Por Camila Calaudiano
Edição: Priscila Murr e Alice Lima
Fotos: Camila Calaudiano e Larissa Drabeski
O que uma criança do Amapá, um professor do Distrito Federal e dois universitários do Rio Grande do Norte têm em comum? Todos eles se encontram na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que é o maior evento de divulgação cientifica da América Latina. A 75ª edição do evento acontece na Universidade Federal do Paraná (UFPR), entre os dias 23 e 29 de julho.
Todas as regiões do Brasil estão presentes: pessoas de 18 estados e do Distrito Federal vivenciam em Curitiba o “Rock in Rio da ciência e da tecnologia”, como brincou o reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, durante a coletiva de imprensa.
“O que a gente faz é muito mais do que ciência, é realizar sonhos”
Saulo Henrique Da Silva, de 24 anos, veio da cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte (RN). Ele estuda Engenharia Elétrica na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), mesma instituição em que Bruno Henrique Fernandes da Costa, de 21 anos, cursa Engenharia Mecânica.
Saulo teve seu primeiro e mais significante contato com a ciência durante uma visita escolar, quando estava no 8º ano do Ensino Fundamental. Esse contato foi determinante para seu interesse e iniciação na área de pesquisa e inovação científica. Suas ideias “fora da caixa” ganharam formas e seu projeto piloto “Alternativa de circuito elétrico com um gerador eólico para uma energia infinita” o levou para as maiores feiras de ciências do Brasil e do mundo. Além da graduação em Ciência e Tecnologia, agora está cursando Engenharia Elétrica na Ufersa.
Desde 2018, ele participa do programa Ciência Para Todos no Semiárido Potiguar, uma parceria entre universidades e a Secretaria de Educação do Estado do Rio Grande do Norte, cujo objetivo é estimular o interesse em ciência nos jovens do Semiárido, de diferentes idades e localidades.
“A nossa ideia principal é que a feira mais importante que existe é a da escola”, disse o professor Darlan Dantas Alves de Araújo, um dos coordenadores do Ciência Para Todos, que trouxe Saulo, Bruno e outros participantes do programa à Reunião da SBPC.
Ao afirmar que “O que a gente faz é muito mais do que ciência, é realizar sonhos”, Darlan resume os ideais do Ciência Para Todos, que ocupa um espaço na Feira De Ciência da SBPC Jovem e é uma grande oportunidade de promover divulgação científica e destacar o impacto da ciência na vida das pessoas, assim como aconteceu com Saulo.
Uma criança que quer “incentivar a leitura das outras crianças”
Ayana Soares Almeida, de apenas oito anos, viajou de Macapá, do estado do Amapá, para Curitiba pela primeira vez, para apresentar o seu livro “Tinha que ser o Enzo”, inspirado em um vídeo feito por ela durante a pandemia. O livro, que foca na prevenção de acidentes domésticos, é fruto do projeto “Leitura, arte e informação: uma proposta lúdica na prevenção de acidentes”.
Ela fala com orgulho sobre os prêmios que ganhou nas feiras das quais participou no seu estado. No evento, está acompanhada dos pais, Ana Maria Soares dos Santos Almeida e Alcijone Rangel Lima Almeida, e das professoras Eliene Serique e Simone Freitas.
Simone fala sobre a experiência de estar na SBPC pela primeira vez e da importância de trazer a estudante para apresentar seu livro. “É uma vivência única para ela. Além de apresentar seu livro, poder conhecer outros projetos e participar da SBPC ainda criança”. Ao responder sobre as motivações para escrever seu livro, Ayana conta que seu objetivo é “incentivar a leitura das outras crianças”.
“Nunca é demais celebrar a ciência”
Era 1986 quando Moyses Berndt, de 64 anos, participou da 38ª Reunião SBPC, que aconteceu em Curitiba (PR), em um momento no qual mal se podia falar em ciência. Sob resíduos de Ditadura Militar, a necessidade de progresso e inovação ganhava força e, como um ato de manifestação, se espalhavam pelo país as rádios livres, um movimento alternativo de democratização radiodifusora.
Moyses conta que, naquele ano, fazia parte de um grupo que realizava a oficina “Como fazer uma rádio livre” quando a polícia chegou para prender o professor Eder Sader, que participava da atividade. Ao som de gritos de “querem prender o professor”, o grupo mobilizou um bom número de participantes para impedir que a polícia chegasse até Eder para levá-lo.
Hoje professor de História aposentado, Moyses é associado da SBPC. Ele comenta que retornou a Curitiba após tantos anos para prestigiar o evento, novamente em um momento de retomada da ciência no país após anos críticos.
“Sempre que posso, eu vou às reuniões da SBPC, porque nunca é demais celebrar a ciência”, comenta o professor, que perdeu as contas de quantas vezes já visitou a reunião.
Todos esses caminhos se cruzam no maior evento de divulgação científica, que manifesta a democratização e popularização da ciência, como um bem para o progresso de todos.