Por Artur Lira Foto: Luiz Fabiano | Prefeitura de Olinda Edição: Flávia Cé Steil e Priscila Murr
Em parceria com instituições de ensino do Paraná, o Núcleo de Arranjo em Pesquisa e Inovação em Emergências Climáticas (Napi-EC) atua diariamente na prevenção de desastres naturais
Com mais de dois milhões de casos prováveis de dengue em 2024, de acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil vive uma emergência de saúde pública em nove estados (RS, PR, AP, GO, SC, MG, ES, RJ, e SP) e no Distrito Federal. O Paraná está em 3º lugar em número de casos por habitante, segundo o último levantamento. Nesse contexto, regiões que antes não registravam muitas infecções, como o Sul do estado, começam a ter um aumento do número de casos. E essa alta também tem relação com as mudanças no clima.
De acordo com estudos realizados pelo Laboratório de Climatologia da Universidade Federal do Paraná (Laboclima- UFPR), “o aumento da temperatura ocasionado pela mudança climática está fazendo que o mosquito da dengue consiga chegar em mais áreas”, como explica Wilson Feltrim, professor coordenador do Laboclima, em entrevista para o programa Bom Dia Brasil.
Além de contribuir para a propagação de doenças, as mudanças climáticas têm levado ao aumento de desastres naturais. De acordo com a Confederação Nacional de Municípios (CNM), esses fenômenos já causaram mais de 400 bilhões de reais em prejuízos para o estado brasileiro nos últimos dez anos.
Coordenado pela UFPR e com financiamento da Fundação Araucária, o Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação em Emergência Climática (Napi-EC) reúne cerca de 50 pesquisadores de todo o Paraná para analisar e desenvolver soluções para combater as emergências climáticas. Os temas envolvem desde agricultura sustentável e preservação de espécies até a mitigação de calamidades nas cidades.
O projeto, iniciado em 2022, tem um orçamento de 3,2 milhões de reais e terá duração de 36 meses. Ele envolve nove instituições de ensino públicas e privadas e dois órgãos estaduais. Participam a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), a Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual do Centro Oeste do Paraná (Unicentro), a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a Universidade Estadual de Maringá (UEM), a Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), a Universidade do Oeste do Paraná (Unioeste) e a Universidade Estadual do Paraná (Unespar). Há, ainda, a colaboração do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (UDR-PR) e do Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar).
Esses cientistas atuam em áreas como: clima, biotecnologia, planejamento urbano, ciências florestais, saúde, educação, comunicação, agronomia e análise de dados. Também, seguindo as demandas atuais vinculadas ao desenvolvimento de uma sociedade sustentável, os pesquisadores do Napi-EC estão atentos às propostas de crédito de carbono, mensuração da poluição, conscientização e medidas para mitigação das mudanças no clima.
“A mudança climática e a emergência climática colocaram a sociedade contra a parede e para sair desse lugar é preciso de conhecimento, ciência e aplicação. O Napi em Emergência Climática visa contribuir com isso e levar o conhecimento à população para fazer enfrentamento às mudanças climáticas”, explica o coordenador do Napi-EC, Francisco Mendonça.
As pesquisas são divididas em cinco eixos temáticos:
1) Diagnóstico de particularidades das mudanças climáticas no estado do Paraná;
2) Impactos das mudanças climáticas na biodiversidade e nas bases ecológicas do território paranaense;
3) Mitigação das emissões dos gases de efeito estufa e poluentes climáticos de vida curta no estado do Paraná;
4) Adaptabilidade e resiliência humana às mudanças climáticas: avaliação de riscos e vulnerabilidades;
5) Ações e perspectivas educacionais no processo de sensibilização e conscientização para o enfrentamento das emergências climáticas no Paraná.
Como medir as mudanças
Entre as pesquisas desenvolvidas pelo projeto, está a de Leila Limberger, docente do Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras da Unioeste. A cientista estuda, calcula e a organiza índices o Paraná.
“O projeto de detecção de mudanças climáticas é fundamental para o Napi-EC, porque a partir dele será possível fazer o mapeamento dos principais efeitos das mudanças climáticas no estado no que se refere à temperatura e ao padrão das chuvas. Assim, será possível verificar o quanto e onde o clima está mudando com mais intensidade”, conta.
O projeto acompanha 27 indicadores, que avaliam intensidade e frequência de chuvas, padrões de temperatura (máxima e mínima), além de conjuntos (grades) de dados de todo o estado entre 1979 e 2022. Essas medidas são, por exemplo, o número de dias nos quais a temperatura ficou abaixo de 2°C ou em que passou de 30ºC, bem como os parâmetros que avaliam a quantidade de precipitações.
“Assim, tanto os pesquisadores do Napi quanto o governo do Estado terão parâmetros reais para as tomadas de decisão”, explica a pesquisadora.
Leila explica, ainda, que os impactos das mudanças climáticas no estado do Paraná durarão até o inverno de 2024, tendo impacto sobre a distribuição de chuvas. A professora ressalta que ainda há imprecisão para a aferição das questões meteorológicas mencionadas.
Em 2023, houve uma série de inundações causadas pela extensa sequência de chuvas que afetou o estado. Os registros de alagamentos atingiram quase 60 mil pessoas, distribuídas em diversas regiões, de acordo com a Defesa Civil.
“Do ponto de vista da saúde humana, quando acontecem as inundações pelo fato da água se espraiar para tantos lugares que têm patógenos variados, nós vamos ver que associados a elas há uma explosão, normalmente, de casos de leptospirose, de doenças transmissíveis como a cólera e a dengue. Além disso, há também todo um contexto de impactos psicológicos nas pessoas que perdem suas bases materiais de vida”, argumenta Feltrim, coordenador do Napi-EC.
Diálogo com o governo
No mês de abril, em reunião com representantes da Secretaria Estadual da Ciência Tecnologia e Ensino Superior (SETI/PR), Secretaria Estadual do Estado do Paraná (SEED/PR), Instituto Água e Terra (IAT), Ministério Público e Coordenadoria Estadual da Defesa Civil, a professora Irene Carniato, coordenadora do Eixo de Educação Ambiental e Comunicação do Napi-EC, discutiu a criação de um selo de sustentabilidade e melhores práticas para os municípios paranaenses. Além disso, foi levantada também a necessidade de implementar políticas de educação ambiental no estado.
Pesquisas Napi-EC
Em relação aos aspectos sociais, o pesquisador de Desenvolvimento Rural Sustentável, Odacir Ferreira, explica a necessidade de integrar o conhecimento popular dos agricultores com o conhecimento técnico-científico concebido pela Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) para construção de soluções e avanços no cultivo brasileiro.
“Existe a necessidade do agente da Ater ter mais proximidade, acompanhar as atividades dos agricultores, individualmente ou em grupos pequenos, envolvendo agricultores que moram próximos. Espera-se também que a Ater trabalhe junto da população jovem”, comenta. “Assim, os jovens já passam por uma formação e podem servir como multiplicadores dos novos conhecimentos sobre agricultura”.
Indispensável para a agricultura, a conservação das águas também é etapa do processo de reflorestamento, como explica o professor de Ecologia da UTFPR e integrante do Napi-EC, Álvaro Boson.
“Dentro desse contexto, os reflorestamentos vão desenvolvendo os seus serviços ambientais, os imóveis rurais vão sendo adequados, há a necessidade de se fazer monitoramento e controle dessas áreas”, enfatiza.
Divulgação científica
A Agência Escola UFPR (AE) é parceira do Napi-EC com a finalidade de informar a sociedade sobre os estudos que estão sendo realizados, seus resultados e o envolvimento dos temas na vida das pessoas, de maneira prática.
“A parceria com o Napi em Emergências Climáticas é imprescindível porque vai ao encontro do objetivo da Agência Escola, que é divulgar e popularizar a ciência a partir de grandes redes de pesquisa e de grandes arranjos de produção de conhecimento científico”, explica Regiane Ribeiro, coordenadora geral da AE.
Para saber mais sobre o projeto acompanhe as notícias da Agência Escola no nosso portal.