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Diante de pandemia, pesquisadora da UFPR explica processo de criação de vacina e reação do organismo

 Saiba como estão os testes e o desenvolvimento da vacina contra Covid-19 #AgenciaEscolaUFPR

Por Luísa Mainardes, bolsista de Jornalismo
Sob supervisão de Chirlei Kohls

Com mais de 300 anos de história, as vacinas são métodos preventivos básicos do sistema público de saúde. Ainda assim, os componentes de uma vacina, a sua produção e os efeitos que causam no organismo podem ser dúvidas frequentes para quem não está familiarizado com o mundo microscópico. Diante da pandemia do coronavírus no mundo, a pesquisadora Lucy Ono, professora do Departamento de Patologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica as fases de criação de uma vacina e a reação do organismo. Lucy também integra a Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 na UFPR. No Departamento de Saúde Coletiva da UFPR, um projeto de extensão orienta estudantes das áreas de saúde para que também fiquem por dentro do processo e da importância da vacinação.

Teoricamente, é possível o desenvolvimento de vacinas para qualquer doença viral, mas esse processo é complexo. Atualmente, existe uma corrida mundial para a produção de uma vacina contra o vírus SARS-Cov-2, responsável pela Covid-19, mas ainda existem dúvidas. “Ainda não sabemos totalmente como se dá a resposta imune contra esse vírus: se ela é duradoura ou se é transitória como parece ser para os coronavírus responsáveis por resfriados comuns”, comenta a professora Lucy.

Infográfico: Amanda Gomes/Agência Escola de Comunicação Pública UFPR

Para não contrair doenças a cada esquina, o corpo humano possui barreiras biológicas, químicas e até físicas, como a pele. As vacinas não passam de produtos biológicos que também servem como proteção. Curiosamente, são compostas pelos mesmo elementos que produzem as doenças, como vírus, bactéria e até protozoários. Para garantir a segurança de quem as toma, as vacinas são produzidas de forma que os agentes infecciosos estejam inativados, atenuados ou repartidos. É o que explica a pesquisadora Lucy.

São anos de dedicação até que seja possível a ampla disponibilização de uma vacina para a população. Os testes pré-clínicos e clínicos costumam demorar em média de 15 até 20 anos. Em situações de emergência, como é o caso do coronavírus, laboratórios norte-americanos já iniciaram testes e têm previsão para no mínimo 18 meses de regime de avaliação. No total, são quatro fases para que uma vacina saia da bancada de um laboratório e chegue nas mãos dos profissionais de saúde da rede pública.

Do laboratório aos postos de saúde

A primeira fase para a produção de uma vacina é puramente laboratorial. Aqui, os profissionais fazem uma caracterização química, física e biológica da vacina candidata. “Para o desenvolvimento da vacina contra o vírus da febre amarela, foi necessário fazer múltiplas passagens do vírus em culturas de células obtidas de macacos”, conta a professora Lucy Ono. Com o protótipo em mãos, é dado início aos testes pré-clínicos em animais. “Nessa fase é importante avaliar a toxicidade aguda, a toxicidade reprodutiva, o potencial carcinogênico, o potencial imunogênico, entre outros”.

Em seguida, os testes clínicos das vacinas, ou seja, em humanos, são divididos em mais quatro etapas. O objetivo é que as com melhores respostas sejam testadas em amostras cada vez maiores. Na primeira fase, é testado um pequeno grupo de dez até 100 pessoas saudáveis e imunocompetentes. Em seguida, essa amostra aumenta para 500, 3 mil, 20 mil indivíduos até a vacina adquirir permissão para ser disponibilizada amplamente. Devidamente autorizada para o uso na população, a vacina é registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “São avaliados os relatórios de todos os testes pré-clínicos e clínicos que comprovem segurança e imunogenicidade do produto. Além disso, o laboratório deve apresentar toda a documentação comprobatória que ateste que está apta para funcionar”, acrescenta a professora.

A velocidade do desenvolvimento de uma vacina depende tanto da quantidade de informação que existe a respeito da biologia do agente infeccioso quanto dos recursos financeiros aplicados no estudo. Diante do inesperado impacto mundial, protótipos já começaram a ser desenvolvidos. “As vacinas que ou já iniciaram a primeira fase de avaliação clínica contra a Covid-19 ou têm previsão para iniciar no próximo mês são as do Laboratório Moderna (candidata mRNA-1273) e do Laboratório Inovio (candidata INO-4800), ambos dos Estados Unidos”, conta a virologista Lucy Ono.

Para a professora, ainda existe uma preocupação da comunidade científica a respeito da aceleração dos testes em pessoas. “Não há clareza se há segurança o suficiente para a avaliação iniciar com voluntários humanos, uma vez que os testes em animais estariam ocorrendo paralelamente aos experimentos com humanos, e não previamente, como é a avaliação padrão de uma vacina”.

Vacina tomada, e aí?

Assim que a vacina é injetada no corpo humano, realiza o caminho natural de um agente infeccioso. E a princípio é assim que o corpo a enxerga, mas ao contrário de um vírus ou de uma bactéria, o seu objetivo é outro. “Dependendo da classe da vacina, com partículas virais inativadas ou atenuadas, pode estimular mais a produção de anticorpos que neutralizam o vírus ou estimular mais a produção de anticorpos e células do tipo linfócitos que matam as células hospedeiras infectadas pelo vírus”, explica Lucy. De maneira orquestrada, cada integrante tem o seu papel e o da vacina é despertar esse comportamento defensivo. A diferença é que a vacina trará menos risco do que o processo de infecção natural. “Para quem recebe a vacina, é uma medida preventiva, mas para o corpo é como se ele estivesse entrando em contato com o agente infeccioso, preparando-se para um próximo encontro”, acrescenta a professora.

Infográfico: Amanda Gomes/Agência Escola de Comunicação Pública UFPR

A virologista ainda ressalta que as vacinas feitas com vírus atenuados são contraindicadas para pessoas que sejam imunossuprimidas – que fizeram transplantes de órgãos, que estão fazendo tratamento contra câncer ou que tenham AIDS, por exemplo. “Um sistema imunológico eficiente é que vai conter a replicação do vírus atenuado antes de estabelecer um quadro de doença”. O triunfo da vacinação é justamente estar imune sem precisar estar doente.

Projeto de extensão incentiva vacinação

Nessa mesma direção, há quatro anos o Departamento de Saúde Coletiva da UFPR incentiva alunos da área de saúde a manterem suas carteiras de vacinação invejosamente em dia. O projeto de extensão “Prevenção de doenças imunopreveníveis em discentes dos cursos de graduação da área de saúde da UFPR” beneficia estudantes dos cursos de Medicina, Enfermagem, Nutrição, Odontologia, Terapia ocupacional e até alguns cursos do Setor de Ciências Biológicas.

Coordenado pela professora Karin Luhm, o projeto visa orientar os alunos para que atualizem suas carteiras de vacinação. Para a professora, os estudantes das áreas de saúde têm duas preocupações a mais. Primeiro, por estarem em contato com pessoas com doenças transmissíveis ou infecciosas, eles têm mais risco de se infectar. Segundo, os profissionais de saúde e estudantes estão em contato com pessoas idosas, que estão fazendo quimioterapia ou recém-nascidos, ou seja, estão com pessoas com maior risco de adquirir doenças graves. “Ao se vacinar, o profissional e o estudante de saúde além de se proteger, também protege indiretamente os pacientes com quem convive”.

Projeto selecionou alunos treinados que recebem carteiras de vacinação via e-mail, interpretam e comunicam individualmente aos estudantes. Foto: Divulgação

Para quem não está acostumado, a carteira de vacinação pode ser confusa ou difícil de interpretar. Levando isso em conta, o projeto selecionou alunos treinados que recebem as carteiras via e-mail, interpretam e comunicam individualmente aos estudantes – a média é de 500 orientações por semestre. Não é somente na faculdade que a carteira deve ser uma preocupação, durante toda a vida profissional eles devem estar atentos nas campanhas de vacinação oferecidas pelo Ministério da Saúde. Como é o caso da Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe que teve início em março. Até o dia 22 de maio, o objetivo da campanha é atingir mais de 67 milhões de pessoas, entre elas idosos e trabalhadores da saúde. De acordo com o Ministério da Saúde, a campanha foi antecipada em virtude da pandemia do coronavírus para auxiliar na exclusão do diagnóstico da Covid-19 já que os sintomas são parecidos.

Clique aqui e confira perguntas da sociedade sobre coronavírus e vacinação respondidas por cientistas da UFPR

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Sobre a Agência Escola UFPR

A Agência Escola UFPR, a AE, é um projeto criado pelo Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD) para conectar ciência e sociedade. Desde 2018, possui uma equipe multidisciplinar de diversas áreas, cursos e programas que colocam em prática a divulgação científica. Para apresentar aos nossos públicos as pesquisas da UFPR, produzimos conteúdos em vários formatos, como matérias, reportagens, podcasts, audiovisuais, eventos e muito mais.

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