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Estudo da UFPR associa distúrbio do sono ao mieloma múltiplo

A pesquisa foi realizada no Laboratório de Neurofisiologia da Universidade, do Departamento de Fisiologia que integra o Setor de Ciências Biológicas

Por Murilo Ferreira

Foto: banco de imagem

Supervisão: Maíra Gioia

 

A Universidade Federal do Paraná (UFPR) desenvolveu um estudo sobre uma área pouco explorada na qualidade de vida dos pacientes com mieloma múltiplo, uma doença rara e complexa. A pesquisa investiga a possível relação entre a doença oncológica e os distúrbios do sono e revela que os pacientes diagnosticados com mieloma múltiplo apresentam uma piora significativa na qualidade do sono.​ O mieloma múltiplo é uma doença maligna do sangue, que se desenvolve a partir de células linfóides maduras denominadas plasmócitos (um tipo de glóbulos brancos) que têm origem na medula óssea.

Da esquerda para a direita: Lais Soares Rodrigues (pós-doutoranda do Laboratório de Neurosifiologia), professor Marcelo M. S. Lima (coordenador do Laboratório de Neurofisiologia), Mariana Fiori (primeira autora do trabalho e aluna de iniciação científica, em sua defesa de TCC do curso de Farmácia), Evellyn Mayla Azevedo (Doutoranda do Laboratório de Neurofisiologia). Foto: arquivo pessoal

O estudo foi realizado no Laboratório de Neurofisiologia da UFPR, coordenado pelo professor Marcelo Lima, do Departamento de Fisiologia e que integra o Setor de Ciências Biológicas. O Laboratório se concentra, principalmente, nos estudos da doença de Parkinson, ao investigar suas questões não-motoras, mas o projeto sobre mieloma múltiplo surgiu de uma parceria com o professor Daniel Bruce, do Departamento de Genética, a principal referência na Universidade para essa doença.

 

A ligação entre o sono e o mieloma múltiplo

 

​O mieloma múltiplo é uma doença rara que afeta em geral uma população mais idosa, mas pode se manifestar em indivíduos mais jovens. ​Os pesquisadores optaram por uma chamada pública, buscando voluntários que pudessem responder a questionários online. Além de pacientes com a doença, também buscaram um grupo de controle composto por pessoas sem mieloma múltiplo, mas que se enquadram no mesmo perfil etário. A iniciativa foi muito satisfatória, o que foi uma surpresa para a equipe.

 

Foto: Jonathan Borba/unsplash

 

“A gente conseguiu um número, eu diria, bastante expressivo de voluntários, foram 119 ao total”, relata o professor Marcelo.

 

​Resultados e o futuro da pesquisa

 

​Os dados revelaram que os pacientes com mieloma múltiplo, em comparação com o grupo de controle, apresentaram uma piora na qualidade do sono.

 

“Os instrumentos foram eficientes para demonstrar que esses pacientes com mieloma múltiplo quando comparados ao grupo controle manifestaram, então, nos parâmetros analisados, uma pior qualidade de sono”, afirma.

 

O professor Marcelo, no entanto, destaca as limitações do estudo, pois foram utilizados questionários baseados na percepção dos voluntários e não dados objetivos. Ele pondera que isso permitiu a coleta de informações realistas de pacientes que talvez nunca tivessem sido ouvidos dessa forma. O trabalho não conseguiu isolar o fator do tratamento da doença, pois seria antiético solicitar que os pacientes interrompessem a terapia. Pacientes que já tinham recebido transplante de medula óssea também foram excluídos do estudo, pois isso introduziria um viés que dificultaria a análise dos dados.

Foto: Rizky Sabriansyah/unsplash

A pesquisa também reforça a importância do sono para a saúde, destacando seu papel no bom funcionamento do sistema imunológico. Uma boa noite de sono é crucial para a produção de moléculas relacionadas à resposta imune, o que pode impactar positivamente o tratamento de doenças como o mieloma múltiplo. O professor Lima reforça: “Tentar melhorar a qualidade de sono desses pacientes pode inclusive impactar positivamente no tratamento delas, seja pela melhora do sono propriamente, seja pelas repercussões imunológicas”.

​O trabalho já foi apresentado em um congresso da Sociedade Brasileira de Neurociência e Comportamento (SBNEC) pela aluna Mariana Fiori, que conduziu a pesquisa como seu trabalho de conclusão de curso de Farmácia. O professor espera que o artigo seja submetido em breve para avaliação por pares e enfatiza que o trabalho foi feito em grande parte por uma aluna de graduação, o que demonstra a qualidade dos estudantes da Universidade. Ele considera que o projeto reflete como a UFPR se destaca por meio dos seus três pilares – ensino, pesquisa e extensão -, de maneira a “produzir conhecimento, formar bem os alunos, produzir ciência e fazer com que essa ciência se torne acessível à população.”

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