Estudos de alunos e professores da graduação foram destaque em Congresso Internacional de Design da Informação, com publicação em revista científica da área #AgenciaEscolaUFPR
Por Paula Bulka
Com colaboração de Breno Antunes
Sob supervisão de Chirlei Kohls
O design, a pesquisa e a sociedade estão mais atrelados do que você imagina. É isso o que defende a professora Kelli Smythe, do Departamento de Design da Universidade Federal do Paraná (UFPR). A designer acompanhou a produção de diversos artigos e materiais do curso de Design Gráfico da UFPR, muitos deles ligados a projetos de extensão e à iniciação científica de alunos da graduação. Dois desses estudos tiveram um impacto na prevenção contra a Covid-19: uma cartilha para confecção de máscaras caseiras e cartazes para orientação de cuidados na pandemia. Outra pesquisa busca a melhoria da experiência de deslocamento dos usuários que frequentam unidades de saúde a partir do desenvolvimento de um método específico.
São justamente trabalhos como esses que mostram a intensa colaboração da pesquisa no Design da Informação, área que planeja e constrói, de maneira visual, a forma com que a informação vai ser disponibilizada para os usuários. “Um não existe sem o outro: para que a gente consiga disponibilizar a informação a premissa básica é a pesquisa, ela é focada em uma abordagem que é centrada justamente nas pessoas”, explica Smythe.
Em 2021, a professora, que é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Design da Informação (SBDI), foi uma das organizadoras do 10º Congresso Internacional de Design da Informação, que aconteceu de maneira remota e aprovou ao todo 21 artigos científicos da Universidade, seis deles de autoria de estudantes da graduação.
O Paraná é inclusive um dos polos do Design da Informação no Brasil, principalmente as produções científicas da UFPR e, mesmo com a pandemia da Covid-19, esse título se manteve intacto. As produções logicamente precisaram ser adaptadas para o meio virtual, mas os resultados não poderiam ser mais proveitosos. Diovana Mazur Damacena, aluna do curso de Design Gráfico da UFPR, teve seu artigo “Representações gráficas procedimentais: elementos e relações”, selecionado e publicado em uma importante revista científica da área, a Infodesign.
“O objetivo principal era criar uma representação gráfica para um método de coleta de dados desenvolvido pela minha orientadora [a professora Kelli], então acabamos percebendo que o ideal seria estudar e entender como ela funciona e como pode facilitar o entendimento de conteúdos [para os designers desenvolvedores de sistemas wayfinding]”, conta Diovana.
O método Wayfinding Information Behavior foi desenvolvido pela professora Kelli e utiliza os sistemas wayfinding, processo de orientação espacial que um usuário passa ao se locomover. O método busca, através da coleta de dados, melhorar a experiência dos usuários nesses deslocamentos em ambientes de saúde.
“Quando falamos em ambientes de saúde, as pessoas estão indo nesse lugar muitas vezes não por uma vontade própria. É uma questão que está relacionada à nossa saúde, à nossa sobrevivência, e isso nos afeta psicologicamente. Então qualquer auxílio que venha para suavizar essa tensão é bastante importante”, conclui Smythe.
Informação acessível para prevenção da Covid-19
De todos os trabalhos da UFPR aprovados no Congresso, quatro foram selecionados para a Mostra Brasileira de Design da Informação, organizado pela SBDI. Segundo o professor da UFPR e secretário da Sociedade, Rafael Andrade, a ideia da mostra surge em paralelo com o Congresso, já que a SBDI está completando 20 anos em 2021. “Essa é uma iniciativa não só de promover as pesquisas, mas também de integrar essa produção prática e dar visibilidade a ela. E uma das prerrogativas da SBDI sempre foi a questão de valorizar a iniciação científica, o trabalho dos estudantes”.
Um desses trabalhos é resultado da ação “Demandas de Design Gráfico”, vinculada ao projeto Rede Combate COVID-19, que em 2020, no início da pandemia no Brasil, produziu uma cartilha ilustrada para a confecção de máscaras caseiras. A estudante de Design Gráfico Rebeca Graeml Abdalla participou do projeto e explica que a ideia surgiu em uma época de incertezas sobre a pandemia. “Foi um projeto feito a várias mãos, desde profissionais de saúde que revisaram todo o conteúdo para garantir que a gente estava realmente passando as informações corretas, até um grupo de de alunos que se encarregou de fazer as ilustrações e representar da melhor forma possível”.
Rebeca ainda notou uma ampla circulação da cartilha pelas redes sociais, como o WhatsApp, para além dos muros da UFPR. Depois da produção, a cartilha foi traduzida para o espanhol e o inglês, além de contar com a criação de um vídeo institucional em Libras (Língua Brasileira de Sinais). “Acredito que exista essa impressão de que o design é curso para colocar as informações de uma maneira esteticamente agradável, e não é bem assim. O design ele comunica, ele torna a informação acessível”, complementa.
Outro trabalho exibido na mostra veio do projeto de extensão “Desenvolvimento de materiais gráfico-informacionais e de comunicação de risco para população em situação de vulnerabilidade”, o InformAção, que participou de uma ação coletiva para a produção de peças visuais para as moradoras da Casa da Estudante Universitária de Curitiba (Ceuc). O projeto intitulado “A Ceuc é de todas, o cuidado também” surgiu de um pedido das próprias moradoras para a Pró-reitoria de Assuntos Estudantis da UFPR (Prae) e teve como resultado a impressão de 231 cartazes em 11 modelos distintos, que foram espalhados pela república.
As informações foram inicialmente levantadas pelo Departamento de Terapia Ocupacional da UFPR para posterior análise, categorização e transformação em linguagem acessível pela equipe de Design. A professora Kelli Smythe, que também orientou a iniciativa com participação da professora de Design Gráfico Juliana Bueno, explica que o grande desafio foi fazer com que as meninas, tão diferentes entre si, assimilassem as informações dos cartazes. “Desde o começo nós falamos com as moradoras, fizemos reuniões, conversamos, tentamos entender os medos, anseios, para então achar as informações e impactá-las. A ideia era passar, além da informação, um pouco mais do espírito de coletividade. Daí que vem o slogan da campanha, que é ‘a Ceuc é de todas, e o cuidado também’”.
Karina Antoniolli é estudante de Design Gráfico na UFPR, fez parte da ação na Ceuc e ressalta a importância da pesquisa e extensão universitária. “Participar de projetos de extensão, iniciação científica e outras modalidades faz com que nós, estudantes, possamos aprender além do que é ensinado na sala de aula. É um orgulho poder fazer parte desse e de outros projetos, porque são aprendizados que me acompanharão para a vida e principalmente em meu percurso acadêmico”.
Foto destaque: Peter Atkins/stock.adobe.com