poderíamos, além de economizar com os testes da Covid-19, ter uma forma de aliviar com o isolamento social” (Jeisel Medeiros Colaço, 49 anos, consultor em Informática, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Jesiel! A sua pergunta é ótima. Vamos falar um pouco dos exames antes de chegar nela. Há dois tipos de teste para a Covid-19. Um identifica a presença do material genético do vírus usando amostras biológicas das pessoas. O SARS-Cov-2 infecta principalmente células do trato respiratório. Assim, são coletadas secreções que contenham essas células ou as próprias células precisam ser raspadas para a obtenção do material genético do vírus. Essa amostra então é utilizada para extrair o RNA viral, que é utilizado numa reação chamada de RT-PCR (sigla em inglês de Transcrição Reversa seguida da Reação em Cadeia da Polimerase) utilizando vários reagentes e equipamentos específicos para essa técnica de biologia molecular. Embora essa reação seja muito sensível (detecta até 100 partículas virais), o resultado depende da fase de multiplicação do vírus no momento de coleta para que consigamos obter RNA suficiente dessas células para detectar no laboratório. Por vezes, dependendo da fase da doença, pode ser que não haja partículas virais suficientes, gerando um falso negativo. Falsos negativos também ocorrem quando as coletas são mal realizadas ou quando as amostras não são preservadas adequadamente – por exemplo, leva muito tempo para chegar ao laboratório e ficam em temperaturas inadequadas.
O segundo tipo de teste para Covid-19 visa detectar na corrente sanguínea a presença de anticorpos. Nesse caso, o paciente precisa ter entrado em contato com o vírus e seu organismo ter produzido anticorpos contra as partículas virais. Utilizando um pouco de sangue podemos testar a presença ou ausência desses anticorpos. Os testes imunológicos podem ser rápidos (resultados em 15 minutos), realizados com sangue de uma picada no dedo, ou teste Elisa, que usa soro. Esse também não é um teste completamente confiável, pois a produção de anticorpos varia nos indivíduos, seja pela taxa de exposição, seja o curso da doença em si, gerando também falsos negativos. Além disso, algumas pessoas não apresentam imunidade ao vírus, não produzindo anticorpos.
É importante também saber que estes testes têm diferentes indicações. O teste RT-PCR é o que dá diagnóstico definitivo, pois acusa a presença do vírus e dá positivo desde um ou dois dias após infecção, até sete a dias após aparecimento dos sintomas. Após esse período a carga viral (quantidade de vírus) reduz tornando mais difícil detectá-lo. Já o teste imunológico depende da resposta do organismo produzindo anticorpos, que demora alguns dias. Em geral dá positivo sete a dez dias após o aparecimento dos sintomas e continua positivo por meses – os cientistas ainda não sabem por quanto tempo os anticorpos continuam presentes, mas a maioria prevê que seria entre 12 e 36 meses.
Nenhuma das técnicas é perfeita e resultado negativo na presença de sintomas não elimina diagnóstico de Covid-19. A RT-PCR é a técnica mais sensível e eficaz que dispomos hoje. O único jeito de separar os grupos de infectados e não infectados como você sugere é por esses métodos citados acima, RT-PCR ou testes imunológicos. Você deve ter visto que em alguns lugares, como aeroportos, há verificação da temperatura das pessoas. Essa é uma forma de aplicar sua ideia: cerca de 70% dos pacientes com Covid-19 têm febre. Quem tem temperatura normal provavelmente não tem o vírus. Essa é uma forma rápida, barata e não invasiva de fazer a triagem de possíveis pacientes.
Mas o melhor é não se infectar: mantenha distância das pessoas de pelo menos 1,5 metro, use máscara e exija que todos usem máscara, lave as mãos com frequência ou use álcool em gel e só se aventure para fora de casa se for necessário. Com essas regras simples, a probabilidade de contrair o SARS-CoV-2 é muito baixa. Vacina eficiente é a forma de eliminarmos o perigo que esse vírus representa, mas isso vai levar, na mais otimista das hipóteses, um ano.

“Qual é o risco de contaminação na manipulação de atividades impressas entregues aos estudantes pelas escolas em período de isolamento social? Se uma pessoa infectada manipular os papéis impressos, o vírus fica no papel e pode infectar as crianças que vão receber o material?” (Luciana Kopsch, professora da rede municipal de ensino de Curitiba)
Cientistas UFPR – Olá, Luciana! Agradecemos sua participação. Com certeza todo o cuidado com nossas crianças deve ser tomado. Em relação à sua primeira pergunta a resposta seria risco baixo. Porém, se considerarmos que a manipulação seja feita por pessoas saudáveis sem a Covid-19 e com os cuidados das práticas de higiene recomendadas. Sobre a sua segunda pergunta, a resposta é sim. Porém, isso dependerá de fatores como carga viral (quantidade de vírus no material), tempo de sobrevivência do vírus no material e práticas de higiene adotadas para quem receberá o material. Num trabalho recente foi observado que o SARS-CoV-2 sobrevive até 30 minutos quando depositado em papel. Por isso é aconselhável um intervalo de tempo entre receber os papéis e o manuseio, se o material foi preparado em ambiente onde pode haver contaminação. Mas principalmente lavar as mãos e não tocar no rosto após manusear.
É importante reforçar que as principais formas de transmissão do coronavírus são por contato com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, e contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos. Destacamos que a principal forma de disseminação é de pessoa para pessoa, ou seja, a contaminação por contato. Por exemplo, qualquer pessoa que tenha contato próximo (cerca de um metro) de alguém contaminado está em risco de ser exposta à infecção.
Desta maneira, recomenda-se que a manipulação dos materiais seja feita com todos os cuidados possíveis com uso de máscaras, prévia higiene das mãos e limpeza geral, e, se for possível, cobrir com plástico para garantir a proteção e facilitar a limpeza quando o material for entregue. Além disso, recomenda-se orientar os alunos e pais sobre os cuidados de higiene que quando tomados adequadamente são a forma mais eficiente de evitar a contaminação, reforçando que deve ser evitado o contato com a boca, nariz ou olhos após contato com materiais não higienizados. Um panfleto educativo entregue junto ao material pode ser uma forma eficiente de orientação sobre os procedimentos adequados para manipular os materiais, para criar consciência de hábitos de higiene e de autocuidados.

“São muitas as informações relativas ao contágio e tratamento da Covid-19. Uma das dúvidas em relação ao tratamento foi abordada por um especialista, na TV, dizendo que o coronavírus não resiste à temperatura alta. Esse mesmo especialista disse que fazer sauna três vezes por semana faz com que o vírus seja morto e o paciente seja curado, pois com o ar quente respirado na sauna, o vírus enfraquece sua ação sobre o corpo da pessoa infectada. Essa informação tem fundamento?” (José Clovis da Silva, 59 anos, aeroportuário, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, José Clovis! Muitas informações estão chegando até nós e fica realmente difícil reconhecer o que é verdadeiro e o que não é. Por isso sua pergunta é muito importante. Certamente outras pessoas assistiram à esta entrevista e podem estar com a mesma dúvida. O novo coronavírus no ambiente, antes de entrar no nosso organismo, pode permanecer ativo em diferentes superfícies, como papel, plástico e metal, por algumas horas e até dias, conforme publicado na revista The New England Journal. Em um outro estudo, publicado na revista The Lancet, foram testadas diferentes temperaturas para verificar a viabilidade do vírus. Os autores concluíram que as partículas virais são altamente estáveis na temperatura de 4 graus, mas sensíveis à temperatura de 70 graus. Essa sensibilidade às altas temperaturas faz com que os vírus possam ser inativados quando usamos alguma técnica de esterilização por calor. Além disso, os vírus no ambiente podem ser eliminados com os desinfetantes comuns, como hipoclorito de sódio 0,1% e álcool 70%.
Quando os vírus entram em contato com nosso organismo, mais especificamente com as mucosas da boca, nariz e olhos, as proteínas das espículas do envelope viral se ligam aos receptores das nossas células. Essa ligação permite que os vírus se fundam com as células e liberem seu material genético (RNA) no interior delas. As células passam então a produzir cópias destes vírus, que, quando prontos, sairão destas células aptos a infectar as células adjacentes. Nossa temperatura corporal normal fica em torno de 36 a 37 graus e ela não varia conforme a temperatura do ambiente. Por exemplo, no inverno, quando a temperatura do ambiente está em torno de 5 graus, continuamos com a nossa temperatura de 36 graus – a mesma coisa no verão. Se estivermos em uma temperatura de 40 graus, também mantemos a temperatura corporal a 36 graus. Ou seja, a temperatura do nosso corpo e das nossas células não é alterada por interferências externas.
Respondendo à sua pergunta: quando os vírus estão no interior das nossas células, eles se encontram na temperatura de 36 graus. Mesmo se ingerirmos uma bebida muito quente ou nos expusermos ao vapor de uma sauna, cuja temperatura fica em torno de 45 graus, a nossa temperatura corporal continuará 36 graus, ou seja, isso não vai eliminar os vírus. Então vamos deixar claro: a notícia que você viu é falsa e não tem nenhum fundamento científico. Um estudo realizado na China, publicado no Journal of the American Medical Association (Jama), relatou a infecção por coronavírus em oito homens em uma sauna, localizada numa província a 700 quilômetros de Wuhan, onde a epidemia começou. Os pesquisadores discutem que não há como comprovar como eles foram contaminados, mas sugerem que eles podem ter tido contato com superfícies contaminadas, uma vez que os oito homens não se conheciam. Os autores concluíram, com este estudo, que o vírus permanece viável em altas temperaturas (45 graus) e em locais com alta umidade do ar. E podemos extrapolar e sugerir que o vapor quente da sauna não parece ter eliminado os vírus nestes indivíduos, pois eles desenvolveram a doença. Isso é um exemplo de um estudo com credibilidade científica. Veja que os autores não batem o martelo dizendo que os pacientes foram de fato infectados na sauna, mas as evidências indicam fortemente que essa possibilidade é a mais viável. Deste modo, a informação de que o vapor quente da sauna inativa os vírus e cura a Covid-19 não é verdadeira. Muitas fake news têm aparecido. Inclusive o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, numa entrevista, disse que como água sanitária mata o vírus talvez tomar um pouco fosse bom para evitar e curar a Covid-19. Por causa disso muita gente foi para hospital, porque tomou água sanitária e desinfetante nos Estados Unidos! Por favor, não tomem água sanitária ou qualquer desinfetante, porque são extremamente tóxicos!

“Imunoglobulina imuniza vírus? Como se explica o grau de letalidade do coronavírus? Como o organismo cria anticorpos?” (Renato Monteiro, 53 anos, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Renato! Suas perguntas são muito interessantes e permitem esclarecer alguns aspectos da resposta imune ao vírus e também explicar certos termos que estão se tornando cada vez mais populares nessa situação de pandemia. Vamos responder primeiro às suas dúvidas em relação às imunoglobulinas e geração de anticorpos. Imunoglobulinas são proteínas que, quando solúveis no plasma (parte líquida do sangue), são chamadas de anticorpos. Essas proteínas (moléculas) são produzidas por um tipo específico de glóbulos brancos, os linfócitos B. Quando um vírus, por exemplo, invade o nosso corpo, há uma resposta imune mais rápida e geral que já está pronta para agir ou que pode ser induzida rapidamente (em horas). Dependendo do vírus e da quantidade deste, essa primeira resposta é capaz de eliminar rapidamente o agente infeccioso de forma que os sintomas nem sejam apresentados. Entretanto, pode ser que essa resposta, por várias razões, não dê “conta do recado”. Aí outra resposta imune, dependente dos linfócitos B e T, é ativada. Essa resposta é mais elaborada e demora mais para ser formada. Os linfócitos B são capazes de produzir os anticorpos (imunoglobulinas) específicos para o agente infeccioso através de vários mecanismos celulares e moleculares que levam cerca de cinco a 14 dias. No caso dos vírus, esses anticorpos solúveis no sangue conseguem se ligar nesses organismos e podem ser capazes de neutralizá-los, ou seja, impedir que os vírus entrem nas células, condição fundamental para a sua multiplicação. Os anticorpos apresentam um tempo de duração no nosso corpo de até alguns meses. Entretanto, os linfócitos B produtores desse anticorpos específicos podem durar por muitos anos no nosso organismo e da próxima vez que o indivíduo entrar em contato com o mesmo vírus, a produção de anticorpos específicos ocorre de maneira bem mais rápida e mais potente. No caso da infecção com o novo coronavírus, por se tratar de vírus novo, ninguém tinha imunidade pronta, por isso todos somos suscetíveis a “pegar” a doença Covid-19. Os estudos indicam que muitos pacientes são capazes de produzir, através de seus linfócitos B, anticorpos neutralizantes, ou seja, anticorpos que não só se ligam ao vírus como também impedem que esses entrem nas células. E muito provavelmente os linfócitos B que produziram esses anticorpos, possam proteger os indivíduos de futuras infecções com o coronavírus. Por se tratar de um vírus novo, ainda não se conhece todos os detalhes das respostas imunes necessárias para eliminá-lo e nem por quanto tempo a pessoa fica imune. Essas questões estão sendo estudadas por vários grupos de pesquisa no mundo todo, inclusive para ajudar no planejamento de uma vacina. Quando tivermos vacina eficiente (capaz de induzir produção de anticorpos neutralizantes contra o coronavírus SARS-CoV-2) estaremos seguros contra a doença.
Em relação à sua pergunta sobre a letalidade do novo coronavírus, pode-se dizer que letalidade ou fatalidade ou ainda taxa de letalidade é calculada pelo número de óbitos por Covid-19 dividido pelo o número de pessoas que foram acometidas por tal doença multiplicado por 100. Esta relação indica o percentual de pessoas que morreram pela Covid-19. Ela varia de país para país, pois depende do número de casos confirmados e, portanto, de pessoas que foram testadas. Mas não temos uma boa explicação para essa taxa que atualmente no Brasil é de 7% (mas veja que há uma discussão na comunidade científica sobre a validade desse número pois nem todos os casos são testados e diagnosticados). Essa taxa não é considerada extremamente alta (a taxa de letalidade do vírus da raiva e ebola é de 99% e 65%, respectivamente), mas é maior que da gripe por H1N1. O que os cientistas já descobriram é que o vírus não ataca só o pulmão e vias respiratórias, mas é capaz de infectar outros tipos de células como a dos vasos sanguíneos, coração, fígado e rins. Isso faz com que a Covid-19 seja mais que uma doença respiratória e talvez por isso mais letal.

Prevenção

“O forno de micro-ondas tem o poder de matar as moléculas da Covid-19 por aquecer atritando as células de gordura nas quais está encapsulado o vírus? Se positivo, poderíamos fazer a assepsia rápida das máscaras, luvas e aventais inclusive descartáveis?” (Mauro Castro, advogado, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Mauro! Essa é uma boa pergunta. O forno de micro-ondas doméstico emite radiação eletromagnética com comprimento de cerca de 12 centímetros e frequência de 2.45 gigahertz (GHz). Essa frequência aumenta a movimentação de algumas moléculas como a da água e lipídios, aumentando a temperatura. A sua ideia seria expor o vírus e as moléculas que o compõem para inativá-lo. Um problema para colocar em prática a ideia é a presença de partes de metal na máscara, que podem emitir faíscas e iniciar incêndio. Portanto as partes de metal devem ser retiradas e nesse caso você provavelmente vai inutilizar a máscara. Mas se a máscara não tiver parte de metal, nós encontramos um grupo que de fato fez o experimento. Em resumo encontraram o seguinte:
– 140 segundos em forno de micro-ondas com 600W de potência inativa vírus de gripe, hepatite C, pólio e Aids. O coronavírus não foi testado, mas como é um vírus de RNA com alguma semelhança com o da gripe e Aids, é muito provável que seja completamente inativado nessas condições.
– A máscara N95 (com parte de metal removida) manteve suas características filtrantes após três minutos em micro-ondas.
Isso nos diz que forno de micro-ondas pode ser usado? Melhor não usar por três boas razões:
1) Se remover parte de metal, a máscara estará inutilizada.
2) As micro-ondas podem alterar quimicamente a máscara (dependendo dos materiais usados para manufatura) gerando substâncias tóxicas. Isso nao foi testado, mas notaram um cheiro não usual.
3) O uso de micro-ondas em material que não conhecemos bem pode iniciar incêndio.
Se você usar em máscara caseira de algodão, sem partes metálicas, provavelmente não haverá problemas, mas não recomendamos para uso em máscaras industriais. Mas a sua pergunta foi excelente!

“Posso colocar todos os pratos e copos usados por todos na lava-louças? Dou uma pré-enxaguada com solução de hipoclorito de sódio antes da lavagem com o detergente específico” (Mario Vicente Troiano, 53 anos, engenheiro químico, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Mario! Esperamos que esteja bem. Para lavagem dos utensílios domésticos você pode utilizar água e sabão neutro. Se preferir utilizar a lava-louças, seu procedimento está correto, pois a máquina utiliza água quente e sabão. Dê preferência a ciclos que alcancem 60 graus, pois o vírus perde sua viabilidade em altas temperaturas. Você pode ainda desinfetar os utensílios com solução clorada na pré-lavagem como você mencionou ou álcool 70%. Caso utilize solução clorada, os utensílios devem ser enxaguados em água corrente, e secados. Você pode fazer um ciclo adicional de enxágue. Neste período é importante não compartilhar louças e utensílios domésticos, especialmente se houver caso de coronavírus confirmado na sua residência – nesta situação os cuidados devem ser aumentados. Diante de casos positivos, o ideal é que os moradores da casa não entrem em contato com as superfícies potencialmente contaminadas, sendo indicado que o paciente portador da doença realize a limpeza e desinfecção desses ambientes utilizando luvas e máscaras. As louças e utensílios devem ser separados dos demais, e a lavagem e desinfecção devem ser realizadas de acordo com o recomendado acima. Para desinfetar, você pode utilizar 50 ml de água sanitária em um litro de água.

“O modelo de máscara PFF-2 com válvula protege do coronavírus? Quantas horas pode ser usada sem precisar trocar? E a máscara PFF-2 sem válvula protege também? Posso usar quanto tempo sem trocar? Podem ser limpadas com álcool? Ou imersas em água sanitária? Eu tenho 10 delas, mas somos todos aqui de casa do grupo de risco. Meu esposo tem sopro, minhas filhas, asma e eu tive trombose em 2017. Eu preciso doar essas máscaras aos hospitais? Queria saber se uso essas PFF-2 ou as caseiras que eu mesma fiz de tecido. Vocês me ajudaram quando me ensinaram como lavar verduras e limpar as compras. Leio tudo que vocês postam sobre máscaras caseiras, mas como tenho essas PFF-2 queria dar o melhor uso pra elas” (Eliane Américo, 38 anos, orientadora educacional, Valparaíso-GO)
Cientistas UFPR – Olá, Eliane! Ficamos contentes em saber que nossas respostas foram úteis para vocês. As máscaras PFF-2 são fabricadas de acordo com as Normas de Equipamentos de Proteção Respiratória da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e são capazes de reter cerca de 95% dos aerossóis e são equivalentes aos chamados respiradores N95. Esses equipamentos de proteção individual são fabricados de acordo com normas definidas e sujeitas também à controle de qualidade. As máscaras PFF-2 são as recomendadas para uso pelos profissionais da saúde que estão entrando em contato com pacientes com Covid-19 e portanto diretamente sujeitos à contaminação. Não há uma regra sobre quanto tempo usar essa máscara. O recomendado é observar se o material da máscara está intacto. Lembre-se que a própria máscara é o elemento filtrante, portanto qualquer dano resultará em filtração ineficiente.
O Center for Disease Control (CDC), dos Estados Unidos, recomenda uso por até oito horas das máscaras N95 (equivalentes à PFF-2) para proteção contra agentes biológicos quando utilizadas em ambiente hospitalar. Mas atenção, se for usar por menos tempo, é necessário tomar cuidado para não contaminar no processo de retirada. Como esse equipamento está em falta, o CDC fez estudos para uso estendido. Estes estudos mostraram que é seguro reutilizar a máscara até cinco vezes, mas com um detalhe: durante o uso a superfície externa pode ter sido contaminada. Por isso é recomendada uma rotação de máscaras de forma que depois de usar por oito horas a máscara deve ser deixada em ambiente seco por pelo menos 72 horas, que é tempo longo o suficiente para inativar o vírus. Nesse caso, a pessoa deveria ter um conjunto de máscaras. Mas atenção: nunca compartilhar máscaras com outra pessoa. Cada pessoa deve ter seu conjunto de máscaras.
Foram feitos estudos sobre métodos para descontaminar máscaras N95, mas isso é um pouco mais complicado. Foram testados métodos como vapor de peróxido de hidrogênio (não pode ser usado se for feita de celulose), calor úmido (60 a 70 graus, 85% de umidade relativa), calor seco (70 graus, 30 minutos), luz UV e radiação ionizantes, entre outros. Mas esses métodos não são disponíveis a não ser em laboratórios ou indústrias especializadas. Além disso, ainda não há consenso se esses métodos não alteram a capacidade filtrante das máscaras. O que é desaconselhável é submeter a máscara a tratamentos químicos com hipoclorito ou etanol, pois poderão alterar a capacidade filtrante.
Todas essas informações são para uso em ambiente potencialmente contaminado, que provavelmente não é o ambiente que vocês frequentam, de forma que é possível que possam usar mais vezes a máscara. Para reuso da máscara é importante observar o seguinte:
– Descarte a máscara se estiver suja, manchada com secreções nasais e/ou sangue.
– Descarte a mascará se teve contato próximo com pessoa sabidamente infectada.
– Entre os usos pendure a máscara por pelo menos 72 horas em ambiente limpo e seco. Se nesse ambiente forem mantidas máscaras de mais de uma pessoa, cuide para que não se toquem e que sejam adequadamente identificadas.
– Lave as mãos com sabonete e água ou desinfete com álcool 70% antes de manusear a máscara, seja para colocar ou retirar. Sempre manuseie-as pelo elástico.
– Verifique se a máscara ainda se ajusta perfeitamente à face e que aparenta estar intacta.
De fato esse tipo de máscara está fazendo falta nos hospitais que estão designados para receber pacientes com Covid-19. Não há nenhuma obrigação de doar aos hospitais as máscaras PFF-2 que vocês possuem. Por isso a decisão de doar a hospital fica para vocês.

“Queria perguntar sobre quem toma algum remédio de tratamento. Tenho problema de refluxo e esofagite. Preciso tomar cloreto de ranitidina. Isso interfere em relação de ficar, por exemplo, com imunidade baixa ou algo parecido para pegar o coronavírus? Ou não tem relação?” (Aline de Andrade Valente, 21 anos, estudante de Educação Física, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Aline! Agradecemos sua participação. O medicamento cloreto de ranitidina é um antagonista do receptor histamínico H2 (alta seletividade e rápido início de ação) que inibe a secreção basal e a secreção estimulada de ácido gástrico (diurna e noturna), reduzindo tanto o volume quanto o conteúdo de ácido e de pepsina da secreção. Inibe também a secreção de suco gástrico estimulada por alimentos, betazol, cafeína, insulina, pentagastrina e reflexo fisiológico vagal. É recomendado para tratamento de úlceras gástricas ou duodenais, tratamento da esofagite por refluxo gastroesofágico e suas manifestações associadas, e prevenção de úlceras causadas por estresse em pacientes graves. As informações acima têm a intenção de informar e não podem, de forma alguma, substituir as orientações de um profissional da área da saúde ou serem entendidas como recomendação para qualquer tipo de tratamento.
Em relação à sua pergunta, a resposta seria interferência muito baixa, considerando que de acordo com as informações relatadas na bula deste medicamento podem ocorrer algumas reações adversas raras (0,01% e 0,1% dos pacientes que utilizam este medicamento) ou muito raras (menos de 0,01% dos pacientes) relacionadas a alterações hematológicas, em geral reversíveis, como leucopenia, granulocitopenia e trombocitopenia. A leucopenia é definida como a diminuição do número de leucócitos, que são células do sistema imune que defendem o organismo contra invasores. Note que não é recomendada a suspensão do medicamento e qualquer modificação do tratamento deve ser avaliada pelo seu médico.
Então, recomendamos que fique em casa se for possível e que reforce os cuidados de higiene (uso correto de máscaras, lavar as mãos com água e sabão, e passar álcool gel) para evitar a contaminação e manter corpo e mente saudáveis. Procure ter uma alimentação balanceada com proteínas, vitaminas, fibras, por exemplo, e hidratação adequada para manter a saúde e o sistema imunológico. A prática de exercícios físicos regulares dentro de casa mesmo e terapias como meditação podem contribuir também para o fortalecimento e a diminuição do estresse que ajuda a imunidade, fundamental para manter a saúde mental nesse período de isolamento social. #fiqueemcasa #vaipassar

“Tenho sarcoidose pulmonar. Faço parte do grupo de risco para Covid-19?” (Willian Gonçalves do Nascimento, 46 anos, professor, Palotina-PR)
Cientistas UFPR – Willian, sua preocupação é muito pertinente, pois a sarcoidose pulmonar é uma doença que envolve disfunção imunológica e tratamento com fármacos imunossupressores, fatores que poderiam afetar a resposta do seu organismo caso tivesse contato com o SARS-CoV-2, o vírus da Covid-19. O conhecimento sobre a infecção por Covid-19 em pacientes com sarcoidose é atualmente escasso, mas alguns cientistas e médicos já estão estudando a interação entre essas duas doenças. Assim, a resposta para sua pergunta é “sim”. Um guia de recomendação para tratamento de sarcoidose, elaborado por médicos de vários países (Estados Unidos, Holanda, Alemanha, Japão, França, Itália e Bélgica), afirma que pacientes com sarcoidose podem ter mau prognóstico e risco aumentado de morte por Covid-19. Esta afirmação se baseia no fato de pacientes com sarcoidose:
a) já terem a função pulmonar alterada;
b) terem comprometimento na resposta imunológica;
c) poderem ter outras doenças associadas (diabetes, hipertensão etc.);
d) pela terapia imunossupressora usada na sarcoidose.
Este grupo de médicos enfatiza a importância de minimizar a dose da terapia imunossupressora, mas somente com avaliação médica. Seria importante você consultar seu médico para checar a necessidade ou não de ajuste da medicação, pois isto varia conforme o paciente e a prevalência local e regional do vírus.

“Pessoas com prolapso da válvula mitral podem ser consideradas de risco para Covid-19?” (Lisane Telles, 41 anos, psicóloga, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Lisane, sua preocupação é relevante, pois de fato pacientes com doenças cardiovasculares graves são considerados grupo de risco da Covid-19. Isso pode incluir doenças valvares cardíacas (regurgitação ou estenose valvar ou prolapso moderado a grave), aneurismas, deformidade severa do pectus (alteração do tórax devido a um crescimento anormal das cartilagens das costelas), insuficiência cardíaca, doença arterial coronariana, doenças cardíacas congênitas, cardiomiopatias e hipertensão pulmonar. Mas ainda não se sabe se prolapso leve de valva mitral é um risco para complicações na infecção pelo SARS-CoV-2. Para muitos pacientes com prolapso leve de valva mitral não há necessidade de tratamento e o indivíduo tem uma vida normal. Esperamos que este seja o seu caso. Mesmo assim duas considerações relacionadas com prolapso de mitral são importantes:
a) os fatores que influenciam a progressão da insuficiência mitral não são claros e, portanto, não há alvos terapêuticos para impedir sua progressão;
b) a relação entre o prolapso mitral leve e a Covid-19 ainda não está esclarecida.
Assim, é fundamental seguir as recomendações e cuidados da Organização Mundial de Saúde para evitar a infecção (lavar mãos, higiene pessoal, distanciamento social, uso de máscaras etc.), além de continuar com a terapia prescrita por seu médico, caso faça uso de medicamentos para o prolapso de mitral.

Confira outras perguntas da sociedade sobre coronavírus respondidas por cientistas da UFPR

Ida ao mercado, caminhada e imunidade: cientistas da UFPR respondem novas perguntas da sociedade sobre coronavírus

“É verdade que todos vão pegar coronavírus?”: cientistas da UFPR respondem novas perguntas da sociedade

“É um gesto de coletividade”: cientistas reforçam uso de máscaras em novas respostas para perguntas da sociedade

Cientistas orientam sobre efeitos colaterais e uso correto de álcool 70% em respostas para dúvidas da sociedade

Mais lidas

Sobre a Agência Escola UFPR

A Agência Escola UFPR, a AE, é um projeto criado pelo Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD) para conectar ciência e sociedade. Desde 2018, possui uma equipe multidisciplinar de diversas áreas, cursos e programas que colocam em prática a divulgação científica. Para apresentar aos nossos públicos as pesquisas da UFPR, produzimos conteúdos em vários formatos, como matérias, reportagens, podcasts, audiovisuais, eventos e muito mais.

No Instagram

Esta mensagem de erro é visível apenas para administradores do WordPress

Erro: nenhum feed encontrado.

Vá para a página de configurações do Instagram Feed para criar um feed.

Curta!