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Voluntários de Letras da UFPR dedicam os sábados ao ensino de português para estrangeiros

Por Priscila Murr

Fotos: Antônio More

Supervisão: Maíra Gioia 

 

Aulas personalizadas garantem o acolhimento e o aprendizado do idioma por falantes de outras línguas maternas

 

O Plano Institucional de Internacionalização da Universidade Federal do Paraná (UFPR) estabelece os principais marcos norteadores das políticas e ações da universidade, para facilitar a interação com pesquisadores e entidades de renome internacional no processo de produção do conhecimento. Ele abrange práticas voltadas para o aumento do impacto da produção acadêmica, ampliação das experiências e diálogos internacionais de caráter recíproco, bem como a institucionalização dos acordos de cooperação e qualificação linguística da comunidade universitária.

E, tudo isso, na teoria. Porque, na prática, vai muito além. O dia a dia, a “internacionalização” se traduz, claro, pela aplicação efetiva dos procedimentos acima mencionados, mas por um detalhezinho a mais, o amor do acolhimento no trato com aqueles que, distantes de seu local de origem, e alheios à língua nativa de um lugar, se veem impossibilitados do mais fundamental dos processos: a comunicação com o outro.

Por isso, “as nossas aulas são pra acolher”, afirma a professora adjunta da UFPR, responsável pela área de Português Língua Estrangeira/Adicional (PLE/PLA), do Departamento de Literatura e Linguística (DELLIN), do curso de Letras, Pollianna Milan. A docente ocupa, na universidade, a primeira vaga, aberta em 2021, voltada ao Português como Língua Estrangeira Adicional. Ela conta que sua função primeira é “ensinar alunos de Letras sobre como dar aulas de português pra estrangeiros”, mas que também coordena quatro projetos:

1. O já mencionado PLA, englobando os demais, é um projeto de extensão que atende a maioria dos intercambistas dentro do Centro de Línguas e Interculturalidade UFPR (Celin);

2. O Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras), exame brasileiro oficial para certificar proficiência em português como língua estrangeira, que é aplicado semestralmente no Brasil pelo Inep (e desde 1998 na UFPR), com apoio do Ministério da Educação (MEC) e em parceria com o Ministério das Relações Exteriores;

3. O Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G), mecanismo oficial do governo brasileiro que oferece, a alunos estrangeiros, vagas gratuitas para graduação completa no Brasil;

4. E o projeto de extensão Português Brasileiro para Migração Humanitária (PBMIH), criado para atender diversos grupos migratórios que chegam a Curitiba e região metropolitana e, sem qualquer conhecimento da língua portuguesa, buscam aulas junto à universidade.

 

Assim, Milan explica que, é por meio do PLE/PLA que a UFPR atende todos os estrangeiros, não apenas os refugiados ou os migrantes.

 

“A área de Português Língua Adicional, que hoje é constituída só por mim, cuida de todos os intercambistas. Os que vêm pra fazer seis meses de qualquer curso de graduação, pra fazer mestrado ou doutorado sanduíche, até pra pós-doc., todos vão acabar chegando à nossa área”, explica.

 

Festa de encerramento do PBMIH com show de talentos (final do ano de 2023). Foto: Antônio More, jornalista voluntário do projeto

 

O início do trabalho com os alunos de origem estrangeira não foi algo necessariamente programado. Num contexto de crise humanitária, em 2013, um grupo de migrantes, acometido por um terremoto no Haiti, chegou à capital paranaense. Depois de procurarem alguns órgãos competentes, expondo a necessidade de aprender português para estabelecer uma comunicação mínima, esses haitianos chegam até a UFPR.

A partir disso, professores voluntários de francês – pois, além do crioulo haitiano, com base francesa e africana, a língua francesa também é falada no país – começaram a dar aulas de português para o grupo. Não sem enfrentar diversos percalços, como dificuldades de deslocamento e necessidade de adaptação quanto aos dias em que os migrantes conseguiriam estudar, os docentes (professores e estudantes de Letras) ultrapassaram esta barreira: dedicaram, e ainda dedicam, todos os seus sábados ao atendimento desse público.

Com o passar do tempo, sobretudo devido ao crescimento da taxa migratória e da alta procura pelo curso, amplia-se o projeto: “foi crescendo de uma maneira… aí surgiu a ideia de ensinar os alunos de Letras a dar aulas de português para imigrantes. Então, ‘começou a extensão’”, conta Milan. E, novamente, o que se sucede traz consigo desafio de toda natureza.

A professora responsável pelo PLE/PLA conta que a estruturação das aulas do PBMIH tem base nas ideias da professora portuguesa Maria José Grosso, que, a partir de uma demanda migratória anterior à do Brasil, percebeu a diferenciação quanto às necessidades no que diz respeito ao ensino do português destinado a esse público. Segundo Milan, foi essa docente que cunhou o termo “Português Língua de Acolhimento (PLAc)”, conceito chave na dinâmica de todo sábado de aulas na UFPR.

 

“A gente se inspira muito no que aconteceu lá. E entende, a partir das coisas que a professora publicou e publica, como seria o desafio”, afirma.

 

 

“A gente tem que ensinar a língua o mais real e em uso possível. E o mais emergencial possível. Então, a gente tem que ensinar a eles como sobreviver!”, garante.

 

Festa de encerramento do PBMIH com show de talentos (final do ano de 2023). Foto: Antônio More, jornalista voluntário do projeto

 

O PBMIH que surgiu em 2013 já é bastante diferente hoje. A necessidade de recursos e de professores permanece, segundo Milan, mas a estruturação do programa consegue atender uma demanda de 400 alunos por semestre. Em 2022, quando assumiu a coordenação, a professora conta que, percebendo a baixa presença de alunos de Letras para dar aulas, teve a ideia de criar uma disciplina optativa para tal fim. O resultado: 65 novos professores para o PBMIH.

 

“A fila de espera chega a 400 alunos por semestre. A gente zera a fila e, no semestre seguinte: 400 alunos novos esperando. A gente tenta zerar e começa de novo. Então, assim, a gente deu aula e formou, nessa primeira metade de 2024, por exemplo, 362 alunos. Desses, 195 já se matricularam para o próximo semestre”, conta.

 

As turmas são compostas pelos mais diversos migrantes. Por isso, durante o aprendizado e a readaptação, diversas situações aparecem. Percebendo as demandas, os professores e estudantes de Letras acionam outros departamentos da universidade, a fim de oferecer atenção integral aos estrangeiros.

 

“Os migrantes têm muitas necessidades. Ao longo do tempo, conforme fomos atendendo, vieram muitas demandas. Então, envolvemos o pessoal do Direito, fizemos uma parceria com o PET-Informática, pedimos ajuda do pessoal da psicologia… e foi se constituindo uma rede. Eles auxiliam quando são acionados, mas o pessoal de Letras trabalha todo sábado. Porque a primeira coisa necessária pra se readaptar aqui é a língua, aprender a se comunicar. Antes de tudo, eles precisam aprender português”, completa.

 

 

 

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