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Na rua e nas redes sociais, população pergunta sobre varíola dos macacos e cientistas da UFPR respondem

Dúvidas da sociedade vão desde contaminação até vacinação e são respondidas por cientistas da Universidade Federal do Paraná #AgênciaEscolaUFPR

Por Leticia Negrello Barbosa
Sob orientação de Chirlei Kohls

Você já ouviu falar em varíola dos macacos? Desde que o termo começou a aparecer com mais destaque na mídia, tem sido motivo de dúvida e incerteza para muitas pessoas. Após mais de dois anos intensos de uma pandemia causada pela Covid-19, é esperado que haja esse sentimento diante de um outro vírus – declarado em julho deste ano pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como emergência de saúde pública de importância internacional.

Emanuel Maltempi de Souza, cientista do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR, explica que a principal forma de contágio da varíola dos macacos é pelo contato direto com fluidos corporais (saliva, sêmen, secreção nasal) ou com objetos contaminados. “É importante lembrar que essa nova virose não é tão transmissível quanto a Covid-19”, afirma. O contágio da doença foi uma das principais dúvidas da sociedade levantadas nessa edição do Pergunte aos Cientistas, ação da Agência Escola UFPR (AE).

O projeto, lançado em março de 2020 com o objetivo de aproximar a sociedade e a ciência, aborda uma temática nova a cada edição. O tema da vez é “Varíola dos Macacos” e, além das perguntas recebidas por e-mail e redes sociais da AE, nossa equipe de Jornalismo também foi às ruas em busca de dúvidas da população de Curitiba e região metropolitana. Na Rua XV de Novembro, região central da cidade, pessoas das mais diferentes idades e classes sociais expressaram o que pensam e o que queriam saber a respeito da doença.

Quem esclarece as dúvidas dessa edição são Lucy Ono, virologista e cientista do Departamento de Patologia Básica da UFPR; Alexandra Acco, cientista do Departamento de Farmacologia da UFPR; Emanuel Maltempi de Souza, pesquisador do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR; e Fernanda Cabral Bonato, mestre e doutoranda em Psicologia pela UFPR e especialista em Sexualidade Humana (FMUSP). Leia a matéria completa a seguir para conferir todas as perguntas da sociedade e as respostas dos cientistas.

“A varíola pega em outros animais?” (Vitor Rocha de Almeida, 10 anos, São José dos Pinhais-PR)
Emanuel Maltempi de Souza, cientista UFPR – A varíola dos macacos é uma zoonose. Isso significa que é uma doença que normalmente acontece em animais, pulou a barreira entre espécies e passou a contaminar os humanos também. É demonstrado em laboratório que ela (a varíola dos macacos) pode contaminar outros animais como roedores, ratos e até porcos-espinhos. O animal que normalmente tem esse vírus é um roedor da África, e não o macaco, por incrível que pareça. Animais domésticos também podem ser suscetíveis à varíola dos macacos. Foi demonstrado uma única vez o caso de um cachorro que teve varíola dos macacos, e isso aconteceu porque os seus donos, que estavam contaminados, costumavam dormir com o animal e ele pegou essa doença. Por isso, se houver a chance que uma pessoa esteja contaminada, é importante não ter contato íntimo com o animal, isso significa passar a mão, beijar ou abraçar. E se o animal pegar, é necessário acompanhamento veterinário, isolamento de três a quatro semanas e provavelmente o animal não vai ter nenhum problema. Nunca se deve dar banho, higienizar com álcool e muito menos abandonar o animal ou tentar eutanásia. Os animais, assim como nós, podem estar suscetíveis à doença, mas temos que tomar os mesmos cuidados que tomamos conosco.

Assista abaixo a um vídeo sobre a edição Varíola dos Macacos do Pergunte aos Cientistas, uma produção da Agência Escola UFPR:

“O que é a varíola dos macacos?” (Simone, 53 anos, aposentada, São José dos Pinhais-PR; Simone Saldanha, 32 anos, dona de casa, Campina Grande do Sul-PR)
Emanuel Maltempi de Souza, cientista UFPR – A varíola do macaco é uma zoonose, ou seja, é uma doença causada por um patógeno que normalmente infecta um animal. Apesar do nome, o animal que é hospedeiro natural desse vírus não é um macaco, mas provavelmente um roedor africano. As pessoas afetadas com varíola dos macacos apresentam tipicamente erupções cutâneas que podem estar localizadas no corpo todo, incluindo genitais (pênis, testículos, vagina), ânus, mãos, pés, peito, rosto ou boca. Inicialmente, a erupção pode se parecer com espinhas, que podem ser dolorosas e apresentar coceira.
Os sintomas gerais podem ser febre, linfonodos inchados, dores musculares, dor de cabeça, sintomas respiratórios (dor de garganta, congestão nasal ou tosse), entre outros. Esses sintomas, que aparentam um quadro gripal, podem aparecer antes das erupções cutâneas, que são os pontos onde o vírus é multiplicado ativamente. Os sintomas da varíola aparecem em até três semanas após contaminação. O paciente com varíola dos macacos pode transmitir desde o aparecimento dos primeiros sintomas até que as erupções tenham cicatrizado, o que pode durar até quatro semanas. Por isso, o isolamento mínimo para paciente com varíola dos macacos é de três semanas. Não há ainda nenhum tratamento específico para essa doença, em geral, estão sendo tratados os sintomas para permitir que o paciente se recupere. Alguns antivirais estão sendo testados, mas não existe ainda uma recomendação de uso. A vacina contra a varíola é provavelmente eficiente para induzir a imunidade e tem sido utilizada para esse fim. A boa notícia é que a letalidade é baixa e o paciente geralmente se recupera bem. Pode haver complicações em pacientes imunocomprometidos, como infecções secundárias e pneumonia. Em alguns casos, a erupção pode ocorrer no olho causando cegueira.

“Quanto é o risco da infecção por monkeypox causar uma discriminação à comunidade LGBT+, semelhante ao surto do HIV entre as décadas de 1980 e 1990? Há como remediar esse quadro?” (G.F., 27 anos, Curitiba-PR)
Fernanda Cabral Bonato, cientista UFPR – Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia e a Sociedade Brasileira de Infectologia, “embora a OMS relate que a doença tem sido muito mais frequentemente vista em homens que praticam sexo com homens (HSH), não está claro neste momento se pode ser transmitida especificamente através da via sexual, portanto, ainda não é classificada como uma IST (infecção sexualmente transmissível)”.
Claramente, o risco existe, mas é um risco ignorante, na forma mais pura da palavra, considerada como sendo “estado daquele a quem falta conhecimento, saber ou instrução; condição de quem é ingênuo ou crédulo” (MICHELIS, s/a; s/p).
Se a discriminação acontecer, ela será pautada em notícias inverídicas, que não trazem o conhecimento científico como fonte de saber, isso porque não há indícios de que a transmissão se faça por contato é sexual, mas sim por meio de um contato direto.
Sabe-se, quando se trabalha com saúde pública, que transmissão de doenças infecciosas são mais rápidas em grupos menores (Viveração Podcast, 2022). É fato que um alto número de homens que se relacionam com homens foi infectado, mas estigmatizar homens gay diante dessa doença é recorrer em erro, é violentar novamente uma comunidade que historicamente é violentada.
Precisamos falar sobre a doença, mas buscando fonte de saberes seguras, índices de infeções em tempo real, analisando aquilo que é transmitido como ‘conhecimento’, porque nem sempre o que se diz é verdade e, não sendo, o risco social se torna eminente. Para tanto, o remédio para esta situação é educação! É a transmissão de saberes pautadas em evidências, numa ciência pautada em evidências.

“Qual a relação da varíola com os macacos?” (Elaine, 22 anos, recepcionista, Pinhais-PR)
Lucy Ono, cientista UFPR – Olá, Elaine! A varíola dos macacos recebeu esse nome porque foi descoberta em 1958 em macacos de laboratórios que estavam apresentando sinais semelhantes aos da varíola humana, ou seja, nódulos e lesões na pele. Quando isso aconteceu, os cientistas começaram a pesquisar qual era o vírus responsável por aquelas lesões de pele em macacos e descobriram uma espécie nova: o vírus da varíola dos macacos. Os sinais e sintomas eram parecidos porque os vírus que provocam a varíola dos macacos e a varíola humana pertencem à mesma família.

“É importante ressaltar que no Brasil, até o momento, o vírus da varíola dos macacos nunca foi encontrado em macacos que vivem na natureza, e que o surto atual se deve à transmissão direta entre pessoas”. Lucy Ono, virologista e cientista do Departamento de Patologia Básica da Universidade Federal do Paraná

Vários anos depois, em 1970, foi registrado o primeiro caso de pessoa infectada com o vírus da varíola dos macacos, e descobriu-se que, na natureza, o vírus da varíola dos macacos foi encontrado principalmente em algumas espécies de roedores selvagens, indicando que os macacos não devem ser o reservatório natural desse vírus. No Brasil, não houve, até agora, a identificação de espécies de macacos na natureza que carreguem o vírus da varíola dos macacos.
É importante saber que os casos atuais de varíola dos macacos não estão sendo transmitidos pelos macacos para as pessoas, mas sim pela transmissão direta de uma pessoa infectada para outra. Sua pergunta é bastante importante para ajudar nesse esclarecimento, pois houve relatos de aumento no número de casos de agressões a macacos no Brasil, possivelmente por uma associação equivocada das pessoas entre o surto atual e os macacos.

“Macaco tem varíola?” (Gabriel de Oliveira Batista, 22 anos, estudante, Curitiba-PR)
Lucy Ono, cientista UFPR – Olá, Gabriel! Os macacos na natureza não têm varíola humana, que é como chamamos uma doença que foi eliminada da população humana por meio de campanhas de vacinação (considerada erradicada em 1980 pela Organização Mundial de Saúde – OMS). Apesar disso, na natureza existe um vírus semelhante ao da varíola humana, o vírus da varíola dos macacos, que provoca uma doença parecida à da varíola humana em macacos e em alguns outros mamíferos, incluindo os humanos. Os macacos, assim como as pessoas, quando infectados pelo vírus da varíola dos macacos, apresentam sinais semelhantes aos observados em pessoas infectadas com esse vírus, com lesões na pele que lembram espinhas, nódulos ou bolhas.
É importante ressaltar que no Brasil, até o momento, o vírus da varíola dos macacos nunca foi encontrado em macacos que vivem na natureza, e que o surto atual se deve à transmissão direta entre pessoas.

“Como o ser humano foi pegar a doença do bichinho que estava lá no canto dele? O que o ser humano foi fazer lá no meio do mato com o macaco?” (Ruthi Franco, 59 anos, autônoma, Fazenda Rio Grande-PR)
Lucy Ono, cientista UFPR – Olá, Ruthi! O primeiro caso relatado de varíola dos macacos em humanos aconteceu em 1970, em um bebê de 9 meses na República Democrática do Congo, no continente africano e, nesse caso, não foi possível determinar ao certo como aconteceu a transmissão de animais para pessoas. Não há certeza também de que essa transmissão tenha ocorrido do macaco para pessoas, pois na natureza, muitos outros animais também podem carregar o vírus, como os roedores selvagens. Mas a principal suspeita na época dessa descoberta foi a da possibilidade (não confirmada) de contato com macacos mortos por meio da caça e consumo da sua carne.
A transmissão do vírus da varíola dos macacos de animais para humanos seria possível por meio da caça desses animais, no contato de pessoas com as lesões de animais infectados, bem como com o sangue ou fluidos desses animais, e consumo de carne e outros derivados de animais infectados que não estejam cozidos adequadamente.
No entanto, considero importante saber que os casos atuais que acontecem no Brasil e no mundo se devem à transmissão direta de pessoas para pessoas, sem o envolvimento de animais.

“O vírus tem mutação?” (Simone Saldanha, 32 anos, dona de casa, Campina Grande do Sul-PR)
Lucy Ono, cientista UFPR – Olá, Simone! O vírus responsável pelo atual surto de varíola dos macacos teve cerca de 50 mutações observadas no seu material genético em relação ao vírus que causou outro surto anterior (2018 a 2019, na Nigéria, Reino Unido e Israel), bem menor em número de casos que o surto atual. Apesar dessas mutações terem sido identificadas, os cientistas ainda não conseguiram descobrir se elas são de fato as responsáveis por uma maior transmissão do vírus entre as pessoas e esses estudos ainda estão sendo realizados.
Independentemente disso, quanto mais esclarecimento sobre essa doença e modos de prevenção as pessoas puderem ter, maiores serão as chances de diminuir o número de pessoas infectadas. O vírus só consegue mutar o seu material genético no momento em que ele se multiplica. Por isso, quanto maior for o número de pessoas infectadas, maiores acabam sendo as chances de surgirem mais mutações, que eventualmente poderiam levar a formas mais transmissíveis ou mais graves da doença.

“Por que o nome varíola dos macacos? Foi decidido mudar o nome da doença por causa do preconceito com os bichos?” (K., 26 anos, técnica em enfermagem, Pinhais-PR)
“Alguma possibilidade de mudarem o nome popular da doença [varíola dos macacos], fazendo uma campanha para evitar o que já aconteceu com outras doenças quando erroneamente as pessoas acham que os animais (no caso, os macacos) são os culpados e devem ser eliminados?” (Regina Celia Halu, 59 anos, professora, Curitiba-PR)
Alexandra Acco, cientista UFPR – Muito pertinente a dúvida de vocês. A varíola dos macacos ou monkeypox recebeu esta denominação antes das práticas atuais de nomeação de doenças, assim a OMS (Organização Mundial da Saúde) rebatizará a doença em breve. O nome atual é marcante para o continente africano e para os macacos, animais que lhes deram o nome, mas que desempenham papel pequeno em sua propagação. Recentemente foram relatados casos no Brasil de pessoas atacando macacos por medo da doença. A varíola dos macacos recebeu este nome porque o vírus causador foi identificado pela primeira vez em 1958 em macacos, na Dinamarca. O primeiro caso humano foi relatado em 1970, em uma criança na República Democrática do Congo (RDC).
A atribuição de novos nomes a doenças existentes é responsabilidade da OMS de acordo com a Classificação Internacional de Doenças e a Família de Classificações Internacionais Relacionadas à Saúde da OMS. A OMS realizou uma consulta aberta para um novo nome para a varíola dos macacos. Já para os vírus, a nomeação das espécies é de responsabilidade do Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus, que tem um processo em andamento para o nome do vírus da varíola dos macacos. Assim, em breve deveremos conhecer o novo nome da doença, do vírus e suas variantes.
Por ora, vale lembrar que essa doença é transmitida tanto de animais para humanos (considerada um zoonose), quanto entre humanos. Os principais reservatórios naturais do vírus são macacos, esquilos, alguns roedores e primatas não humanos. Apesar de o vírus poder saltar de animais para humanos, os especialistas da OMS afirmam que a recente propagação se deve à transmissão por meio do contato íntimo entre humanos.

“Existe a possibilidade de reinfecção?” (Jonathan Rodrigues, designer, 36 anos, São Paulo-SP)
Emanuel Maltempi de Souza, cientista UFPR – Jonathan, essa sua dúvida é muito procedente, mas não temos ainda uma resposta definitiva. Porém, baseado no que sabemos sobre o gênero Orthopoxvirus, do qual faz parte o vírus da varíola dos macacos, é muito provável que a imunidade adquirida por infecção ou por vacinação dure a vida toda. Por exemplo, o vírus da varíola pertence a esse grupo e confere imunidade permanente.

“Como se pega a varíola dos macacos?” (Simone, 53 anos, aposentada, São José dos Pinhais-PR)
“Qual a forma de contágio?”
 (Zenaide, 64 anos, aposentada, Curitiba-PR)
“Como contamina? Qual é a causa da contaminação?” (Anuar Hannuch, 75 anos, aposentado, Curitiba-PR)
Emanuel Maltempi de Souza, cientista UFPR – Olá Simone, Zenaide e Anuar. Essa é uma pergunta muito importante. A principal forma de contágio é o contato direto com material das erupções cutâneas e outros fluidos corporais (saliva, sêmen, secreção nasal etc.), ou contato indireto através de objetos (incluindo superfícies) contaminados, como roupa de cama utilizada por pacientes contaminados. Embora na maioria das vezes a transmissão ocorra através de contato íntimo com uma pessoa contaminada, acredita-se ainda que o vírus possa ser transmitido também por via aérea pelos aerossóis e gotículas nasais e bucais, mas essa via de transmissão não parece ser a mais importante. Os cuidados utilizados para prevenção da Covid-19 (uso de etanol, máscara, distanciamento social) são muito eficientes para evitar a contaminação. É importante lembrar que essa nova virose não é tão transmissível quanto a Covid-19. Na grande maioria dos casos relatados, a transmissão ocorre mediante contato direto com a pessoa doente.

“Já tem medicamento?” (Zenaide, 64 anos, aposentada, Curitiba-PR)
“É difícil de curar?” (Anuar Hannuch, 75 anos, aposentado, Curitiba-PR)
Alexandra Acco, cientista UFPR – Olá, Zenaide e Anuar. O tratamento de pacientes com varíola dos macacos é de suporte, dependendo dos sintomas. Vários compostos que podem ser eficazes contra a infecção pelo Ortopoxvírus, causador da varíola dos macacos, estão sendo desenvolvidos e testados, mas ainda não há medicamento antiviral específico para tratar esta doença. Alguns antivirais administrados por via oral e promissores para o tratamento são brincidofovir e tecovirimate, mas ainda não há dados clínicos conclusivos sobre sua eficácia na varíola em humanos. O tecovirimate é um medicamento antiviral desenvolvido para tratar a varíola humana “original”, uma infecção grave e potencialmente fatal causada pelo Variola virus, um vírus do gênero Ortopoxvirus, o mesmo gênero ao qual pertence o vírus da varíola dos macacos. Para esta varíola, a terapia antiviral pode ser indicada em pacientes com doenças graves, imunocomprometidos ou nos quais a infecção se encontra em locais atípicos (olhos, boca) ou na área genital. Entretanto, para a maioria dos pacientes o tratamento indicado é apenas de suporte. Por exemplo, o paciente deve ser bem hidratado, se estiver com dor de cabeça receberá um analgésico, se estiver com febre tomará um antitérmico e, fundamentalmente, deverá fazer a higienização das lesões, chegando à cura. Há vacinas desenvolvidas para a primeira varíola que podem ser eficazes contra a varíola dos macacos, e outras vacinas estão em desenvolvimento. No entanto, a Organização Mundial de Saúde não recomenda, até este momento, vacinação em massa, diferente do que ocorreu com as vacinas da Covid-19, que foram distribuídas mundialmente para controlar a pandemia da Covid-19.

“O que acontece [sintomas] se a pessoa pegar varíola dos macacos?” (Simone Saldanha, 32 anos, dona de casa, Campina Grande do Sul-PR)
Alexandra Acco, cientista UFPR – Olá, Simone. Sua dúvida certamente é a mesma de várias pessoas. A varíola dos macacos (ou monkeypox) pode causar uma série de sinais e sintomas, para algumas pessoas são leves e para outras podem ser mais graves. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os sintomas mais comuns incluem febre, dor de cabeça, dores musculares, dores nas costas, fraqueza e linfonodos (gânglios) linfáticos inchados, seguidos ou acompanhados pelo desenvolvimento de erupções cutâneas (“bolhas, vesículas ou feridas”) que podem durar de duas a três semanas. A erupção cutânea pode afetar a face, palmas das mãos, plantas dos pés, virilha, região genital e anal, bem como boca, garganta e olhos. O número de feridas pode variar de uma a várias, chegando a centenas. As feridas na pele começam lisas, depois se enchem de líquido, na sequência formam crostas e depois secam, com uma camada nova de pele se formando por baixo das feridas. Na maioria dos casos, os sintomas da varíola dos macacos desaparecem por conta própria dentro de algumas semanas. Entretanto, em algumas pessoas, a infecção pode levar a complicações médicas e até mesmo à morte. As complicações incluem infecções secundárias da pele, pneumonia e problemas oculares. As complicações recentemente descritas incluem proctites (feridas e inchaço no reto, parte final do intestino), que causam dor, além de dor e dificuldade ao urinar. Com base no que se sabe de epidemias anteriores de varíola, bebês recém-nascidos, crianças e pessoas com deficiências imunológicas têm maior risco de ter doença grave e de morte.
Recomenda-se que qualquer pessoa que tenha sintomas que possam ser de varíola ou que tenha estado em contato com alguém que tem a doença deve procurar atendimento em unidades de saúde, pois as pessoas que estão contaminadas permanecem infecciosas até que todas as feridas sequem e uma nova camada de pele se forme.

“Já tem vacina?” (Zenaide, 64 anos, aposentada, Curitiba-PR)
“Já existe vacina para ser distribuída para população geral? Ou é por grupo prioritário?” (Erleson Júnior, 29 anos, vendedor, Curitiba-PR)
Lucy Ono, cientista UFPR – Olá, Zenaide e Erleson! Sim, atualmente existem duas vacinas aprovadas por agências regulatórias internacionais (EMA e FDA) contra a varíola dos macacos e o Ministério da Saúde (MS) comprou 50 mil doses de uma delas, a vacina Imvanex/Jynneos, da Dinamarca. Essa vacina, cuja importação emergencial foi aprovada pela Anvisa, é feita com um vírus Vaccinia atenuado (enfraquecido), da mesma família dos vírus da varíola humana e da varíola dos macacos, mas que não possui capacidade de se multiplicar nas pessoas. Embora elas tenham sido originalmente desenvolvidas para imunizar contra a varíola humana, devem conseguir proteger em parte também contra a varíola dos macacos, dificultando o desenvolvimento de formas graves da doença e ajudando a diminuir a transmissão entre pessoas.
As primeiras doses, de acordo com o Ministério da Saúde, estavam previstas para chegarem ainda no mês de setembro e priorizariam profissionais da área de Saúde que manipulam amostras oriundas de pacientes (contaminadas ou possivelmente contaminadas com o vírus).
A ampliação da distribuição da vacina para mais pessoas depende de diferentes fatores, entre eles a aquisição pelo Ministério da Saúde, a necessidade de mais laboratórios ampliarem a sua produção (no Brasil, temos instituições com grande capacidade de desenvolvimento e produção de vacinas humanas, com destaque para a Fiocruz e o Instituto Butantan) e o número de casos notificados da doença no país.
Neste momento, a Organização Mundial de Saúde ainda não recomenda a vacinação em massa de todas as pessoas, mas recomenda priorizar grupos que estejam nesse momento sob maior risco, e orienta que sejam implementadas também medidas governamentais nos países para o controle da disseminação do vírus, como a identificação de casos suspeitos, isolamento de casos confirmados, acesso a diagnóstico e tratamento, além de rastrear os contatos de pessoas infectadas.

“A vacina contra a varíola dos macacos é eficiente?” (Henrique Closs, 72 anos, aposentado, Balneário Camboriú-SC)
Lucy Ono, cientista UFPR – Olá, Henrique! No momento (setembro de 2022), os cientistas ainda não possuem toda a informação necessária para dizer que as vacinas contra a varíola dos macacos têm alta eficácia, mas espera-se que elas confiram algum grau de proteção, o que certamente contribuiria para diminuir a taxa de transmissão do vírus e de casos graves da doença. Lembrando que nenhuma vacina contra agentes infecciosos é 100% eficiente. Os dados sobre a porcentagem de eficácia dessas vacinas para a proteção contra a varíola dos macacos só poderão ser obtidos após a realização de testes clínicos em estudos que acabaram de ser iniciados.
É importante saber que a vacina Imvanex/Jynneos, que está tendo 50 mil doses importadas pelo Ministério da Saúde (MS), já foi aprovada para uso na profilaxia da varíola dos macacos pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e pelo Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos. E, portanto, ela já passou por três fases de testes clínicos em seres humanos, terminando a última fase em 2019, não na prevenção da varíola dos macacos, mas para a prevenção da varíola humana; ambos são vírus aparentados, e por compartilharem características parecidas, a vacina contra um deles poderia conferir proteção cruzada contra o outro. Nesse estudo publicado de eficácia da vacina Imvanex/Jynneos, os cientistas observaram que a vacina foi capaz de induzir a produção de anticorpos contra o vírus da varíola humana em mais de 90% das pessoas vacinadas, em quantidades equivalentes às que eram alcançadas em pessoas que eram vacinadas com vacinas eficientes de primeira geração (aquelas que foram usadas para erradicar a varíola humana na década de 1980). Não foi possível verificar a eficácia por meio de exposição ao vírus da varíola humana porque esse vírus foi eliminado da população humana, tendo o último caso de varíola humana sido registrado no mundo em 1977. Esse estudo clínico foi realizado em 2019, antes do atual surto de varíola dos macacos. Anteriormente, em estudos com animais (2008), foram feitos testes em animais vacinados com o mesmo modelo de vírus utilizado na vacina Imvanex/Jynneos (vírus Vaccinia atenuado, cepa Ankara), verificando-se que ela era capaz de proteger contra a morte provocada pela varíola dos macacos, parente do vírus da varíola humana, quando altas cargas do vírus eram inoculadas nos animais.
O FDA justificou que os altos números de casos registrados no atual surto e o potencial dessa doença para afetar a saúde das pessoas justificam o uso emergencial de vacinas já existentes como a Imvanex/Jynneos, que já era aprovada para uso contra a varíola humana, mas que ainda não tinha sido avaliada para uso contra a varíola dos macacos.
Há ainda outros dados que embasam que a atual vacina Imvanex/Jynneos, considerada eficaz contra a varíola humana, promoveria algum grau de proteção cruzada contra a varíola dos macacos: um estudo publicado em 1988, que analisou a taxa de transmissão do vírus da varíola dos macacos entre pessoas em um surto anterior (1981-1986 na República Democrática do Congo, antigo Zaire), mostrou que pessoas que haviam sido vacinadas contra a varíola humana tinham sido 87% mais protegidas de desenvolverem sinais e sintomas pela infecção com o vírus da varíola dos macacos do que pessoas que não haviam sido vacinadas. É possível que a eficácia de proteção gerada pela vacina Imvanex/Jynneos seja menor que 87%, considerando que o vírus do atual surto de varíola dos macacos é provocado por um vírus que parece ser mais transmissível que o do surto de 1981-1986 (tendo diferenças genéticas já identificadas) e a composição da vacina que foi anteriormente aplicada ser diferente da vacina Imvanex/Jynneos.
Racionalmente, portanto, a vacina Imvanex/Jynneos, mesmo com evidências clínicas ainda limitadas sobre sua eficácia contra a varíola dos macacos, ainda assim constituiria a melhor chance que temos no momento de controlarmos o surto atual de varíola dos macacos. Por outro lado, por não termos ainda acesso a resultados de testes clínicos de eficácia de vacinas para prevenir a varíola dos macacos, as pessoas que serão vacinadas devem se manter cautelosas e continuar a se proteger da infecção por meio de medidas de lavagem das mãos e evitando o contato íntimo e prolongado com pessoas que estejam infectadas.

Ouça abaixo um drop sonoro sobre a edição Varíola dos Macacos do Pergunte aos Cientistas, uma produção da Agência Escola UFPR:

Foto destaque: Equipe de Jornalismo da AE foi até a Rua XV de Novembro, em Curitiba, para ouvir a população e coletar dúvidas sobre varíola dos macacos. Foto: Leticia Negrello Barbosa. Diagramação da arte: Ana Polena
Identidade visual Pergunte aos Cientistas: Gabriela Tacla e Letícia Terumi

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Sobre a Agência Escola UFPR

A Agência Escola UFPR, a AE, é um projeto criado pelo Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD) para conectar ciência e sociedade. Desde 2018, possui uma equipe multidisciplinar de diversas áreas, cursos e programas que colocam em prática a divulgação científica. Para apresentar aos nossos públicos as pesquisas da UFPR, produzimos conteúdos em vários formatos, como matérias, reportagens, podcasts, audiovisuais, eventos e muito mais.

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