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Pesquisa aponta que alerta de desastres via SMS em Curitiba é ineficaz

Por Alana Morzelli  

Supervisão: Maíra Gioia 

 

Levantamento mostra que apenas quatro mil celulares estão cadastrados nas regiões onde ficam 57 mil domicílios em áreas com risco de deslizamento, inundação e alagamento

 

Você conhece o sistema de alerta para desastres de Curitiba? Atualmente, para receber os alertas da Defesa Civil sobre riscos iminentes diretamente no seu celular, basta enviar uma mensagem para o número 40199 e informar o CEP (Código de Endereçamento Postal) da área de interesse. Mas será que a ferramenta é realmente eficaz e evita que as pessoas permaneçam em áreas de riscos durante temporais? Quem responde à pergunta é a professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Luciene Pimentel, que integra o Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana e também o Napi (Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação) Paraná Faz Ciência. Junto com o doutorando Murilo Noli da Fonseca, a pesquisadora desenvolveu um estudo que aferiu a percepção pública sobre o sistema de alerta. O resultado apontou que, na capital paranaense, o sistema é frágil quando comparado com outras regiões. 

 

O levantamento envolveu a identificação espacial dos CEPs registrados por indivíduos e a comparação com regiões consideradas de riscos socioambientais. A partir desses dados, os pesquisadores puderam apontar a necessidade de repensar e aprimorar o atual processo de emissão de alertas de desastres com base em códigos postais. Isso porque apenas quatro mil celulares estão cadastrados nas regiões onde ficam 57 mil domicílios em áreas com risco de deslizamento, inundação e alagamento. Os dados usados na pesquisa são de 2019.

 

Distribuição espacial dos celulares castrados para receber alerta via SMS. Gráfico criado por Luciene Pimentel, Murilo Noi da Fonseca e Carlos Mello Garcias.

 

 

Gráfico 2- Densidade de pessoas cadastradas para receber alerta de desastre. Gráfico criado por Luciene Pimentel, Murilo Noi da Fonseca e Carlos Mello Garcias.

 

 

Como a pesquisa foi feita

Até o momento, as notificações de alerta são enviadas apenas via SMS. Foram realizadas cerca de mil entrevistas em várias comunidades vulneráveis, revelando que muitas pessoas não estão cientes do sistema de alerta, e a maioria dos CEPs cadastrados não pertence a áreas de perigo. Os dados mostraram que muitas pessoas em comunidades ameaçadas não recebem essas mensagens de alerta devido a barreiras como a falta de alfabetização e a inexistência de um CEP em suas residências, como é o caso de moradores de ocupações ou comunidades.

 

“Isso é o que a gente considera uma grande injustiça social e uma injustiça climática, porque a pessoa que mais precisa ser avisada não pode, pois o sistema, pela forma como ele se dá e discute, exclui todas as pessoas que não têm CEP. Então, elas não podem se registrar, ainda que saibam que existe”, afirma Luciene Pimentel. 

 

Em outros estados como o Rio de Janeiro, os sistemas de alerta possuem mais estrutura, tal qual sirenes e maior contato com a Defesa Civil, que orienta previamente os moradores da região de risco sobre as rotas de fuga seguras e os locais de abrigo. Assim, a pesquisa sugere a necessidade de melhorar a comunicação da Defesa Civil e a eficácia dos sistemas de alerta, destacando que, normalmente, as mensagens são difíceis de entender e que um sistema mais inclusivo e abrangente deve ser desenvolvido.  

 

“Como as mensagens seguem um padrão, às vezes elas instruem as pessoas a irem para um local seguro ou para um ponto de encontro. Mas veja, essas comunidades não foram previamente sensibilizadas, não foram capacitadas”, explica Pimentel.  

 

São usadas palavras de difícil compreensão para pessoas pouco letradas, e completamente incompreensíveis para pessoas não alfabetizadas. Inclusive, durante a pesquisa, a professora afirma que algumas pessoas mencionaram que prefeririam não receber essa mensagem porque, como elas não sabem ler, ficariam muito nervosas sem saber o que está acontecendo.  

 

O outro lado

A Defesa Civil está desenvolvendo um novo sistema no qual não será mais necessário se cadastrar. O novo alerta vai localizar os celulares que estão em áreas de risco e enviar uma mensagem automaticamente. Essa mensagem será disparada pelo WhatsApp e poderá ser enviada por SMS. Segundo os pesquisadores, essa mudança é necessária não somente para alcançar pessoas em situação de risco, mas também para adaptar a linguagem e torná-la mais compreensível, fazendo com que todos tenham acesso a informações que podem salvar vidas em caso de desastre. 

 

Histórico

No Brasil, a emissão de mensagens de alerta via Short Message Service (SMS) foi implantada em 2017 e, atualmente, tem cobertura em todos os estados. Trata-se de um serviço prestado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), que identifica o risco de processos geodinâmicos e hidrológicos e envia alerta ao Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cenad). Este, por sua vez, repassa a mensagem aos órgãos estadual e municipal de proteção e Defesa Civil.

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