Por Gabriel Domingos
Edição: Alice Lima
Foto de destaque: Pexels/Olena Bohovyk
Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização dos dispositivos eletrônicos de fumo, os famosos “cigarros eletrônicos”. Na época, o órgão justificou a decisão devido à ausência de dados científicos sólidos sobre os efeitos do produto. Em julho de 2022, a Anvisa voltou a discutir o tema e aprovou o Relatório de Análise de Impacto Regulatório (AIR), que manteve a proibição no país e recomendou medidas de fiscalização contra o comércio do produto.
Nesse período – de 2009 até o momento – começaram as publicações e os estudos mais aprofundados sobre o tema. Uma das pesquisas acontece neste momento e toda população pode ajudar. As alunas do curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Andressa Aparecida de Paula, Gabriele Aparecida Kapp, Kethillin Cristina da Silva Castro, Vivian Comunello Souza e Yasmin Guimarães Michelli, sob a orientação da professora doutora Silvia Regina Valderramas, procuram entender os efeitos do cigarro eletrônico na saúde dos usuários mais jovens, como impacto na função pulmonar, capacidade cardiorrespiratória e nível de atividade física.
A professora Silvia Valderramas relata que um estudo publicado no Jornal Brasil de Pneumologia sobre a prevalência do uso do cigarro eletrônico em jovens indica a influência da interação social como motivação para começar a utilizar o chamado “vape”. Além disso, a professora utiliza como referência uma pesquisa sobre o pensamento de que o cigarro eletrônico ‘substitui’ o convencional.
“No começo, a ideia divulgada era que o cigarro eletrônico faria a pessoa deixar de fumar o cigarro normal. Essa informação não é verdadeira. Foi comprovado que a pessoa usuária do CE não deixou de fumar o convencional”.
Participação da comunidade
Para a pesquisa desenvolvida na UFPR, Silvia e as orientandas contam com a participação da comunidade. São esperadas 120 pessoas voluntárias, sendo 60 do “grupo controle”, ou seja, não fumantes, e 60 fumantes de cigarro eletrônico (CE). Gabriele Kapp conta que tem sido mais fácil encontrar as do primeiro grupo. Por outro lado, um grupo de pessoas fumantes até se inscreveu e preencheu o formulário, mas poucas fizeram os testes necessários para o desenvolvimento da pesquisa.
Esses testes, com acompanhamento das pesquisadoras, são:
- Avaliação da função pulmonar por meio da espirometria;
- Teste do degrau em seis minutos para avaliar a capacidade cardiorrespiratória;
- Aplicação do Questionário Internacional de Atividade Física (IPAQ) para avaliação do nível de atividade física;
- Monoximetria para avaliar o monóxido de carbono exalado;
- Avaliação do grau de dependência.
Além das pesquisas que mapeiam o uso do dispositivo eletrônico, existem estudos para identificar potenciais efeitos na saúde. Um deles associa o CE a uma doença chamada Evali, que é uma lesão pulmonar muito parecida com a provocada pela Covid-19, que causa febre, tosse, dor no peito, vômito, perda de peso e, em 2019, nos Estados Unidos, ocasionou mortes. “Hoje nós estamos vendo lesões pulmonares que impedem a pessoa de trabalhar, ela não consegue mais fazer as suas atividades diárias”, explica a professora Silvia. Esse acompanhamento dos efeitos do CE na saúde converge para o interesse maior da pesquisa desenvolvida por ela e suas orientandas, que é sobre as atividades funcionais.
Para efeitos de comparação, as pesquisadoras informaram que, no teste do degrau, atletas passaram dos 400, enquanto os demais, mesmo não fumantes, não chegaram a 300. Isso levou o grupo a formular uma hipótese de que, no longo prazo, as consequências do cigarro eletrônico podem incluir redução da capacidade cardiorrespiratória, da função pulmonar e nível de atividade física.
O que é o Cigarro Eletrônico?
Outro estudo referência para a professora Silvia Valderramas é do Instituto do Coração (Incor) vinculado a Universidade de São Paulo (USP). Segundo a professora, o Instituto revelou que o consumo de um cigarro eletrônico equivale a uma carteira inteira do cigarro convencional que, em geral, contém 20 cigarros. Esse número aumenta na sessão de uso de narguilé, que equivale a 100 cigarros, ou cinco carteiras inteiras.
Um cigarro eletrônico, segundo Silvia, pode conter nicotina, que é uma substância que causa dependência, ou não. Porém, de acordo com a professora, mesmo que o dispositivo não tenha a presença de nicotina, pode ser preparado com um óleo que tem entre seus componentes o propilenoglicol e o acetaldeído. Essas duas substâncias são utilizadas na produção do vapor. Porém, alerta a professora, a queima desses componentes libera 10 vezes mais formaldeído, uma substância cancerígena que pode levar ao desenvolvimento da doença no pulmão, na língua e faringe.
Além disso, explica a professora, o aquecimento dessas substâncias libera metais pesados como o cádmio. Esse processo pode levar ao desenvolvimento de uma bronquiolite crônica e também a outros tipos de doenças respiratórias.
A venda, importação e propaganda do cigarro eletrônico é proibida no Brasil. Porém, em outubro deste ano, o Senado Federal recebeu um projeto de lei para regulamentar a produção, as fases de comercialização e a fiscalização do produto. Silvia alerta que a liberação do CE no Brasil daria a chance da indústria produzir em larga escala e baratear o produto. Por consequência, o cigarro eletrônico acabaria por alcançar todas as faixas etárias e também todas as classes sociais.
Participe da pesquisa
Para participar e ajudar a pesquisa, inscreva-se pelo formulário: É muito importante participar, também, da etapa dos testes. É nessa fase que as pesquisadoras precisam de mais ajuda para coleta dos dados e análise dos efeitos do cigarro eletrônico.