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Vencedora de prêmio nacional, pesquisa realizada na UFPR mapeia desertos alimentares na metrópole de Curitiba

Por Priscila Murr e Camila Calaudiano 

Fotos: arquivo pessoal e AEN (Agência Estadual de Notícias) 

Supervisão: Maíra Gioia 

 

Combinação inusitada de conceitos do Planejamento Urbano e ideias comuns à segurança alimentar resulta em ação direta pela qualidade de vida da população

 

Que o cientista não é aquela figura que vive dentro de um laboratório, vestindo jaleco branco e manuseando tubos de ensaio, que resultam em explosões com direito a nuvem de fuligem no rosto, todo mundo já sabe. Mas a confirmação de que o universo científico permite, sim, conciliar o estudo acadêmico com aplicação social efetiva e o olhar cuidadoso para com o outro, é inegável diante de pesquisas como a da Arquiteta e Urbanista Marina Sutile de Lima.

A mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Planejamento Urbano pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) problematiza a questão da insegurança alimentar, com vistas ao desenvolvimento de novos equipamentos urbanos para garantia de qualidade de vida da população curitibana. Pela novidade quanto ao tratamento do assunto, o trabalho, intitulado “Desertos Alimentares em Curitiba: Espacialização do Fenômeno na Metrópole”, orientado pela professora doutora Olga Lucia Castreghini de Freitas-Firkowski, venceu o XIII Prêmio ANPUR de Dissertações de Mestrado (2023). Marina conta que a ata da premiação reconhece um avanço no campo de pesquisa.

 

“Porque esse assunto não é muito tratado a partir do olhar urbano, é considerado no âmbito da nutrição, da saúde pública, mas não como uma questão urbana”, afirma.

 

Por isso, a estudiosa enfatiza o caráter de inovação atribuído à sua análise, apontando que a expectativa era justamente a de apresentar a pesquisa para órgãos de Curitiba que definem questões relacionadas ao planejamento urbano e à segurança alimentar, para que isso subsidiasse, de alguma forma, o desenvolvimento de novos equipamentos urbanos.

 

Arquiteta e Urbanista Marina Sutile de Lima. Foto: arquivo pessoal

 

Desertos alimentares e sua espacialização na metrópole de Curitiba

 

Mas, afinal… você já ouviu falar em “deserto alimentar”? Quando se ouve a expressão, a primeira ideia que vem à mente pode ser a “falta de alimento”. E a caracterização geral é exatamente essa, mas existem algumas nuances importantes as quais Marina aborda de forma aprofundada. A estudiosa afirma que os desertos alimentares “são áreas nas cidades onde não existe acesso à alimentação saudável, as pessoas não têm acesso físico ou econômico à alimentação saudável”. O primeiro contato com esse tema veio durante seu trabalho final de graduação (TFG), quando ela desenvolveu uma pesquisa sobre a inserção da agricultura urbana em áreas chamadas de “vazios urbanos” em Curitiba. Marina aponta que o processo de estruturação da pesquisa para o mestrado surge ainda durante seu TFG, e que o estímulo da professora que a acompanhava foi bastante significativo.

 

“A minha própria orientadora do TFG é professora no PPU e ela me incentivou muito para que eu fizesse a inscrição, participasse do processo seletivo… e eu estava com muita vontade de continuar pesquisando sobre esse tema”, diz.

 

Então, a partir desse objeto, a estudante propôs uma pesquisa sobre a especialização dos desertos alimentares em Curitiba, “mas não considerando só Curitiba, e sim toda a metrópole. Não exatamente a Região Metropolitana, porque hoje ela engloba muitos municípios e não reflete a dinâmica do cotidiano das pessoas, pois há municípios como a Lapa e Adrianópolis, que não estão necessariamente integrados à metrópole”, lembra.

 

Abaixo, o mapa elaborado pela autora com a espacialização dos desertos alimentares da metrópole de Curitiba até 2022, quando da conclusão do trabalho de mestrado.

 

Espacialização de desertos alimentares na metrópole de Curitiba. Fonte: Marina Sutile de Lima.

 

Desenvolvendo, ao todo, seis investigações, cada uma abordando aspectos diferentes dos desertos alimentares e de sua espacialização no território, Marina aponta para um resultado contraintuitivo durante sua investigação.

 

“Algumas áreas centrais dos municípios que têm, por exemplo, o maior PIB da Região Metropolitana, têm espaços consideradas como desertos alimentares ou até mesmo lugares que foram recentemente urbanizados, e que ainda não têm a infraestrutura necessária, têm bastante gente morando, mas não têm muita diversidade de uso do solo, então não têm muitas lojas, não têm supermercados, não têm hortifruti ou feirinhas. São áreas em que o uso do solo é basicamente habitacional”, explica.

 

E as afirmações da pesquisadora vão ao encontro dos resultados apresentados pelo módulo Segurança Alimentar da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgado, neste ano de 2024, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados apontam que quase 20% dos paranaenses vivem a insegurança alimentar diariamente. Entre os 4,3 milhões de domicílios particulares permanentes no estado, 774 mil registraram algum nível de insegurança alimentar em 2023, período mais recente levantado pelo IBGE. Ou seja, 18 de cada 100 lares no Paraná em 2023 sofreram com uma situação de risco quanto à qualidade da alimentação diária.

 

“Muitas pesquisas apontam que a segurança alimentar, principalmente na pandemia, que foi o período em que eu realizei a pesquisa, piorou muito no Brasil como um todo. A gente chegou num ponto em que quase metade da população estava em algum nível de insegurança alimentar. E, você pensar que 50% da população estava passando por isso, quer dizer que, provavelmente, as pessoas ao nosso redor, na faculdade ou no trabalho, estavam vivendo alguma questão como essa. Às vezes, a insegurança alimentar não é a fome propriamente dita, mas a ausência de algum alimento essencial na rotina alimentar daquela pessoa ou daquela família”, declara Marina.

 

Da teoria à prática

 

A partir do olhar do Planejamento Urbano e da utilização das ferramentas disponíveis, pode-se amenizar a insegurança e melhorar a segurança alimentar da população em geral. A integração entre áreas de estudo também contribui para melhores resultados. Além disso, ideias que propõem trabalhos de campo, considerando sobretudo a realidade vivida cotidianamente pelas pessoas, conseguem demonstrar: ciência é movimento, é acompanhar a evolução dos tempos e promover, a partir da teoria, uma prática baseada em ações possíveis para cada realidade. É dessa forma que os cientistas contemporâneos desmistificam a ideia ultrapassada que os coloca distantes dos demais seres humanos. A ciência existe para tornar possível a transformação não apenas dentro dos laboratórios de pesquisa, mas nos espaços ocupados por cada indivíduo diariamente, contribuindo com melhorias reais na vida da população.

 

 

 

 

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