Fichas informativas levam conhecimento técnico sobre projeto desenvolvido pelo Lageamb de forma acessível a todos os públicos
Priscila Murr | Agência Escola UFPR
Para além da estética, o design é uma forma de mediação. Quando aplicado ao desenvolvimento de material informativo, torna-se uma alternativa capaz de aproximar a ciência da sociedade, oferecendo conteúdo verbal e visual de maneira clara e acessível, além de efetivar a transparência na comunicação de dados. Isso acontece, por exemplo, no contexto de elaboração do Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), pelo projeto Periferia Sem Risco, para os municípios de Colombo (PR) e Paranaguá (PR).
Elaborado pelo Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Lageamb), da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em parceria com as prefeituras das localidades e o Governo Federal, por meio da Secretaria Nacional de Periferias, do Ministério das Cidades, o projeto mapeou riscos e propôs medidas estruturais e não estruturais para ambas as cidades, segundo suas particularidades. Com duração de 18 meses (abril/2024 a outubro/2025), os resultados da iniciativa geraram relatórios que, além de numerosos, congregam muita informação técnica. Isso tornou essencial o uso do design na divulgação.
Por isso, segundo uma das coordenadoras do PMRR, Fernanda Sezerino, a idealização de fichas por localidade, que sistematizam e resumem dados de relatórios técnicos, que têm mais de 500 páginas, garante que a divulgação científica cumpra seu papel de democratização do conhecimento. “Ter designers acompanhando todo o processo final do projeto, para construir, em conjunto, essas fichas das localidades, foi fundamental, pois debatemos as questões técnicas do mapeamento dos riscos junto com as boas práticas e estratégias do design, até encontrar a forma ideal de apresentar essas informações“, aponta a coordenadora.

Acompanhando esse processo, o designer Luan Alves de Melo, e a bolsista de graduação em Design Gráfico, Paloma Machado Martin, falam da experiência de elaboração das fichas, apontando para o design como ferramenta de divulgação científica. Paloma lembra que, conforme o próprio senso comum, existe uma ideia de que o design seja algo muito mais ao embelezamento do que à aproximação com o leitor. “Eu sinto que existe uma visão, de forma meio leiga, na nossa sociedade, de que o design é algo muito visual, usado para fazer marcas e logotipos, pra deixar ‘bonito’. Não se fala tanto no design como ferramenta, como forma de traduzir uma informação trabalhando com o verbal, com o visual e com o gráfico. E eu acho que esse caráter social do design é uma das partes mais legais da profissão“.
Esse caráter social é revelado na sua capacidade de promover a democratização do conhecimento e fortalecer a cidadania. No caso das fichas informativas, o design deixa de ser apenas estético para se tornar um processo de mediação entre a linguagem técnica e a vida cotidiana das comunidades. Ao traduzir relatórios extensos em materiais claros, objetivos e visualmente acessíveis, possibilita que moradores de áreas de risco compreendessem informações essenciais para sua realidade, estimulando participação social, tomada de decisão informada e aproximação entre universidade, governo e sociedade.
Luan fala do processo, junto aos demais membros do Lageamb, para reorganizar a grande quantidade de material disponibilizado e, na sequência, oferecer ao público um panorama direto sobre a realidade das comunidades envolvidas no projeto, por meio das fichas. “Pensando principalmente na diagramação, que é parte do layout no design, buscamos um material que fosse visualmente agradável, que não cansasse durante a leitura e que pudesse apresentar as informações da forma mais clara. A gente pensou principalmente na leitura, como e quais informações deveriam aparecer primeiro para quem fosse ler, porque o material é um folder, na verdade, então pensamos nesse caminho, nessa trajetória que o que o leitor iria ter“.
Segundo a representante do Eixo de Comunicação e Participação Social do projeto, Ana Paula Nascimento, a equipe optou por ‘traduzir’ o conteúdo, a partir de recursos visuais, partindo da ideia de comunicação como ‘troca’. “Assim, a população que vive em áreas de risco pode compreender com maior clareza informações que são fundamentais para o seu dia a dia. Essa aproximação torna a comunicação mais efetiva e gera impactos sociais mais significativos, pois coloca o conhecimento ao alcance de quem realmente precisa dele. E esse trabalho só foi possível graças a equipe da Agência Escola UFPR, através do Luan e da Paloma, que souberam transformar o técnico em algo vivo e próximo das pessoas”.

Durante as audiências públicas, que aconteceram em outubro de 2025, no 17º mês de projeto, as fichas cumpriram seu papel de material de apoio, pois, enquanto a equipe apresentava os resultados gerais do PMRR, tanto em Colombo quanto em Paranaguá, participantes e moradores puderam ter acesso a informações detalhadas. “Esse material, direcionado para os moradores de cada localidade, certamente tem muito mais impacto do que reportagens e outras estratégias de comunicação para a população em geral. Foram mapeadas 16 localidades em Colombo e 43 localidades em Paranaguá. Ter um material informativo individualizado para cada localidade, pensado para os moradores locais, consegue trazer informações detalhadas sobre cada área”, garante Fernanda.
A ideia era que esse material fosse disponibilizado nos formatos impresso e digital, permitindo que a população tivesse um panorama rápido do que foi abordado na localidade em que vive. Isso demonstra que o design é mais do que um recurso estético, ele se consolida como um tradutor de informações: um meio de transformar linguagem técnica em conteúdo acessível, visualmente claro e socialmente relevante. Ao organizar dados complexos em formatos compreensíveis, o design fortalece a divulgação científica, amplia o alcance do conhecimento e aproxima a ciência do dia a dia das pessoas.