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Dia do Meio Ambiente: pesquisa em andamento na UFPR revela correlação entre alta de poluição e aumento de internamentos em Curitiba

Estudo apresentado por integrantes do NAPI-EC na Europa aponta que efeitos da poluição do ar podem impactar a saúde da população com até um mês de atraso

 

Por Romão Matheus Neto

Foto: Prefeitura de Curitiba  

Supervisão: Maíra Gioia

 

Em setembro de 2024, o Brasil e países vizinhos amanheceram cobertos por uma densa camada de fumaça. O céu acinzentado era resultado de um número recorde de queimadas, especialmente na região amazônica. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), quase 60% do território nacional foi atingido pela fumaça.

Motivados por esse cenário alarmante, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e integrantes do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação em Emergência Climática (NAPI-EC) deram início a uma investigação que busca compreender a relação entre mudanças climáticas, poluição do ar e internações hospitalares no município de Curitiba. A pesquisa, ainda em andamento, foi recentemente apresentada no congresso científico da European Geosciences Union 2025, em Viena, na Áustria.

O trabalho é assinado por Ana Flávia Godoi e Ricardo H. M. Godoi, professores do Departamento de Engenharia Ambiental, Camila Carpenedo, professora do Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, e Felipe Baglioli, doutorando em Engenharia Ambiental, e traz uma reflexão para o Dia Mundial do Meio Ambiente (5/6). 

 

“Estamos em um mundo em que a temperatura média da superfície aumenta cada vez mais, enquanto a frequência e intensidade dos eventos extremos também aumentam. Portanto, temos um impacto duplo das mudanças climáticas”, explica Felipe, um dos coautores do estudo. 

 

A proposta é compreender como esse cenário climático impacta diretamente a saúde da população. Para isso, a equipe multidisciplinar reuniu dados de três fontes principais. A primeira é uma estação meteorológica do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) localizada no Campus Jardim Botânico da UFPR, com uma série histórica de 1961 a 2024. Ela revelou o aumento progressivo da temperatura média e da frequência de ondas de calor. A segunda base se refere à poluição do ar, com dados coletados por sensores de material particulado em Curitiba desde 2020 no mesmo campus. Já a terceira reúne informações sobre internações hospitalares da capital paranaense, obtidas no sistema Datasus, também a partir de 2020.

 

A análise combina métodos de detecção e atribuição, que permitem separar os eventos causados por variabilidade natural daqueles induzidos pela atividade humana.

 

“Calculamos a temperatura de referência em percentil 95. Quando esse valor é ultrapassado por vários dias seguidos, temos a ocorrência de uma onda de calor. Depois, rodamos modelos que simulam o mundo com e sem intervenção humana, para entender o quanto cada evento extremo é influenciado pelas nossas ações”, explica Felipe.

 

A mesma abordagem foi aplicada  aos dados de poluição, com base nas diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) para concentração de partículas finas de poeira, como PM10 e PM2,5. Presentes na fumaça, neblina e no ar em geral, essas partículas podem ser visíveis ou microscópicas. Quando inaladas, entram no organismo e podem causar desde irritações respiratórias até, a longo prazo, doenças cardíacas e insuficiência pulmonar. A análise estatística preliminar da pesquisa aponta uma correlação positiva entre os picos de poluição e o aumento de internações hospitalares com um atraso de aproximadamente um mês. Segundo os dados, os efeitos mais graves se manifestam semanas após a exposição, gerando implicações diretas para a gestão de políticas públicas.

 

“Esse padrão nos mostra que podemos ter um impacto sinérgico entre a poluição e as ondas de calor. Uma pessoa fragilizada por uma onda de calor pode, duas semanas depois, ser exposta a um pico de poluição e sofrer um agravamento de seu estado de saúde”, alerta o pesquisador.

 

A pesquisa ganha relevância especial no contexto do Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado em 5 de junho. A data convida à reflexão sobre os impactos da ação humana no planeta e reforça a importância de estudos que articulam ciência e saúde pública diante da emergência climática. Como próximos passos, o grupo pretende expandir a análise para uma base diária de dados, aprofundando o cruzamento entre os picos de poluição e os números de internação. A equipe também avalia a criação de um sistema de alerta precoce, em parceria com a Defesa Civil, para informar a população por SMS sobre riscos de exposição a poluentes em períodos de calor extremo. Outra frente de trabalho será o uso de redes neurais e aprendizado de máquina para aprimorar os modelos de correlação entre as variáveis.

 

“As redes neurais não serão utilizadas apenas como modelo preditivo, mas também para compreender de forma mais descritiva as correlações entre os conjuntos de dados estudados”, explica o doutorando.

 

Foto de destaque: Daniel Castellano/SMCS/Arquivo

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