Para pesquisadores, situação é suscetível a novas reflexões internas, mas responsabilidade com o coletivo deve ser prioridade
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Ilustração: Amanda Gomes, bolsista de Design
A pandemia também tem implicações na preocupação com o coletivo. Seja no núcleo familiar ou com os profissionais que estão na linha de frente no combate ao vírus, a cooperação é dever de todos. “Estamos pensando naquele que não sabemos que cara ou que nome tem, mas é ele quem estamos preservando quando respeitamos os limites”, conta Lis.
Não há dúvida de que esse é um momento para autocrítica e reavaliação. Segundo a professora Maria Virgínia, esse vírus veio para nos mostrar como vivemos nas nossas casas, com a nossa família e qual a qualidade desses laços. “Agora, as pessoas vão se conectar mais umas às outras, apesar de estarem menos fisicamente juntas”, conta.
A professora ainda reitera que essa pandemia tem muito a nos ensinar sobre como podemos estar juntos de forma mais significativa. “Anteriormente, estávamos voltados à lógica da produção, agora precisamos construir uma lógica do que eu posso ser, falar, expressar, acolher e ser acolhido”, enfatiza.
A mudança em gestação
A contaminação em massa da Covid-19 desacelerou a sociedade como não se via há mais de um século. Escolas e universidades pararam e o trabalho virou remoto. O coronavírus tomou conta do mundo em um estalar de dedos e paralisou uma sociedade onde o ócio não é socialmente permitido. Para o filósofo italiano Giorgio Agamben, o único ponto positivo da situação atual é a possibilidade de as pessoas se questionarem sobre o modo que vivem. “Quando a peste terminar, não penso que – pelo menos para aqueles que mantiveram o mínimo de lucidez – seja possível voltar a viver como antes”, enfatiza o filósofo.
Clóvis Gruner, professor de História da UFPR, comenta sobre a fala do intelectual e acredita que precisaremos, sim, mudar nossa concepção de “normalidade” após a pandemia. “Não é possível seguir sendo o que éramos depois de termos nossas existências tocadas pela tragédia. Não sei se sairemos dessa melhores ou piores, mas é certo que não sairemos os mesmos”.
Em entrevista à CNN, o historiador brasileiro Leandro Karnal confirma que a humanidade enfrenta uma metamorfose. Processos que vinham sendo desenvolvidos, em tempos de crise, tendem a acelerar. Reuniões de trabalho pela internet, por exemplo, se tornarão regra após o fim da pandemia. O professor de História da UFPR vai além e ainda acrescenta a provocação: “Esses processos estão sendo acelerados a serviço de quem? O isolamento social está nos ensinando que podemos depender menos de espaços públicos, com impactos positivos ao meio ambiente, por exemplo. Mas até onde o uso do espaço doméstico não significa estarmos produzindo uma rotina em que o cotidiano e a vida profissional perigosamente se confundem, com jornadas de 24 horas, sete dias por semana?”.
Historicamente, diferentes civilizações reagiram de variadas maneiras perante momentos de crise. Após a 1ª Guerra Mundial, por exemplo, os países europeus mergulharam nos “anos loucos”. A década de 1920 foi marcada por experimentações estéticas, políticas e comportamentais extremas. Já ao longo do século 20, algumas sociedades se fecharam completamente.
Para Clóvis Gruner, existem duas constantes nessas reações. “Primeiro, a presença da violência, como a eleição de um inimigo a ser combatido, ou a afirmação de um presente atravessado pela urgência, algo muito presente nos ‘anos loucos’. Segundo, é que a memória desses momentos de crise irá marcar as experiências, escolhas e condutas por muitos anos ainda. É o que acontece com grupos que viveram situações limites como o holocausto, no caso dos judeus”, explica o professor.
Ouça abaixo um episódio do podcast Fala, Cientista!, da Agência Escola de Comunicação Pública da UFPR, sobre como manter a saúde mental em tempos de pandemia:
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