As versões para elaboração de material impresso e digital adaptado foram feitas por projeto de pesquisa do curso de Design Gráfico da Universidade
Por Chananda Lipszyc Buss e Emerson Araújo
Sob orientação de Chirlei Kohls
O Guia de recomendações para o desenvolvimento de materiais didáticos para o público de baixa visão auxilia na divulgação das adaptações necessárias para que um material didático possa incluir pessoas com baixa visão. O guia orienta qual tipografia, layout, descrição e linguagem e cores devem ser usadas. Juliana Bueno, coordenadora do projeto de pesquisa do Design Gráfico da UFPR responsável pelo guia, explica que o trabalho realizado foi compilar os estudos sobre a área em um material com explicações acessíveis. Isso foi feito para que qualquer pessoa que fosse montar um material didático pudesse incluir pessoas de baixa visão.
O produto tem sido utilizado pela unidade Natalie Barraga do Centro de Atendimento Educacional Especializado (CAEE), em Curitiba, para fornecer às escolas um material de exemplo na hora de criar livros e cartilhas para alunos com baixa visão. O intuito é que a utilização do guia torne a produção do material mais fácil e acessível. A diretora do centro educacional, Anne Goyos, comenta: “o aluno estando na escola, temos que trabalhar em parceria com as instituições de ensino, no que chamamos de trabalho colaborativo. Neste contexto, orientamos as escolas sobre qual o tipo de material que a instituição deve ter para que seja acessível ao aluno. É nesse ponto que o guia tem tido uma extrema importância”.
Ela explica que o guia é capaz de alertar sobre detalhes que normalmente não são lembrados na hora de produzir os materiais didáticos e que podem atrapalhar o aprendizado do aluno. “O guia é extremamente claro e didático. Isso proporciona para as pessoas nas escolas trabalhando em materiais para alunos com baixa visão que fiquem atentos a alguns detalhes como tipologia, os contrastes, a questão das cores, a questão do tamanho. Para que assim a aprendizagem do estudante seja o mais acessível possível”.
O CAEE Natalie Barraga é um centro mantido pela rede pública para o atendimento das pessoas com deficiência visual. A prioridade do projeto é atender os estudantes com cegueira ou baixa visão dos colégios estaduais, mas também os alunos de colégios privados, municipais e a população no geral é atendida de acordo com a disponibilidade de vagas. O CAEE tem como objetivo organizar e fornecer acessibilidade e recursos pedagógicos para as pessoas com deficiência visual.
De acordo com dados do censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2010, quase 20% da população brasileira possui algum tipo de deficiência visual. Isso impacta na trajetória acadêmica de cada uma dessas pessoas. Foi tendo isso em vista, que o projeto “Tela Multitoque para Auxílio ao Atendimento Especializado de Pessoas com Baixa Visão”, do Design Gráfico da UFPR, criou um material para auxiliar estudantes.
Emilia Christie Picelli Sanches, doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e participante do projeto, conta que, para ela, o que a motivou no trabalho foi: “retornar o conhecimento para a sociedade, ajudar a população com o conhecimento que estou gerando na academia, na universidade. Eu fico muito feliz”, relata.
Já Karina de Abreu Antoniolli, designer gráfico pela UFPR e outra participante, conta como um exemplo que segue no Instagram algumas pessoas com deficiência. E explica que elas são as únicas, dentre as que Karina segue, que descrevem as imagens publicadas, como forma de incluir pessoas com deficiência visual. “Por que a gente não está descrevendo também? Por que a gente está excluindo essas pessoas que têm baixa visão? Por que a gente não está adaptando para que todos possam ter acesso?”. Esse exemplo pode ser expandido para a inclusão dos deficientes visuais em todos os espaços, como nos ambientes acadêmicos.
Alexandre Yanagui, garoto de 17 anos, tem baixa visão em decorrência de causas cerebrais e não dos olhos, a chamada deficiência visual cortical. Para ele, o guia é muito bom principalmente para o corpo docente das escolas e das editoras. Segundo ele, os materiais não são bem adaptados para esse público. “Isso quando são”, completa. Ele explica que o trabalho pode ajudar a mudar esse cenário: “eu acredito que se o guia for amplamente divulgado e aplicado será de grande valia não só para mim, mas para outros portadores de deficiência visual”.
Foto destaque: Design Gráfico UFPR/Divulgação