Conheça pesquisas e histórias do Setor de Artes, Comunicação e Design, o Sacod, em sua trajetória de uma década
Por Cecilia Sizanoski e Louize Lazzarim
Sob orientação de Chirlei Kohls
“Agitar forte e repetidas vezes em vários sentidos; fazer tremer; estremecer”. De acordo com o dicionário Michaelis, essa é a definição do verbo sacudir. Além disso, a terceira pessoa do presente, “sacode”, estava entre as opções de nome quando, em 2012, houve a votação para definir como se chamaria o novo setor da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Reunindo os departamentos de Artes, Comunicação e Design, nasceu o Sacod, que por uma letra não fez parte da conjugação do verbo, mas continua carregando seu significado. Hoje, o Setor é lar de pesquisas dos mais diversos tipos; laboratórios e projetos de extensão; prêmios e histórias curiosas. Por isso, aqui você confere 10 curiosidades científicas sobre os 10 anos de Sacod.
Por falar em curiosidades, Ricardo Marcelo Fonseca, o atual reitor da UFPR, era diretor do Setor de Ciências Jurídicas na época e fez parte da discussão sobre o nome. Foi ele quem sugeriu “Sacode”. Essas informações estão no ebook que faz parte da comemoração dos 10 anos do Setor de Artes, Comunicação e Design (Sacod), que teve uma solenidade comemorativa em novembro do ano passado. Antes, os três departamentos que compõem o Sacod eram ligados ao Setor de Ciências Humanas.
Além de inovações relacionadas à ciência, o Setor também se destaca por ser um dos únicos a ser dirigido exclusivamente por mulheres, a diretora Regiane Ribeiro e a vice-diretora Stephanie Dahn Batista. Na história do Sacod, também é a primeira vez que isso ocorre, já que anteriormente a essa chapa, que foi eleita em 2017, a direção era composta apenas por homens.
Nestes 10 anos, o Setor cresceu e se desenvolveu muito. A diretora do Sacod, Regiane Ribeiro, aponta para a consolidação dos programas de pós-graduação e a criação do curso de Produção Cultural como duas das grandes mudanças. “Acredito que o mais importante era conseguir fazer essa conexão cada vez maior com as pessoas, porque a gente tem uma potência tão grande quando junta áreas como as artes, a cultura, a comunicação e o design”, diz Regiane. Stephanie complementa: “Esses 10 anos trazem desenvolvimento e amadurecimento. Nesse período o Sacod sai de uma posição muito tímida e hoje é uma instância reconhecida, um setor estratégico”.
Confira abaixo 10 curiosidades de pesquisas e histórias do Sacod:
1) Ciência premiada
Além da pesquisa e participação na ciência, o Setor também marca presença em premiações e concursos, como o “Prêmio Jovem Jornalista”, “Oscar do Design” e o prêmio nacional de Artes Visuais EDP nas Artes.
O Jovem Jornalista premiou os estudantes de Jornalismo Lucas Daniel, Izabela Morvan e Mayala Fernandes pelo desenvolvimento do documentário “Nem pop, nem top – um drama de saúde pública no centro do agronegócio”, sobre os casos de câncer em mulheres no sudoeste do Paraná.
Outro destaque na premiação, agora na área do Design, foi o iF Design Talent Award 2021, conhecido como “Oscar do Design”. Estudantes de Design de Produto da UFPR Gislaine Lau e Felipe de Carvalho Ishiy produziram uma poltrona ecológica e biodegradável semelhante ao couro a partir da kombucha, provando que também há ciência no design. Por fim, mas não menos importante, a egressa de Artes Visuais Érica Storer de Araújo, recebeu uma premiação nacional pela instalação “Sonhe alto, trabalhe muito, vá longe”, exposta no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo.
2) Circulação do conhecimento
Quando finalizamos um trabalho ou obra que envolveu muita dedicação, o desejo que surge é de mostrar para o mundo aquilo que foi feito. Na pesquisa não é diferente, principalmente pensando no avanço e popularização da ciência. Algumas vezes as produções são enviadas para eventos científicos e revistas Brasil, e até mundo afora. E o próprio Sacod tem revistas científicas e eventos acadêmicos para circulação do conhecimento.
No Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCOM) a Revista Ação Midiática – Estudos em Comunicação, Sociedade e Cultura é um espaço para estudar e publicar artigos da área. Já na pós-graduação em Música, o periódico é a Revista Música em Perspectiva, que teve 10 edições até o momento, com temáticas diversas dentro do campo musical. Enquanto isso, o livro “Novos Horizontes da Pesquisa em Design: Coletânea de estudos do PPGDesign/UFPR” anualmente reúne amostras da produção científica realizada no Programa.
Eventos também não faltam por aqui. Na Comunicação, pode-se encontrar vários deles, incluindo o tradicional Encontro de Pesquisa em Comunicação (Enpecom), que promove discussões e apresentações de trabalhos na área. O PPG de Design é responsável por organizar e sediar o evento de extensão Seminário de Pesquisa em Design da UFPR (SPD) para registrar e divulgar as pesquisas do programa. Já na Música, são realizadas anualmente duas edições do Colóquio do PPGMúsica, um evento interno do programa que acontece “com o intuito de ampliar a divulgação de pesquisas acadêmicas e produções artísticas”.
3) Primeiro mestre do Setor
O primeiro mestre formado pelo Setor foi Claudio Aparecido Fernandes, do Programa de Pós-graduação de Música, com o tema de dissertação “O Choro Curitibano”. Este trabalho, apresentado em 2011, tem como objetivo levantar as personagens, localidades, compositores e instituições que propiciaram o ressurgimento deste gênero musical nas últimas décadas como uma identidade sonora curitibana.
Os três programas do setor: Design, Música e Comunicação, criados em 2005, 2006 e 2010, respectivamente, são propostas inovadoras, cada uma em sua especialidade. O programa de Design foi o primeiro da sua área no sul do Brasil e o quinto no país todo, conquistando nota 5 na avaliação da Capes 2017-2020; o Programa de Pós-graduação em Comunicação também tem nota 5 e o de Música, 4.
4) Onde a pesquisa, o ensino e a extensão acontecem
O campus Juvevê nem sempre foi sede dos cursos de Comunicação, Artes e Design, assim como conhecemos atualmente. O local, durante muitos anos abrigou o curso de Engenharia Florestal, apenas em 2011 que passou a ser sede do Departamento de Comunicação (Decom). Para o ex-pró-reitor Paulo Krüger, em conversa com a Superintendência de Comunicação Social da UFPR, o investimento nessa mudança consolidou a preocupação da UFPR na melhoria das condições de infraestrutura dos diversos setores da Universidade. Além disso, o local dentro do campus que hoje é destinado ao Sacod, que foi inaugurado em 27 de novembro de 2012, antes sediava a Imprensa da UFPR, que hoje foi transferida para o Complexo da Universidade em Piraquara.
O curso de Jornalismo da Universidade completou em 2014 seus 50 anos de existência, mas nem sempre foi estruturado da forma como vemos hoje. Sua primeira sede foi a Reitoria, e logo passou para a Santos Andrade. No edifício da Praça Santos Andrade, permaneceu até o ano 2000, só após isso passou a ser no Campus Juvevê. Já o curso de Artes Visuais, que tem suas aulas localizadas no Departamento de Artes (DeArtes), foi criado em 1975, mas inicialmente tinha o nome de Educação Artística. No ano de 1985 o curso passa a contar com três habilitações: Artes Plásticas, Desenho e Música. O DeArtes fica no Campus Batel da UFPR e as atividades do Departamento de Design são na Reitoria. Os três departamentos têm atividades no prédio que abriga a direção do Setor, no Campus Juvevê, com laboratórios e aulas, por exemplo.
5) A ciência dos concertos, da divulgação e dos videogames
Um dos argumentos principais para a retirada dos departamentos de Artes, Comunicação e Design do Setor de Ciências Humanas é a necessidade de equipamentos e laboratórios específicos para os cursos, como afirma a vice-diretora do Sacod, Stephanie Dahn Batista. Dez anos após o nascimento, o Sacod tem 27 laboratórios, sendo 13 do Departamento de Artes; sete da Comunicação; seis de Design; e a Agência Escola UFPR, que se dedica à prática da divulgação científica a partir dos meios de comunicação, que é um laboratório vinculado ao Setor, enquanto os outros são aos departamentos.
Entre eles, existe um laboratório que se propõe a estudar a divulgação científica através da música. No Lamusa (Laboratório de Música Antiga da UFPR) o que os alunos aprendem se transforma em apresentações e espetáculos de música barroca, com o objetivo de recuperar obras consideradas esquecidas.
Além disso, o LabDsi é o Laboratório de Design de Sistemas de Informação da UFPR e entre as pesquisas recentes do grupo, duas foram focadas no design de jogos e coordenadas pelo professor de Design da UFPR André Battaiola. Uma delas se mistura com neuropsicologia e busca entender mais sobre o design de jogos para crianças com discalculia do desenvolvimento.
Outros exemplos de laboratórios são o de História da Arte, Crítica e Curadoria; Cerâmica; de Vídeo/Estúdio de TV; de Madeira; Pesquisa de opinião pública; Prototipagem e vários outros.
6) Presença feminina
Apesar de ainda encontrarem dificuldades nas áreas antes apenas frequentadas por homens, as mulheres são 39% do corpo docente da pós-graduação da UFPR, segundo dados levantados pela equipe da Agência Escola em 2021 em parceria com a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG) – no Sacod, a participação feminina na docência é de 47%. O levantamento ainda mostra que 56% dos cursos de pós-graduação da Universidade possuem maior presença feminina, em comparação com a masculina.
Além disso, cada vez mais percebem-se presenças femininas em cargos de liderança, como a professora de Engenharia Florestal e vice-reitora da Universidade, Graciela Bolzon de Muniz, e a diretora e vice-diretora do Sacod, Regiane Ribeiro e Stephanie Dahn Batista, respectivamente, que são as primeiras no cargo de direção do Setor.
Segundo Graciela, em entrevista à Agência Escola, “precisamos ser reconhecidas pelo trabalho de liderança e não apenas pelo trabalho secundário”. O que pensa a vice-reitora também vai ao encontro das falas de Regiane e Stephanie, que de início encontraram dificuldades nas burocracias envolvendo a direção, mas hoje sentem muito orgulho da boa relação com os demais campi, provando que o lugar das mulheres é onde elas quiserem estar.
7) Profissão cientista
Todo cientista é pesquisador e para isso, assim como para ser médico, músico, engenheiro, professor ou qualquer profissional, é necessário receber um salário. Nas instituições públicas com programas de pós-graduação, uma das formas possíveis de remuneração para que as pesquisas possam ser desenvolvidas é através das bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). De acordo com a Pró-reitoria de Pesquisa e Pós-graduação (PRPPG), na UFPR existem 2.380 bolsistas Capes de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Desses, 60 são estudantes do Sacod, número que equivale a cerca de um terço dos pós-graduandos do Setor, que somam 193. Além disso, a Universidade Federal do Paraná recebe outras bolsas.
8) Dados abertos
Bancos de dados em Comunicação e Artes? É isso mesmo! Em artes, o projeto de pesquisa Crônicas de Arte Ação nasceu em 2019 e busca reunir e publicar registros de Arte de Ação na América Latina, a fim de montar uma base de dados aberta. O termo se refere à arte não objetual feita em países de língua latina e alguns exemplos são happenings, performances e intervenções urbanas. O projeto começou levantando dados da cidade de Curitiba.
Já a pesquisa Curitiba Imaginada faz parte do PPGCOM e é a parte curitibana do projeto internacional Cidades e Comunidades Latinas Imaginadas no Mundo, que tem como objetivo entender como as pessoas se relacionam com cada cidade na América Latina e Espanha. Um dos objetivos do projeto é criar um banco de dados aberto sobre como são pensadas as comunidades latinas. De acordo com a coordenadora da pesquisa, Valquíria Michela John, em entrevista à Agência Escola, essas informações podem ser úteis para pensar políticas públicas e investigar o imaginário urbano das cidades latinas.
9) A divisão e produção das pesquisas
O Sacod conta com 27 grupos de pesquisa, sendo oito do PPG de Música, 10 de Comunicação e nove de Design. São pesquisas das mais variadas, que buscam entender desde o Contexto, Estruturação, Influência e Estilo Musical entre 1850-1950 até sobre Comunicação Política Digital Contemporânea.
O Grupo de Pesquisa em Etnomusicologia da UFPR tem até mesmo um programa de rádio, o Tropicana Musical. De acordo com a página do grupo, o conteúdo do programa é elaborado por pesquisadores brasileiros e internacionais e a proposta é “a divulgação científica e artística da produção musical das Américas e do Sul Global a partir de conteúdos de pesquisas, gravações, entrevistas e informações atualizadas”.
Outro exemplo de grupo de pesquisa é o Núcleo de Design & Sustentabilidade, que existe desde 2003 e em 2007 liderou o Primeiro Simpósio Brasileiro de Design Sustentável (SBDS). As parcerias com a sociedade são marca registrada do Núcleo, especialmente com empresas. Tudo isso gira em torno de um objeto de pesquisa: a habitação de interesse social e seus moradores.
10) Arte e ciência: uma relação íntima mas nem sempre lembrada
Lembramos que na arte também tem ciência. Segundo a professora Luana Veiga, do Departamento de Artes da UFPR, em entrevista à Agência Escola, existem dois tipos de pesquisa envolvendo a arte: estudos em arte e os sobre arte. Os estudos sobre arte possuem a obra como seu objeto de investigação, já nos estudos em arte, a pesquisa em si é a arte. Entretanto, em ambos os métodos científicos são utilizados, mesmo que seguindo padrões diferentes. Como resultado final, esses estudos artísticos ajudam a sociedade a entender ainda mais sobre a existência humana e sua organização, seguindo modelos próprios.
A partir do estudo “O corpo no palco de gênero: representações corpóreas de feminilidades e masculinidades na arte brasileira no século XX e XXI”, coordenado pela professora do Departamento de Artes e vice-diretora do Sacod, Stephanie Dahn Batista, foi criada a exposição “Vestidos em arte: os nus nos acervos públicos de Curitiba”. A mostra aconteceu no Museu Oscar Niemeyer entre 2017 e 2018 e teve visitação de 89 mil pessoas, sendo uma das mais visitadas do mundo na época.
E aí, você já conhecia alguma dessas curiosidades? Compartilhe com a gente o que você sabia, assim como histórias que você ache legais e que não estão na reportagem!
Foto destaque: Gabriel Arouca Leão. Foto premiada no concurso “Olhares fotográficos – Sacod 10 anos”
