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Ciência aberta: grupo de pesquisa da UFPR trabalha com softwares para solucionar demandas da sociedade

Por Rodrigo Mattana
Edição: Alice Lima
Fotos: Divulgação C3SL

Conforme o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em 2021, a Indústria de Software e Serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (ISSTIC) cresceu 6,5%. A produção estimada para o ano foi de 53 bilhões de dólares, valor que responde por 82,8% do total dos serviços produzidos pelo setor. Dados da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES) e da International Data Corporation (IDC) apontam que o Brasil é o décimo segundo maior investidor do mundo na área. Na América Latina, o país concentra 36% dos investimentos.

Os softwares, livres ou privados, estão por toda parte — no uso do celular, acesso a uma conta bancária ou agendamento de uma consulta médica, para citar alguns exemplos. As linhas de código fazem parte, hoje, de áreas como engenharia, agricultura, medicina, educação e tudo o que se pode imaginar. Para impulsionar esse desenvolvimento tecnológico, parte da comunidade acadêmica promove a Open Science (ou Ciência Aberta) – uma frente de democratização do acesso ao conhecimento e compartilhamento dessas produções entre os pesquisadores.

Um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) faz parte desse esforço conjunto pela ciência: o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), que completou 21 anos em fevereiro deste ano.

 

“Uma referência para a universidade na captação de recursos, na excelência da execução dos projetos e no cuidado de fazer com que seus projetos ajudem na formação dos nossos alunos”, descreve o professor titular do Departamento de Informática da UFPR e pesquisador do C3SL Marcos Sunye.

 

O C3SL é um grupo de pesquisa do Departamento de Informática da UFPR. Com cerca de sessenta bolsistas de graduação e pós-graduação ao ano, o projeto trabalha com demandas de empresas, instituições e órgãos públicos, como o Ministério da Educação (MEC) e Ministério das Comunicações (MCom). O trabalho, aliás, é só uma parte do processo: a formação integral e inovadora de quem participa e a pesquisa e produção científicas e multidisciplinares são dois outros pilares fundamentais do C3SL.

Muito do que fazem os estudantes envolvidos no processo gira em torno de uma missão: solucionar os problemas da sociedade. E isso vale para qualquer área: da medicina à inteligência artificial, da educação ao trânsito, e até para a promoção da igualdade racial.

 

A infraestrutura do C3SL conta com dois mil núcleos de processamento e 1 petabyte (PB) de armazenamento | Foto: Assessoria

Um grupo dos “giga”

O pioneirismo é uma das marcas da equipe. O C3SL foi o primeiro laboratório da rede pública de ensino a entrar na onda dos 10 Gbps (gigabits por segundo). Para fins de comparação, a internet necessária para um computador comum transmitir um vídeo em 4K é de 25 Mbps (megabits por segundo – unidade mil vezes menor do que 1 gigabit).

Se com uma rede de 100Mbps é possível assistir a filmes, baixar arquivos, jogar, fazer videochamadas — e tudo simultaneamente — fica até difícil imaginar do que a conexão usada pelo C3SL é capaz. Hoje, ela conta com saída de rede de 100 GB/s, com fibra própria conectada à Rede Nacional de Pesquisa (RNP). A velocidade, afinal, sempre foi essencial para que o grupo pudesse experimentar novas tecnologias e dar início a projetos inéditos.

Além dos bolsistas, um pesquisador da Física e 11 de Informática e Ciências da Computação fazem parte do time. São quatro laboratórios, dois mil núcleos de processamento e 135 computadores e todo esse maquinário conta com o próprio sistema de refrigeração e uma rede elétrica específica.

A infraestrutura do C3SL tem 1 petabyte (PB) de armazenamento – o equivalente a 1 milhão de gigabytes. Esse espaço seria suficiente, por exemplo, para armazenar dois anos de filmes em 4K. Para ocupar esse armazenamento, uma pessoa precisaria tirar 4.000 fotos digitais todos os dias pelo resto da vida. A título de comparação, os efeitos especiais usados pelo primeiro filme do Avatar (2009), de James Cameron, ocuparam 1 PB.

 

Formação autônoma e inovação para a ciência

Com um grande fluxo de bolsistas, o C3SL é responsável por garantir aos alunos uma formação diversificada, que vai além da lógica do mercado. O software livre é uma forma pedagógica de colocar os estudantes em contato direto com as linhas de código de diversos programas e sistemas operacionais.

 

“Os bolsistas têm contato com o desenvolvimento de aplicações de grande impacto social, e também têm a oportunidade de aprender boas práticas de programação, trabalhar em grupo e buscar soluções para problemas de alta complexidade”, afirma a estudante de Informática Biomédica da UFPR Thalita Maria do Nascimento, que faz parte do grupo de pesquisa desde 2022.

 

“No C3SL, ensinamos e aprendemos cotidianamente uns com os outros em um ambiente descontraído e colaborativo”, conta a bolsista. A autonomia também é um ponto destacado no grupo de pesquisa. Após um treinamento introdutório, os estudantes são incentivados ao aprendizado com independência, contando sempre com o apoio dos membros mais experientes da equipe.

“No mercado de trabalho vemos muito essa filosofia de inovação. O C3SL fortalece essa ideia, mas não de uma forma ‘marqueteira’. A gente não está pensando na inovação para uma empresa, mas na inovação para a ciência”, explica o bolsista Richard Heise, que cursa Ciências da Computação na UFPR que participa do grupo de pesquisa há quatro anos.

Equipe do C3SL

 

Educação e informática pedagógica

De acordo com o Google, o Brasil vai enfrentar um déficit de 530 mil profissionais de tecnologia até 2025. A pesquisa, em parceria com a Associação Brasileira de Startups (Abstartups), mostra que 53 mil pessoas vão se formar na área até lá, mas que a demanda será de 800 mil postos.

Nesse contexto, uma das seis linhas de pesquisa do C3SL liga a informática à educação. Em 2006, o grupo de pesquisa conectou os computadores de todos os colégios da rede pública paranaense. O Linux Educacional (LE), desenvolvido a partir de software livre, é distribuído a partir do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (Proinfo), que pertence ao MEC. O sistema operacional fundiu as funcionalidades da informática com os princípios da pedagogia para viabilizar o uso das ferramentas online nos colégios de todo o Estado.

O bolsista Richard Heise é gerente de projeto da Plataforma MEC de Recursos Educacionais Digitais (MEC RED), criada pelo grupo de pesquisa, e também fez parte do Sistema Integrado de Monitoramento do Ministério das Comunicações (SIMMC), outro projeto desenvolvido pelo C3SL, que reúne dados sobre inclusão digital em todo o Brasil.

De acordo com Heise, a MEC RED funciona como uma “rede social” para professores. Nela, educadores de todo o país podem buscar, interagir e colaborar com conteúdos educacionais digitais. No final de setembro, Richard apresentará o projeto em Belo Horizonte (MG), no International Conference on Theory and Practice of Electronic Governance (Icegov 2023).

 

Maior espelho de software livre do hemisfério sul

Todos os projetos do C3SL são desenvolvidos em software livre – o que quer dizer que qualquer pessoa pode analisar, usar e redistribuir as linhas de código sem pagar nada. A menos em casos de ressalva contratual, os programas estão à disposição da comunidade científica para adaptação e compartilhamento.

 

 

“O Software Livre tem o código inteiro aberto, para todo mundo poder ver, baixar e instalar a sua versão. Com ele, você contribui de uma maneira global, porque está deixando o conhecimento livre para qualquer um poder usar sem ter que construir do zero”, informa Heise.

 

O pesquisador Marcos Sunye fala ainda sobre o conceito de “aprisionamento tecnológico”. O uso do software livre pelo C3SL vai justamente contra essa ideia. Para dar acesso às dezenas de programas criados pelo grupo de pesquisa, o C3SL hospeda o maior espelho não-comercial de software livre do hemisfério sul e um dos maiores do mundo. Lá, estão os principais repositórios de software livre, como Ubuntu, SourceForge, Linux e Mozilla Firefox. “O espelho é uma forma do C3SL retribuir tudo o que a comunidade do software livre faz por nós. Está dentro da nossa relação com a comunidade”, finaliza Sunye.

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Sobre a Agência Escola UFPR

A Agência Escola UFPR, a AE, é um projeto criado pelo Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD) para conectar ciência e sociedade. Desde 2018, possui uma equipe multidisciplinar de diversas áreas, cursos e programas que colocam em prática a divulgação científica. Para apresentar aos nossos públicos as pesquisas da UFPR, produzimos conteúdos em vários formatos, como matérias, reportagens, podcasts, audiovisuais, eventos e muito mais.

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