Evento da UFPR promove reflexões sobre a ação individual no desenvolvimento sustentável e produção cultural na próxima segunda-feira, dia 21 #AgenciaEscolaUFPR
Por Cecília Sizanoski
Sob supervisão de Chirlei Kohls
Na segunda-feira, dia 21 de março, a Universidade Federal do Paraná (UFPR), por meio do Setor de Artes, Comunicação e Design (Sacod), promove evento sobre cultura e sustentabilidade a partir da Agenda 2030, das Nações Unidas. Serão duas atividades gratuitas e abertas ao público: o seminário “A operacionalização da cultura no âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” e a oficina “A produção cultural no campo das culturas populares e do patrimônio imaterial. ‘No nosso balaio tem! Reflexões sobre os 20 anos de patrimônio imaterial no Brasil’”.
Cada uma das duas atividades será em um local e horário diferente. O seminário será das 14h às 17h no Anfiteatro 800 do Complexo da Reitoria e é uma das várias ações do projeto “Cultura e Desenvolvimento: Projetos Culturais e a Agenda 2030” organizado pela Observatório de políticas, de ciência, comunicação e cultura (POL OBS.). Já a oficina será das 19h às 22h no auditório do Bloco A do Setor de Educação Profissional e Tecnológica (Sept) da UFPR. Ela é parte de uma série de atividades em comemoração aos 20 anos da existência do decreto que institucionalizou a cultura imaterial no Brasil.
O seminário sobre operacionalização da cultura será ministrado pelo investigador integrado do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade da Universidade do Minho (CECS), de Portugal, Manuel Gama. A mediação será feita por Leandro Gorsdorf, professor adjunto da UFPR na área de prática jurídica em direitos humanos. “O tema abordado é importante por tentar aproximar as perspectivas globais de desenvolvimento sustentável com práticas cotidianas. Na base de todos os objetivos [Objetivos de Desenvolvimento Sustentável] existem relações a serem pensadas a partir da cultura, da ação da sociedade civil, das comunidades, do estado e das comunidades privadas”, diz Leandro.
Já a oficina sobre produção cultural tradicional e popular será ministrada pelas produtoras culturais Júlia Basso e Greice Barros. Elas pretendem também explicar sobre o que é patrimônio imaterial e do que ele é constituído. “Quando vamos para esse contexto das comunidades tradicionais e culturas populares, muitas vezes é outro tipo de relação que o produtor precisa ter com as pessoas que estão envolvidas nessa produção. Temos uma relação mais humana mesmo. E essa necessidade de mudança de posicionamento do produtor cultural fez a gente pensar que seria interessante trazer essa experiência aos alunos”, explica Júlia.
O evento é uma realização do Projeto Cotinga – Cultura, Tecnologia e Etnodesenvolvimento em parceria com o Setor de Artes, Comunicação e Design (Sacod) da UFPR; Universidade do Minho, de Portugal; POL OBS.; Fundação Cultural de Curitiba; Fuá Produções; Núcleo Produções – Cultura e Desenvolvimento; Bacharelado em Produção Cultural/Sacod; Tecnologia em Produção Cênica/Sept; e Programa de Pós-graduação em Design da UFPR.
Confira abaixo uma entrevista com o pesquisador Manuel Gama, da Universidade do Minho, de Portugal, que será o ministrante do seminário no evento:
Cecília Sizanoski – O que são patrimônios imateriais e qual a importância da preservação deles?
Manuel Gama – Preservar os patrimônios imateriais é preservar a vida humana. Nós, vivendo em sociedade, somos produtores e consumidores de patrimônio e cultura em suas mais variadas formas e a relação que existe entre patrimônio material e imaterial é muito importante sublinharmos. Quando falamos de patrimônio material sempre há a discussão sobre como podemos preservá-lo, mas quando pensamos no imaterial, aquele que não se vê e não é palpável, muitas vezes não cuidamos dele.
Assim, sem uma atenção muito particular, podemos correr o risco de perder o conjunto de hábitos, tradições e conhecimentos tradicionais que foram fundamentais para chegar à contemporaneidade e serão importantes para chegarmos ao nosso futuro. Portanto, a preservação do patrimônio imaterial é fundamental, mas muitas vezes há essa dificuldade de conseguir perceber a importância de preservar e valorizar para o futuro.
Cecília – De que forma a cultura pode ajudar a alcançar as metas do desenvolvimento sustentável? E como os cidadãos podem contribuir para isso?
Manuel – Sobre os conteúdos na Agenda 2030, a cultura não aparece como pilar de nenhum Objetivo do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Há algumas metas em que a cultura aparece explicitada e é inegável, como nos 5 P’s da Agenda 2030: Paz, Parcerias, Planeta, Pessoas e Prosperidade. Todos eles precisam que a cultura atravesse veementemente toda a agenda. Portanto, não é possível pensar em desenvolvimento sustentável sem a dimensão cultural do desenvolvimento.
Todos temos a função de na nossa comunidade, no nosso município, no nosso condomínio, em pequenos gestos, estar alinhados com o espírito da Agenda 2030. Nós não podemos passar a mensagem de que ela é uma macro agenda e que só interessa a estados e governos e que o cidadão comum não tem um papel no seu cumprimento. Tem todo. É evidente que o estado, o governo, grandes estruturas e grandes universidades têm mais responsabilidade do que o cidadão na sua ação individual, mas a mensagem que deve ser passada é de que todos os conteúdos são importantes.
Não podemos esquecer que o lema da Agenda 2030 é “Ninguém pode ser deixado para trás”. E isso deve ser encarado sob dois pontos de vista: ninguém pode ser deixado para trás ao cumprir a agenda e o mesmo no sentido de que devemos pensar em todos e perceber quais aspectos da vida nós devemos olhar para ajudar e cooperar. Ninguém pode ser deixado para trás como contribuinte nem como beneficiário.
Cecília – E quanto ao contrário? Como os objetivos do desenvolvimento sustentável asseguram a preservação da cultura?
Manuel – Costumo dizer que uma coisa não vive sem a outra. Um exemplo de como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável podem ser importantes para a cultura é como a pandemia da Covid-19 trouxe à tona todas as fragilidades do setor técnico: emprego precário, microestrutura, desagregação, desestruturação. Se o Objetivo do Desenvolvimento Sustentável 8, que prevê o emprego digno para todos, tivesse sido cumprido, o setor cultural estaria preservado e não teria os problemas que teve, porque teria condições de trabalho não precárias. A cultura também pode se beneficiar muito se a Agenda 2030 for cumprida, mas a Agenda 2030 não pode ser cumprida sem a cultura. Portanto, é um casamento perfeito que não pode ser ignorado.
Foto destaque: PublicDomainPictures por Pixabay/Divulgação