Por: Alana Morzelli
Supervisão: Maíra Gioia
Durante campanhas eleitorais, as pessoas são bombardeadas por uma enxurrada de informações. A decisão de voto pode ser influenciada por diversos fatores, como a confiança no candidato, sua popularidade ou o apelo das propostas apresentadas. No entanto, um fator essencial na escolha do candidato muitas vezes passa despercebido: a ciência. Como o pensamento científico pode ser aplicado na hora de escolher em quem votar? Para responder a essa pergunta, é importante analisar alguns pontos fundamentais.
Inicialmente, é necessário entender como funcionam as eleições. As eleições municipais, no Brasil, ocorrem a cada quatro anos, e têm como objetivo escolher os representantes para os cargos de prefeito, vice-prefeito e vereadores. O processo é regulamentado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e segue algumas características importantes.
Prefeito e vice-prefeito: a eleição é realizada por meio de voto direto e majoritário. Isso significa que, quem vence, é o candidato que obtiver a maioria dos votos válidos. Nos municípios com mais de 200 mil eleitores, como Curitiba, caso nenhum candidato alcance mais de 50% dos votos no primeiro turno, ocorre um segundo turno entre os dois mais votados.
Vereadores: são eleitos pelo sistema proporcional, que considera não apenas a quantidade de votos que cada candidato recebe, mas também os de legenda. O voto de legenda ocorre quando o eleitor digita apenas o número do partido (os dois primeiros dígitos), sem escolher um candidato específico. A distribuição das vagas na câmara municipal é feita de acordo com o quociente eleitoral, garantindo a representatividade proporcional entre partidos ou coligações.
Isso faz com que as campanhas eleitorais para cada cargo tenham características distintas, exigindo critérios diferentes para identificar candidatos comprometidos com a ciência. Segundo o jornalista e professor dos Programas de Pós-graduação em Ciência Política e Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Emerson Cervi, que também integra o CPOP (Grupo de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública), no caso dos vereadores, devido ao maior número de cadeiras, as campanhas tendem a ser mais segmentadas, facilitando a avaliação das propostas e posicionamentos de cada candidato. É possível analisar como o candidato se apresenta e a coerência de suas ideias.
Por outro lado, as campanhas para prefeito e vice-prefeito, por serem mais abrangentes, demandam uma análise mais detalhada do discurso. Nesse caso, é importante observar como as propostas são articuladas e fundamentadas, especialmente em debates e pronunciamentos públicos, onde os candidatos costumam expressar melhor suas visões.
A ciência não só ajuda a identificar boas propostas, mas também a verificar a viabilidade de implementá-las.
“Os candidatos são obrigados a registrar seus planos de governo e isso os compromete a cumpri-los”, afirma o jornalista.
Esse plano é um documento que apresenta à sociedade todo o planejamento de ações que o candidato pretende executar durante seu mandato, caso seja eleito. Por meio da plataforma Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais (Divulgacand), o TSE disponibiliza os programas de governo apresentados pelos candidatos a prefeito, com suas principais propostas. Além disso, ferramentas de Inteligência Artificial (IA) podem ser usadas para investigar o histórico político dos candidatos e verificar se as propostas que eles defendem já foram trabalhadas em outros contextos ou se têm embasamento científico suficiente para serem aplicadas. Esse tipo de análise é fundamental para que o eleitor tenha uma visão clara do que é possível realizar e o que é apenas promessa de campanha.
No atual cenário político, o jornalismo desempenha um papel central na comunicação entre candidatos e eleitores. No entanto, como ressalta Cervi, essa responsabilidade tem sido enfraquecida com a presença das redes sociais. Ele destaca a necessidade de um jornalismo que ofereça uma cobertura mais equilibrada e que ajude a esclarecer as informações para o eleitorado, especialmente em tempos de fake news e manipulação de dados.
“O jornalismo está em segundo plano na comunicação política e seu papel deveria ser dar visibilidade a todos os candidatos de forma igualitária, mas o que vemos é uma exposição desproporcional, não democratizando a visibilidade”, afirma.
Além de acompanhar as campanhas e analisar as propostas dos candidatos, o professor ressalta a importância de dialogar com familiares, amigos e colegas de trabalho sobre as intenções de voto. Essa troca de ideias ajuda a formar opiniões mais completas, permitindo que o eleitor considere diferentes perspectivas e construa uma visão mais crítica e embasada antes de tomar sua decisão.
“O eleitor nunca toma uma decisão sozinho”, garante Cervi.
Votar é um ato de responsabilidade que deve ser feito com consciência. Incorporar a pesquisa científica na análise das propostas e na escolha dos candidatos pode ser um diferencial para garantir que os eleitos tenham capacidade real de cumprir com o que prometem. Cabe ao eleitor, com o auxílio da ciência e de um jornalismo comprometido, fazer essa análise de forma crítica e bem-informada.
Eleições 2024
Contribuindo para o processo democrático, a Agência Escola e o Observatório das Metrópoles firmaram parceria para discutir a cidade nas eleições municipais de 2024. Além desta, foram produzidas mais três reportagens: