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Doação de sangue sem tabus: hematologista da UFPR explica mitos e verdades

Por Flávia Cé Steil

Fotos: Giovani Pereira Sella

EDIÇÃO: Priscila Murr

 

Apenas 1,4% dos brasileiros doam sangue por ano para o Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados de 2022, apurados pelo Ministério da Saúde. Isso significa que o Brasil está dentro das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que orientam que o número de doadores deve estar entre 1 e 3% da população. Mesmo assim, para manter os estoques regulares e evitar o desabastecimento dos bancos, é importante aumentar esse número. 

De acordo com um levantamento feito pela companhia farmacêutica Abbott, medo e falta de informação são os principais fatores para que não existam mais doadores regulares. Mas, diferentemente do que muita gente ainda pensa, o processo de doação é simples. E para comprovar isso, em entrevista para a Agência Escola UFPR, a médica hematologista Lenisa Albanske Raboni, que é responsável técnica da Agência Transfusional do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, reúne mitos, verdades e curiosidades sobre doação de sangue, plaquetas e medula óssea.

 

 

Médica hematologista Lenisa Albanske Raboni, responsável técnica da Agência Transfusional do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná,

 

AGÊNCIA ESCOLA [AE]: Quem está apto a doar sangue?

LENISA RABONI [LR]: Para se tornar um doador de sangue, você tem que ter, pelo menos, cinquenta quilos e mais de dezoito anos ou mais de dezesseis anos acompanhado de um responsável. Você deve ter se alimentado bem e dormido adequadamente. Em geral, se você tem uma saúde boa e não toma nenhuma medicação, pode ser um doador de sangue. No site da Secretaria de Saúde do Paraná (https://www.saude.pr.gov.br/Pagina/Doacao-de-Sangue) há uma lista completa de impedimentos temporários e definitivos à doação.

 

AE: Pode haver algum efeito colateral ou problema por doar sangue? 

LR: Não, porque é uma quantidade segura de sangue coletado. As perguntas da triagem são pensadas para a segurança do doador. Antes de doar, ele deve ter comido e dormido adequadamente. Depois, é importante o repouso e não deve trabalhar em altura. As maiores reações possíveis são o hematoma que pode acontecer no braço ou a reação vaso vagal, o que é uma sensação de desmaio depois de doação.

 

AE: Quanto tempo dura uma doação? 

LR: A doação de sangue total é de no máximo quinze minutos. O que demora um pouco mais é passar pela triagem, pela coleta e o momento de ficar em repouso. Isso dura em torno de uma hora, mas a doação em si leva apenas alguns minutos.

 

AE: E quais os benefícios para os doadores?

LR: O principal benefício é você vir e ajudar três a quatro pessoas. Existem algumas gratificações que se recebe. Por exemplo, algumas empresas dão o dia de trabalho, você ganha desconto para fazer alguns concursos ou desconto de 50% em shows. Mas o principal ganho é você poder salvar vidas.

 

AE: Qual é o processo para se tornar doador de plaquetas? 

LR: Aqui no nosso centro, a gente pede pra você ser primeiro um doador de sangue total e, no dia que você vier doar, manifestar a vontade de ser um doador de plaquetas. Depois disso, a gente avalia se você tem um acesso bom e faz um hemograma para avaliar sua quantidade de plaquetas que você tem. Existe também um critério um pouco diferente para ser doador de plaquetas: você tem que ter no mínimo sessenta quilos, não é cinquenta. É um processo de coleta diferente, enquanto a doação de sangue dura  em torno de quinze minutos, a de plaquetas leva em torno de uma hora e meia. 

 

AE: Quem recebe transfusão de plaquetas? 

LR: Pacientes em quimioterapia ou com doenças como leucemia, câncer e cirrose hepática, que baixam o nível de plaquetas. Aí, recomenda-se a transfusão. 

 

AE: E como funciona a doação de medula óssea?

LR: Você tem que procurar um hemocentro, tem que ter uma boa saúde (mas dependendo da doença ou dos remédios que você toma, não há contraindicações). A única limitação é ter no mínimo 18 e no máximo 35 anos. A partir disso, você vai coletar um tubo de sangue e, no momento, não existe nenhum exame. É a partir do tubo de sangue mesmo que você vai para o banco de doadores de medula óssea nacional e internacional.

 

 

AE: O que avalia a compatibilidade de medula?

LR: É um estudo genético feito através do tubo de sangue coletado. Se você for selecionado como compatível com alguma indicação de transplante, será feita uma avaliação mais completa por HLA (Human Leukocyte Antigen – Antígeno Leucocitário Humano), para confirmar a compatibilidade. Essa avaliação só é feita depois de atestada a combinação, por conta do alto custo da avaliação completa do HLA.  

 

AE: Por quais processos o sangue passa antes de ser encaminhado para os pacientes? 

LR: Do doador, é retirada uma bolsa de sangue total. Nela, são feitos exames de sorologias para ter certeza de que o sangue não vai passar nenhuma doença para quem vai receber. Depois, a bolsa passa por uma primeira centrifugação e se transforma em duas: uma de concentrado de hemácias e outra de plasma com plaquetas. Essa segunda é centrifugada novamente e dividida em mais duas bolsas, uma só de plaquetas e outra uma só de plasma. A gente tem como fazer ainda mais uma centrifugação do plasma e fazer uma nova bolsa de crioprecipitado, que pode ajudar até quatro pessoas. Todas essas três ou quatro bolsas são estocadas até que saia o resultado da sorologia. Vindo resultado negativo, elas são liberadas para doação. Se for positivo, ela é automaticamente bloqueada e descartada.

 

AE: É seguro receber transfusão de sangue? 

LR: Hoje, sim. O risco de transmissão de doenças é praticamente zero. Porém existem outros riscos, como o de reação transfusional, de autoimunização, que é quando o receptor produz um anticorpo contra o sangue transfundido.

 

AE: Por que não se pode doar sangue por seis meses caso a pessoa tenha feito uma tatuagem ou piercing? 

LR: Porque procedimentos perfurocortantes aumentam o risco de infecção por vírus que passam pelo sangue, como HIV, hepatite B, hepatite C ou sífilis. Além do risco de contaminação, existe a janela imunológica, que pode fazer com que o vírus não seja identificado no sangue, mesmo que a pessoa esteja contaminada. Por isso, esses procedimentos bloqueiam a doação por seis meses.

 

AE: Como o Hemonúcleo atende às demandas do Hospital de Clínicas (HC) UFPR?

LR: Hoje, com as doações que temos no Hemonúcleo, a gente atende toda demanda. Por fazermos parte da Hemorrede, além de atender o HC, colaboramos com o Hemepar, e encaminhamos bolsas de sangue sempre que outros hospitais precisam. Hoje temos uma coleta média de seiscentas a setecentas bolsas de sangue total por mês, e a gente usa em torno de quinhentas aqui para o hospital.

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Sobre a Agência Escola UFPR

A Agência Escola UFPR, a AE, é um projeto criado pelo Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD) para conectar ciência e sociedade. Desde 2018, possui uma equipe multidisciplinar de diversas áreas, cursos e programas que colocam em prática a divulgação científica. Para apresentar aos nossos públicos as pesquisas da UFPR, produzimos conteúdos em vários formatos, como matérias, reportagens, podcasts, audiovisuais, eventos e muito mais.

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