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Chá da vida, alagamentos, fascismo: população traz dúvidas sobre as mais diversas áreas da ciência e pesquisadores da UFPR respondem

Imagem mostra pontos de interrogação em papéis coloridos.

Nesta edição do Pergunte aos Cientistas, as questões vêm de uma ação presencial realizada pela equipe da #AgênciaEscolaUFPR no bairro Parolin, em Curitiba, e também das nossas redes sociais.

Por Leticia Negrello Barbosa
Sob supervisão de Chirlei Kohls
Edição de Patricia Melo e Rafaela Moura

No dia a dia, nas comunidades, na rua – a ciência vai muito além dos muros da universidade. Essa é a proposta que fez surgir o “Pergunte aos Cientistas”, da Agência Escola UFPR. Com 30 edições desde 2020, o projeto testou algo novo: o tema da vez foi livre, e as perguntas levantadas pela população variaram desde o uso de plantas medicinais, mudanças climáticas, sistemas políticos, entre outros assuntos.

Com o objetivo de sair da bolha digital e sempre ouvir demandas diferentes, nossa equipe já levou o Pergunte aos Cientistas a escolas e às ruas do centro de Curitiba. E desta vez, não foi diferente. Uma parceria com pesquisadores de Medicina Veterinária da UFPR voluntários em um projeto da ABASC (Associação Batista de Ação Social) nos levou até as associações de reciclagem do Parolin, bairro de Curitiba.

Perseverança, ensino e transformação são as palavras que formam a sigla do projeto PET, uma das várias frentes que a associação possui de suporte à população mais vulnerável do Parolin. Cassiana Dahlke Machado, mestranda da UFPR e voluntária que nos acompanhou na visita, explica que o projeto trabalha com atendimento voluntário aos animais da comunidade, eventos de adoção e escola profissionalizante de banho e tosa.

Imagens mostram a equipe do Núcleo de Jornalismo da Agência Escola no bairro Parolin, em Curitiba.
Legenda: Equipe do Núcleo de Jornalismo da Agência Escola UFPR em visita ao bairro Parolin, na ação do Pergunte aos Cientistas. | Imagens por Joana Oliveira e Leticia Negrello.

Além do voluntariado, a pesquisadora trabalha seu projeto de mestrado com o cuidado e a orientação sobre zoonoses na região, como a leptospirose. “A ideia é visitar os recicladores, as associações, conhecer a parte do dia a dia deles, e fazer alguns exames para verificar as zoonoses, através de coleta de sangue das pessoas e dos seus animais.”

Nesta edição do Pergunte aos Cientistas, além das perguntas tradicionalmente enviadas pelas nossas redes sociais, trazemos questões que vieram de diálogos com moradores do Parolin e trabalhadores das associações de reciclagem. Leia a matéria completa para conferir todas as perguntas e respectivas respostas.

Quem responde são os seguintes cientistas da UFPR:
Sabrina Stefanello: médica psiquiatra e professora do Departamento de Saúde Coletiva
Patricia Dalzoto: professora do Departamento de Patologia Básica
Wilson Flavio Feltrim Roseghini: professor do Departamento de Geografia e coordenador do LABOCLIMA
Claudia Regina Baukat Silveira Moreira: professora do Programa de Pós-Graduação em Educação
Cleverson Renan da Cunha: professor do Departamento de Administração
Alexandra Acco: professora do Departamento de Farmacologia
Rafael Sampaio: professor do Departamento de Ciência Política
Nelson Rosário de Souza: professor do Departamento de Ciência Política
Renato Lima: professor Departamento de Geologia e diretor do Centro de Apoio Científico em Desastres (CENACID)
Ana Sofia Clímaco Monteiro de Oliveira: professora do Departamento de Engenharia Mecânica e coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento da Ciência e Tecnologia
Maria Cristina Borba Braga: professora do Departamento de Hidráulica e Saneamento
Fabiane Andrade Mulinari Brenner:  professora de Dermatologia
Daniela de Almeida Cabrini: professora do Departamento de Farmacologia

Saúde

 “O que pode acontecer com uma pessoa que não tem depressão e tomar antidepressivo? Quais são as consequências? (Telma Grossman, 44 anos, Técnica em Contabilidade, Campo Largo – PR)
Sabrina Stefanello, cientista UFPR – Vamos por partes. Os medicamentos conhecidos como antidepressivos são de vários tipos, mesmo pensando em classes diferentes e que possuem ação antidepressiva, o que poderá acontecer é a pessoa ter os efeitos adversos a depender do tipo de medicamento que estiver tomando. Esses efeitos costumam estar descritos na bula do medicamento. Eu reforçaria que não é recomendado tomar medicamentos sem acompanhamento e sem possuir um quadro grave de depressão, além de atenção a possíveis efeitos indesejados, que podem interagir com outros medicamentos que porventura a pessoa pode estar usando.

Existem medicamentos caseiros que funcionam?(Esmeralda Silva, Andreia Ribeiro, Rosilda Magari e Raíssa da Silva, Eco Reciclagem Ambiental, Parolin, Curitiba – PR)
Alexandra Acco, cientista UFPR – Olá! Sim, há muitos medicamentos caseiros que funcionam contra várias doenças, a exemplo de chás (infusão ou decocção) e outros preparados de plantas (extratos). O conhecimento popular da ação de remédios caseiros é muitas vezes a base de estudos feitos por cientistas para comprovar (ou não) a existência de efeitos terapêuticos de plantas ou minerais. Este tipo de pesquisa, que leva em conta o conhecimento da população sobre remédios, faz parte do que se chama etnofarmacologia. O interesse pelos efeitos terapêuticos de compostos naturais, como as plantas, existe há milênios, e desde 2009 é incentivado pela Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (RENISUS), um programa com uma lista contendo 71 plantas com potencial de gerar produtos úteis para o Sistema Único de Saúde (SUS). Este programa conta com a parceria de grupos constituídos por pesquisadores, pós-graduandos e graduandos, com conhecimento na área de plantas medicinais, de Instituições de Ensino das diversas regiões do país. Dentre estas plantas estão espinheira-santa, hortelã, guaco e unha-de-gato. A espinheira-santa foi bastante estudada e conclui-se que possui grande potencial para tratar gastrite e úlcera gástrica, por ter efeito antiácido e protetor do estômago.
Muitos medicamentos hoje comercializados tiveram sua origem em plantas, como a aspirina (da árvore salgueiro), a morfina (da papoula), e os taxanos (da árvore taxol) que são medicamentos usados na terapia de câncer. Estes compostos foram exaustivamente estudados por pesquisadores, e então passaram a ser comercializados por indústrias farmacêuticas. Vale destacar, no entanto, que além das plantas possuírem compostos com ação terapêutica, podem ter compostos tóxicos, o que exige cautela na sua utilização. Essa questão fortalece a necessidade de estudos científicos envolvendo plantas usadas popularmente.

O que melhora a queda de cabelo pós-covid?(Esmeralda Silva, Andreia Ribeiro, Rosilda Magari e Raíssa da Silva, Eco Reciclagem Ambiental, Parolin, Curitiba – PR)
Fabiane Andrade, cientista UFPR –  Ela melhora espontaneamente na maioria dos casos. A infecção altera o ciclo capilar, fazendo um aumento da queda durante três meses após a doença. Esta queda volta ao normal três meses depois. Se persistir, procure um dermatologista.

O que melhora a coceira no pé (bolinha d’água)?(Esmeralda Silva, Andreia Ribeiro, Rosilda Magari e Raíssa da Silva, Eco Reciclagem Ambiental, Parolin, Curitiba – PR)
Fabiane Andrade, cientista UFPR –  As bolinhas de água com coceira nos pés podem ser sinal de infecção por fungos. Manter o pé seco, usar meias de algodão e calçados abertos pode ajudar. Se não houver melhora, procure um dermatologista para exame e tratamento adequados.

 “O chá da vida faz mesmo bem para diabete e pressão alta?(Esmeralda Silva, Andreia Ribeiro, Rosilda Magari e Raíssa da Silva, Eco Reciclagem Ambiental, Parolin, Curitiba – PR)
Daniela de Almeida Cabrini, cientista UFPR – O Chá da Vida é composto das seguintes ervas naturais: Insulina vegetal, Pata-de-Vaca, Pau-Ferro, Pau-Tenente, Graviola, Cana-do-Brejo e Berinjela. Até hoje não há nenhum estudo que comprove o efeito benéfico deste chá (mistura) para a melhora do diabetes e da pressão alta. O uso de algumas destas plantas como pata-de-vaca (Bauhinia forficata) e insulina vegetal (Cissus verticillata) são muito descritos pela medicina popular, mas sem nenhuma evidência científica de que realmente funcionam para o tratamento do diabetes. Aproveito para afirmar que nenhum fitoterápico ou planta medicinal substitui as mudanças na alimentação e a atividade física no tratamento destas duas doenças (diabetes e pressão alta).

Para que serve a aroeira?(Rosicleia, 47 anos, recicladora, Parolin, Curitiba – PR)
Daniela de Almeida Cabrini, cientista UFPR – O nome científico da aroeira é Schinus terebinthifolia, e também é conhecida como aroeira-mansa, aroeira-da-praia, aroeira-vermelha ou pimenta-rosa. É uma espécie arbórea, nativa da América do Sul, ocorrendo no Brasil nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Pampas. É uma espécie com múltiplos usos: ornamental, medicinal, PANC, melífera, e usada ainda em construção e ritualísticamente. Seus frutos, que dão origem ao nome pimenta-rosa, além de possuírem uma bela aparência e serem comestíveis, possuem alto teor de óleos essenciais aromáticos: com sabor apimentado e levemente adocicado, são utilizados como condimento “gourmet”, tanto na cozinha brasileira como internacional. Esta espécie também sofre extrativismo para a obtenção de sua madeira, utilizada comumente na construção de cercas. Na medicina popular, a aroeira é uma planta com muitas recomendações. Suas folhas, frutos e ritidoma (de onde se extrai uma resina muito aromática), são considerados verdadeiros elixires, pois possuem propriedades anti-inflamatórias, adstringentes, anti reumáticas, antimicrobianas, anti-fúngicas, anti-proliferativas e cicatrizantes, sendo particularmente indicados para problemas dermatológicos e ginecológicos. Seu uso através de chás, banhos, preparo de sabões, bálsamos e unguentos promovem alívio e rápida cicatrização. Também é indicada no tratamento de febres, afecções respiratórias, reumatismo, problemas digestivos e musculares. No entanto, seus efeitos medicinais só tiveram comprovação científica para o tratamento de algumas doenças inflamatórias, como analgésicos leves e alguns tipos de infecção. Alguns estudos mostram efeitos das folhas e outros da resina e dos frutos.

Amoxicilina e tanchagem são bons para infecção? (Rosicleia, 47 anos, recicladora, Parolin, Curitiba – PR)
Alexandra Acco, cientista UFPR – Olá Rosicleia. Temos duas coisas diferentes na sua pergunta. A amoxicilina é um medicamento conhecido e comercializado em farmácias por causa de seus efeitos antibióticos, ou seja, reduz o desenvolvimento de algumas bactérias causadoras de infecções, controlando assim estas infecções. Porém, nem todas as bactérias são sensíveis à amoxicilina, então dependendo do tipo da bactéria causadora da infecção, o problema pode não ser resolvido, e pode haver necessidade de usar outro antibiótico. Por isso, os antibióticos devem ser usados sempre conforme as prescrições. E para não haver uso errado de antibióticos é que a compra destes medicamentos só é possível com receita médica.
Já a tanchagem é uma planta medicinal (nome científico Plantago major) que tem sido utilizada desde os tempos antigos para tratar uma gama de doenças. Na medicina popular é usada no tratamento das inflamações bucofaringeanas, dérmicas, gastrintestinais e das vias urinárias, e até no tratamento de alguns tipos de câncer. Há estudos mostrando que extratos preparados da planta inteira, das folhas e das sementes, apresentaram atividade comprovada contra algumas bactérias, o que reforça seu uso popular para controlar infecções.
No entanto, esse efeito depende de como  a tanchagem foi preparada para uso, qual parte da planta foi utilizada e que tipo de extrato foi obtido, pois como as plantas são seres vivos e estão sujeitas a variações ambientais (temperatura, solo, umidade, época do ano etc.), seus produtos com efeito antibiótico podem também sofrer alterações e mudar o “efeito terapêutico” da planta.

Para que serve o ora-pro-nóbis?(Esmeralda Silva, Andreia Ribeiro, Rosilda Magari e Raíssa da Silva, Eco Reciclagem Ambiental, Parolin, Curitiba – PR)
Daniela de Almeida Cabrini, cientista UFPR – As folhas de ora-pro-nóbis (Pereskia aculeata) são ricas em fibras alimentares solúveis e cinzas, minerais (cálcio, magnésio, manganês, zinco e ferro), vitaminas e é uma boa fonte de proteína vegetal. É muito usada como complemento na alimentação, inclusive para crianças em vários países para enriquecer a qualidade nutricional dos alimentos diariamente. Existem algumas indicações de que a ora-pro-nóbis pode ter efeito anti-inflamatório e analgésico, mas os estudos científicos ainda são poucos.

Clima e fenômenos naturais

 “Por que tem tanto alagamento na região do Parolin?” “Como a prefeitura pode acabar com as inundações do Parolin?”  (Simone Vieira, 42 anos, recicladora na Associação de Reciclagem Santos, Parolin, Curitiba – PR) (Eridan Magalhães, 40 anos, missionária, Curitiba – PR)
Renato Lima, cientista UFPR – Prezadas Simone e Eridan, antes da resposta específica, esclareço que inundações são um processo natural que ocorre sempre que um rio recebe muita água ao mesmo tempo, fazendo com que a água avance sobre as suas margens. Normalmente, isso ocorre em períodos de muita chuva, mas também pode ser por outros motivos, como chuvas só na cabeceira do rio, rompimentos de grandes tubulações de água, rompimento de represas e outros. Praticamente, todos os rios têm inundações maiores ou menores.
No caso da região do Parolin, a bacia hidrográfica do rio que corta o bairro está bastante modificada na porção superior que corresponde aos bairros Água Verde, Vila Guaíra, e o próprio Parolin. Os terrenos estão intensamente impermeabilizados e os rios foram modificados e retificados. Obras nos rios podem diminuir as inundações em alguns lugares e aumentar em outros. Especialmente as partes mais baixas da bacia de drenagem, onde a declividade do rio é bastante reduzida, como é o caso da região sul do Parolin, sofrem mais nestas situações, até porque em chuvas intensas o Rio Belém também sobe seu nível e isto dificulta o escoamento das águas dos rios Vila Guaíra e Pinheirinho.
Hoje em dia tem se buscado a “renaturalização” de rios, com recuperação do antigo traçado com curvas, organizando a liberação de margens, recuperando a vegetação, evitando construções próximas, recuperando a permeabilidade do solo, reduzindo a capacidade destrutiva da correnteza e favorecendo a distribuição dos locais de acúmulo de água nos períodos de enchentes.

Por que o clima muda tanto?(Simone Vieira, 42 anos, recicladora na Associação de Reciclagem Santos, Parolin, Curitiba – PR)
Wilson Flavio Feltrim Roseghini, cientista UFPR – Olá Simone! Primeiramente é importante entendermos o que é uma mudança no clima e uma mudança no tempo. Você provavelmente deve estar falando das mudanças constantes que observa no tempo, que são aquelas que acontecem todos os dias quando temos um céu ensolarado de manhã e de repente chove no período da tarde. Essas variações ocorrem naturalmente devido aos diferentes sistemas atmosféricos que atuam em uma região. Aqui na região de Curitiba, por ser uma área de transição entre os climas tropicais e temperados, essas mudanças no tempo são bem comuns porque temos vários desses sistemas próximos de nós, como as frentes frias e massas de ar tropicais (quentes e úmidas) e polares (frias e secas). Já a mudança no clima é algo que acontece numa escala temporal bem mais longa: seria como se Curitiba deixasse de ter as estações do ano como conhecemos, com frio no inverno, por exemplo, e passasse a ter calor todos os meses do ano, ficando com um clima parecido ao de Manaus. Ou se diminuísse tanto as chuvas que nossa região se transformasse em um deserto permanente! Outro detalhe importante sobre as mudanças no clima é que essas mudanças também estão ocorrendo por causa da poluição que nós causamos no planeta. Por isso, é tão importante cuidarmos do meio ambiente, reciclarmos e poluirmos menos, pois só existe um único planeta e se ele fica doente, não temos para onde ir!

Meio ambiente

 “Como que o nosso trabalho de reciclagem ajuda no meio ambiente/natureza?(Márcio Luiz dos Santos, 43, Presidente da Associação Reciclagem Santos, Curitiba – PR)
Maria Cristina Borba Braga, cientista UFPR – A participação na reciclagem contribui para que o tempo de operação dos aterros seja aumentado, condição muito importante para as prefeituras ou empresas que operam os aterros, evitando que o material reciclável, principalmente metais, papel e papel, além de plásticos e outros materiais, sejam depositados em aterros ou acabem em lixões a céu aberto.

Política

 “O que é o fascismo?(Camila Grassi, 33 anos, professora, Curitiba – PR)
Rafael Sampaio e Nelson Rosário de Souza, cientistas UFPR – O fascismo é um fenômeno complexo e com múltiplas interpretações. A presente definição é apenas introdutória e bastante resumida. A experiência italiana do Mussolini e, em parte, a Alemanha nazista são os grandes exemplos históricos dessa fórmula política, social e cultural, que, infelizmente, se repetem em contextos de crise da democracia. Politicamente, o fascismo é um sistema autoritário de partido único, com o culto a um líder carismático. Outra marca desse regime é a exacerbação do nacionalismo combinada com uma postura contrária aos valores liberais e aos direitos humanos. Nesse contexto, a relação do Estado com a sociedade se dá na forma de controle absoluto, inclusive com a perseguição às oposições políticas e sociais através do uso da violência policial. No regime fascista, tanto a dimensão social, quanto os indivíduos, perdem sua autonomia diante do poder totalitário. Qualquer associação pode ser vista como inimiga do governo, os cidadãos não estão mais seguros nem mesmo na privacidade dos seus lares. Aliás, o governo fascista derruba as fronteiras democráticas entre Estado, sociedade (vida pública) e vida privada. Esse controle rigoroso do Estado fascista passa pelo monopólio da informação e pela censura aos meios de comunicação. O fascismo busca legitimidade desqualificando a política democrática, seus agentes e instituições. O líder fascista se diz representante de toda a nação e até mesmo de Deus, e vende a imagem de representante do bem contra o mal, mobilizando um maniqueísmo simplificador, mas eficiente em contextos de fragilidade da comunidade política. Em termos culturais, os agentes do fascismo abrem mão da construção de valores comuns a partir das diferenças. Ao contrário, a verdade de quem está ao ‘lado do bem’ é imposta a todos como ideologia oficial do governo que se apresenta como nação. Trata-se do regime que busca anular e/ou subjugar as diferenças associadas às identidades sexuais, de gênero, raciais etc. Nesse sentido, a ideia moderna de comunidade política enquanto espelho da pluralidade social é substituída pela crença numa única verdade totalitária imposta a todos pelas vias do nacionalismo, muitas vezes combinadas com os apelos à moralidade religiosa.
Finalmente, mas, não menos importante, o fascista imputa aos seus adversários políticos limitações de ordem natural/corporal, como os nazi-fascistas fazem em relação a: judeus, afrodescendentes, homossexuais, imigrantes etc. O outro é construído como naturalmente limitado, como se tivesse uma essência que o faz inferior. Trata-se justamente de anular o campo político de interlocução, enfim, de tirar a humanidade do outro e abrir o caminho que justifica a violência (física ou simbólica), pois, o outro é colocado numa condição sub-humana ou fora da humanidade. O fascismo é uma ponte para a barbárie e, por isso, deve ser combatido pelas instituições democráticas, suas autoridades e pelo conjunto dos cidadãos.

 “Vocês consideram que os modelos de ensino e formação existentes atualmente no Brasil são suficientes para a formação de profissionais qualificados e humanizados? Será que não está na hora de termos uma reformulação nas exigências da CAPES/MEC com o objetivo de tornar a formação profissional mais acessível?(Douglas Klemann, 27 anos, enfermeiro, Curitiba – PR)
Claudia Regina Baukat Silveira Moreira, cientista UFPR – Douglas, veja. A gente tem que entender primeiro que os modelos de formação são altamente dependentes das formas como o conhecimento nas diferentes áreas do saber são construídos. Então, a gente ensina na mesma perspectiva em que a gente produz conhecimento a respeito de uma determinada área. E o que é formar um profissional, o que é qualificação profissional? Essa é uma questão importante. Qualificação profissional é você dotar uma pessoa das qualidades necessárias para exercer uma determinada função, uma determinada profissão. E essas qualificações são determinadas também pelo grupo de profissionais da área. Quer dizer, não é alguém de fora dizendo o que é ser um bom enfermeiro, o que é ser um bom ou uma boa professora, um bom advogado, um bom médico e por aí vai. São as comunidades de profissionais, que incluem também os pesquisadores das áreas, que, em geral, formam as próximas gerações. Então quem é que vai reformular as exigências? A CAPES não é uma entidade que paira em cima do bem e do mal. A gente tem os comitês de áreas da CAPES que consensuam como isso acontece, em especial no âmbito da pós-graduação. No âmbito da graduação, esse é um debate que acontece na Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação, que é o responsável por exarar as diretrizes curriculares de formação em cada área do conhecimento, quando a gente pensa na educação superior. Então, a sua questão é interessante, mas é muito complexa, porque envolve uma série de variáveis. Então,  não está na hora de a gente rever as exigências para que a gente tenha uma formação mais acessível? E o que é uma formação acessível? Acessível para quem? Essas são questões também. A gente tem que considerar, ainda, o fato de que, com alguma frequência, a gente tem lacunas na educação que antecedem a educação superior, na educação básica. E a educação superior não vai fechar essas lacunas. A educação superior vai lidar com elas, mas não tem condições de dar conta daquilo que é trabalho da educação básica. Então eu buscaria responder a sua questão da seguinte maneira: quem pesquisa educação discute os modelos de formação o tempo inteiro, os conteúdos e como melhorar. Mas existe uma distância entre o que se discute nos centros de pesquisa e a realidade das salas de aula, porque a realidade das salas de aula também sofre a interferência dos governos de plantão. É uma questão que a gente precisa considerar também. A outra coisa é que quando a gente pensa na educação superior mais acessível, significa dizer que tem sempre gente nova chegando. E aí a pergunta que a gente precisa fazer é: será que cabe à universidade tornar o conhecimento acessível para mais gente, no sentido inclusive de um certo rebaixamento, ou compete à universidade tornar a pessoa hábil para entender esse conhecimento? Esse é o dilema. Acho que é esse o termo da discussão.

 “Como conseguir patrocínio para a pesquisa científica?(Carla Andrea Matos Camargo,  54 anos, médica,Curitiba – PR)
Ana Sofia Clímaco Monteiro de Oliveira, cientista UFPR – Um dos caminhos mais interessantes para apoio à pesquisa é pela participação em redes de pesquisa. As redes de pesquisa podem ser apoiadas financeiramente em editais promovidos por diversos órgãos de fomento e podem incluir universidades, institutos de pesquisa, empresas, entre outros. Existem outros tipos de fomento à pesquisa que são mais direcionados e nesse contexto é bem interessante acompanhar as chamadas tanto dos órgãos de fomento federais quanto internacionais, como o National Geographic.

 “Como planejar e projetar a empresa pública para que ela tenha, de forma integral, nas suas operações, total eficiência e excelência?(Landri Roberto Roehrs, 62 anos, funcionário público aposentado e economista, Curitiba – PR)
Cleverson Renan da Cunha, cientista UFPR – Olá Landri. De forma geral, os caminhos que temos para gerenciar uma instituição pública se assemelham aos utilizados nas organizações privadas, mas existem diferenças. Em relação à eficiência, me parece que buscamos a mesma coisa: melhor utilização dos recursos. Agora, em relação à excelência, as organizações públicas podem utilizar critérios diferentes, voltados não só para a conquista de resultados financeiros, mas, principalmente, para o atendimento dos interesses da sociedade.

 “Devo utilizar luvas de látex no manuseio do produto químico Lysoform, diluído em água, quando faço a limpeza do assoalho, com resíduos de urina, bem como de fezes caninas?(Paulo Cesar Soares Rossi, 73 anos, aposentado, Juiz de Fora – MG)
Patricia Dalzoto, cientista UFPR – Lysoform, como qualquer produto químico, pode causar irritação na pele, portanto, o uso de luvas de látex (para limpeza) é recomendado. Além disso, deve-se evitar o contato com os olhos e inalação do produto.

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Sobre a Agência Escola UFPR

A Agência Escola UFPR, a AE, é um projeto criado pelo Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD) para conectar ciência e sociedade. Desde 2018, possui uma equipe multidisciplinar de diversas áreas, cursos e programas que colocam em prática a divulgação científica. Para apresentar aos nossos públicos as pesquisas da UFPR, produzimos conteúdos em vários formatos, como matérias, reportagens, podcasts, audiovisuais, eventos e muito mais.

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