Projeto de inclusão digital é desenvolvido em escola de Curitiba e busca doações para dar continuidade na aprendizagem a distância na pandemia #AgenciaEscolaUFPR
Por Breno Antunes da Luz, bolsista de Jornalismo
Sob supervisão de Maria Fernanda Mileski
Durante o período da pandemia e do isolamento social, as tecnologias passaram a ocupar um papel ainda mais importante na vida das pessoas, que podem trabalhar, fazer compras e falar com familiares e amigos com o auxílio de dispositivos eletrônicos e da internet. Desde 2018, pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Informática da Universidade Federal do Paraná (PPGInf/UFPR) desenvolvem um projeto de orientação e ensino na Escola Municipal Rachel Mader Gonçalves, que busca integrar alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) com o universo das tecnologias. A ação, que teve as atividades presenciais suspensas pela pandemia da Covid-19, agora busca por doações de equipamentos para a continuidade e auxílio aos estudantes.
O eixo que direciona o trabalho realizado pelos pesquisadores é o desenvolvimento do Pensamento Computacional, que significa um conjunto de habilidades que favorecem o uso da tecnologia, não apenas como espectadoras, mas com capacidade para a manipulação, a modificação e uso do objeto.
A doutoranda do PPGInf e uma das criadoras do projeto, Júlia Ortiz, conta que o grupo percebeu os benefícios que os alunos da EJA poderiam adquirir com essa forma de pensar a tecnologia, que é usada para resolver problemas de várias áreas, não apenas da Informática.
“São pessoas [os alunos da EJA] que muitas vezes estão excluídas digitalmente e, em alguns casos, até socialmente. Elas precisam de alguém para mostrar e ajudar no entendimento da tecnologia”, afirma a pesquisadora.
Ação transformadora
A ideia do projeto começou durante a graduação de Júlia, na Universidade do Vale do Itajaí (Univali) em Santa Catarina. Após conquistar o seu diploma em Ciências da Computação, a estudante ingressou no Mestrado do PPGInf da UFPR e apresentou seu projeto para o professor do programa Roberto Pereira. A proposta foi para que desenvolvessem em conjunto as visões metodológicas e a parte social da ação. Posteriormente, sua dissertação foi premiada no Concurso Alexandre Direne de Teses, Dissertações e Trabalhos de Conclusão de Curso em Informática na Educação (CTD), promovido pela Comissão Especial de Informática na Educação da Sociedade Brasileira de Computação.
De lá para cá, os pesquisadores fizeram uma parceria com a Escola Municipal Rachel Mader Gonçalves, que fica no bairro Uberaba, em Curitiba. A instituição oferece tanto o espaço físico quanto seus alunos para receberem as aulas. Foram ministradas oito aulas em 2018 e mais oito workshops em 2019 para alunos da EJA. Em 2020, as atividades tiveram que ser interrompidas por conta da pandemia da Covid-19.
Além de ensinar noções básicas de tecnologias, a metodologia utilizada para o ensino busca priorizar o aluno, ao trazer e ouvir o que seria importante de se aprender para o cotidiano deles.
As atividades abordam ações relacionadas ao uso do celular, como tirar fotos, pesquisar por comando de voz no YouTube, realizar chamadas de vídeo, rimas, escrita, leitura, entre outros. Com base nisso, Júlia e Roberto criaram um modelo para professores que atuam na EJA e que querem aplicar o pensamento computacional com estudantes.
A doutoranda explica que em termos sociais o resultado é a aprendizagem. “Tínhamos alunos que tinham medo até de segurar o celular. São pessoas que avançaram tecnologicamente por seus próprios méritos”.
Impacto social
A faixa etária dos alunos que participam do projeto vai dos 17 anos até os 70 anos. Para Júlia, a ação se mostra importante mesmo durante a pandemia, pois passa pelas relações mais básicas que se enfraqueceram e promove a emancipação que a tecnologia proporciona. “Hoje nós podemos escutar nossas músicas na internet, pedir comida, fazer compras do mercado, falar com familiares e buscar informações. São coisas que, dando continuidade ao trabalho que realizamos, vão estar disponíveis para os alunos”.
Roberto destaca que o impacto da pesquisa vai além da contribuição acadêmica. Para o professor, no projeto todos trabalham, aprendem e experimentam juntos, mostrando que a tecnologia pode e deve ser para todas as pessoas. “Quando conduzimos uma prática, fazemos isso juntos, participando e conversando. Todos nós evoluímos e aprendemos muito sobre como trabalhar, estabelecendo uma parceria positiva”, explica.
A ideia é que os alunos sejam usuários multiplicadores de conhecimento, compartilhando o que foi aprendido com amigos, vizinhos e familiares. “Tínhamos uma aluna de 60 anos que, quando chegou, não sabia tirar foto. Quando terminamos o curso, ela contou que no início não achava que iria conseguir aprender, mas ao fim não queria mais parar de evoluir”, relatou a doutoranda.
Doações
Com a suspensão do projeto em 2020, os pesquisadores buscam por ajuda da comunidade, pois a maior parte dos alunos não possuem equipamentos para continuar a aprender. Para isso, está sendo realizada uma rifa, em que cada pessoa pode contribuir com um valor simbólico. O dinheiro arrecadado será revertido diretamente para a compra de celulares para os estudantes.
“A pandemia afeta a todos, ainda mais as pessoas com baixa renda e em fase de alfabetização. O projeto precisa conseguir transpor essas limitações de recursos e oferecer as experiências de forma remota”, explica o professor. Roberto ainda finaliza que a equipe espera que mais pessoas tenham interesse em aplicar e conduzir iniciativas semelhantes em outros contextos.
Para saber mais ou colaborar através da doação para os alunos da EJA, clique aqui. Veja o vídeo em que os pesquisadores falam sobre o projeto e disponibilizam um formulário para doação de aparelhos:
Acesso digital na UFPR
Uma ação de inclusão digital também aconteceu na UFPR em 2020. Além das atividades desenvolvidas de dentro para fora da Universidade – assim como a pesquisa da Júlia e o projeto na Escola Municipal Rachel Mader Gonçalves -, a UFPR também criou um plano de oferta de equipamentos para atender a própria comunidade acadêmica durante a pandemia. A Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) forneceu, até agora, 476 computadores portáteis e cerca de 284 pacotes de internet para estudantes sem acesso digital. Veja mais informações aqui.
Foto destaque: Pixabay/Divulgação