A discussão sobre as fronteiras entre realidade e ficção marca a estreia do Bate-Pop AE, vodcast que inaugura formato para divulgação científica na UFPR
Por Priscila Murr
Arte da foto de destaque: Luiza Balliana
Colaboração: Joana Giacomassa
Edição: Alice Lima
Realidade e ficção se entrelaçam no inusitado. A descoberta de rochas de plástico, numa ilha remota do Brasil, coloca o ser humano no centro da discussão. Pode até parecer história de cinema, mas é fato. No primeiro episódio do Bate-Pop AE, novo produto da Agência Escola UFPR, a discussão dessa temática aponta a influência do homem como um agente geológico.
Na estreia, o tema “Natureza plastificada: ficção ou realidade?” propõe questionamentos a partir das recentes descobertas de um grupo de pesquisa do qual faz parte a cientista Fernanda Avelar Santos, geóloga e doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Geologia da UFPR.
Ao acaso, no último dia de expedições em campo, Fernanda se deparou com “amostras estranhas”. Algo com aparência de rocha, mas envolto por um material verde, que parecia artificial. E foi exatamente isso que chamou a atenção. Iniciava-se, ali, uma pesquisa que alcançaria repercussão internacional.
Mas, afinal, o que é isso?
A Ilha da Trindade representa o território brasileiro mais distante no Oceano, a cerca de 1.000km da costa, na altura de Vitória (ES). O local é Monumento Natural, com nível máximo de proteção ambiental. A pesquisa realizada por Fernanda estava diretamente ligada aos processos da natureza que pudessem oferecer risco à estação científico-militar fixada no local.
Foi em 2019, durante a terceira visita à Ilha, que ela e o grupo de pesquisadores e militares vivenciaram uma cena de filme de ficção. Ela conta que o local onde estavam as rochas de plástico não parecia fazer parte do globo.
“Quando você chega na cratera do vulcão, parece que você está em Marte, porque ele é todo vermelho, parece que você não está no planeta Terra”, conta.
Mas a descoberta das rochas plásticas, além de surpreender, preocupa. “Na verdade, é triste, é preocupante. Contrasta muito você ter esse tipo de poluição numa área dessas. Isso levanta a reflexão sobre a quantidade de lixo que os seres humanos estão lançando nos mares, alcançando lugares inimagináveis e remotos, que possuem uma geologia e biodiversidade únicas”, alerta.
O outro participante da mesa, que faz um paralelo entre o tema proposto e as mais diversas referências artísticas, é Victor Finkler Lachowski, publicitário e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPR. Para ele, a ficção científica está alinhada à discussão proposta quando o ser humano se preocupa em pensar sua relação com o desenvolvimento tecnológico e científico acelerado.
As potencialidades que podem ser exploradas por quem cria obras do gênero em questão são muito próximas daquilo que se vê ao longo da História.
“[O filme] Crimes of the Future, de 2022, por exemplo, mostra, de maneira ficcional, a humanidade se adaptando para uma infestação de plástico em seus corpos, e isso já está ocorrendo na realidade”, exemplifica o mestrando.
Com curiosidades imperdíveis, o episódio de estreia do Bate-Pop AE traz teorizações e aplicações práticas entre o dia a dia e a ficção científica, além dos detalhes sobre a jornada rumo às rochas de plástico!
A ciência como parte da vida
Por muito tempo, a forma de divulgação da ciência foi pensada como algo engessado, mas, agora, as possibilidades são diversas. E o lançamento do novo produto da Agência Escola busca alinhar essa multiplicidade, reunindo, em um único formato, algumas das opções contemporâneas.
A apresentadora, Joana Giacomassa, garante que o Bate-Pop AE superou as expectativas, mas, pelo fato de ser um formato com o qual nenhum dos integrantes da equipe tinha trabalhado antes, houve dúvidas durante a construção do produto.
“A gente sempre soube do potencial que esse formato tem e todos nós acreditamos nele”, revela.
Elson Faxina, docente e também mediador de mesa, argumenta que este episódio vai justamente ao encontro do objetivo principal da Agência Escola: trazer o pensamento científico para divulgação de forma mais leve. “Não é aquela coisa sisuda, dura, carrancuda. A gente faz uma conversa que seja próxima das pessoas”, explica.
Para ele, o Bate-Pop AE, especialmente esse primeiro, traz à tona algo que aparenta ser muito distante, mas que, na realidade, nos situa num contexto muito atual. “Nós vamos ver como os pesquisadores, indo lá na Ilha da Trindade, vão perceber o que está acontecendo. A humanidade está se plastificando, está até mudando a sua rota civilizatória de convivência com a natureza”, conta.
Além de cumprir a função social da divulgação científica, o novo produto da AE agrega valor à vida dos próprios estudantes, uma vez que estimula a consciência crítica.
“Isso é essencial para que a sociedade evolua. Não há avanço social, político, econômico, inclusive civilizatório, sem a ciência. Então, é importante divulgar tanto aquela laboratorial, que está no nosso imaginário, quanto aquilo que faz parte do nosso cotidiano”, completa Elson.
O vodcast
Lançado em 1º de junho de 2023, o Bate-Pop AE é sinônimo de inovação. Produzido em um formato que é tendência de consumo, o vodcast, ou seja, podcast em vídeo, tem como pilares a ciência, a arte e a cultura pop. Essa integração temática permite a discussão dos mais variados assuntos, sempre com abordagem descontraída e em profundidade.
Apresentado pela estudante de Jornalismo e bolsista da AE Joana Giacomassa e por um professor do Departamento de Comunicação da UFPR, que é chamado a partir de sua afinidade com o tema proposto, o vodcast tem até 1h30 de duração e traz conteúdos mensais, sempre com a presença de dois convidados que se associam ao tema geral do episódio.