Encontro antecede a etapa Nacional e tem como objetivo a redução das diferenças regionais
Por Camila Calaudiano
Edição: Flávia Cé Steil e Priscila Murr
Desde a Revolução Industrial, o mundo é marcado por grandes invenções e avanços tecnológicos. Em aspectos positivos e negativos, essas inovações transformam nossa visão de mundo e também a forma como interagimos com o planeta.
A mesma ciência que possibilitou a invenção da vacina, levou o homem à lua e criou a internet, também é responsável pela fabricação incessante de plástico, produção de drogas sintéticas e criação de armas nucleares. Essa dualidade, muitas vezes, é o que move a pesquisa. Isso porque, a produção científica é orientada pelo objetivo de resolver problemas, questionamentos e dilemas da humanidade.
Pensando nisso, o desenvolvimento social e humano deve estar entre os propósitos de quem produz e financia a ciência no país. Logo, é essencial identificar os interesses de quem subsidia a produção de ciência brasileira e a que necessidades eles atendem.
Então, afinal, o desenvolvimento social acompanha ou é beneficiário dos avanços tecnológicos?
Questões como essa orientam as discussões da fase Regional Sul da 5ª Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação, que aconteceu nos dias 25 e 26 de abril, na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em Curitiba.
Antecedendo o encontro Nacional, que será em Brasília (DF), entre os dias 4 e 6 de junho, essa etapa reuniu os três estados da região sul do país: Paraná (PR), Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS), para propor recomendações que contemplem as carências da população.
O encontro foi divido em Grupos de Trabalho (GTs), cada um com uma temática específica. Para discutir questões relacionadas ao desenvolvimento humano, o GT4 foi o eixo responsável por pensar “Ciência, Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Social”. Entre as pautas levantadas por esse grupo esteve a falta de participação do setor privado, que não tinha nenhum representante na sala no momento da discussão.

Em entrevista ao vodcast Bate-Pop AE Especial Conferência Regional Sul de Ciência, Tecnologia e Inovação, um dos relatores do GT4, José Maurino de Oliveira, comentou a importância de a ciência estar a serviço da população.
“A ciência em si, não é isenta. Ela sempre esteve e sempre está a serviço de algum projeto. É preciso entender que a ciência, o avanço e inovação só fazem sentido se for para melhorar a vida das pessoas. Senão, vamos estar gerando negócios, lucros […]. Discutir, numa conferência de ciência e tecnologia, o desenvolvimento social é incluir nesse debate aqueles grupos sub-representados na ciência e tecnologia. Por exemplo: as mulheres, os negros, os indígenas e LGBTQIA+. Todos esses grupos que de alguma forma não estão nos espaços de poder definindo políticas.”
Ao todo, o GT4 apresentou 15 sugestões de estratégias para o enfrentamento dos problemas de cunho social, das quais nove foram aprovadas. São elas:
- Fortalecimento da Ciência: por meio de diálogo e colaboração do Estado com agentes e organizações sociais e industriais;
- Sistema integrado de monitoramento e avaliação para a CT&I: criação de um sistema que para acompanhar e avaliar políticas e diretrizes nessa área;
- Elaboração de políticas públicas: que garantam acesso e conclusão ao ensino superior de populações sub-representadas;
- Inclusão e Protagonismo em CTI: garantir e ampliar a participação de grupos socialmente excluídos;
- Formação de recursos humanos: Promover a formação em todos os níveis de CTI, para reconhecer os diversos saberes;
- Financiamento em CTI com impacto social: que os projetos financiados pela CTI, cumpram o critério de relevância social;
- Fortalecimento e representatividade: considerar marcadores socioculturais e econômicos de desigualdades de raça, gênero, classe, orientação sexual, neurodivergentes, PCDs, populações quilombolas e campesinas na CTI.
Avaliando os resultados do encontro, a Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação da UTFPR e Coordenadora do Evento em Curitiba, Claudia Xavier, garante que o espaço proporciona a aproximação entre a sociedade e a comunidade científica, e viabiliza a tomada de decisões políticas.
“É uma oportunidade única, é uma consulta pública, ampla, aberta, para toda comunidade, poder ali expressar as nossas necessidades, anseios também, e expectativas das políticas públicas orientadas a ciência, tecnologia e inovação”.