Integração entre a odontologia clínica e a área básica de farmacologia facilita a prescrição correta de medicamentos para crianças em tratamentos odontológicos #AgenciaEscolaUFPR
Por Lucas Daniel de Lima
Sob supervisão de Pedro Macedo e Chirlei Kohls
Independente da especialidade médica envolvida, o uso de medicamentos é primordial no tratamento de doenças ou no alívio de sintomas. Na odontologia eles podem ser utilizados para controle de dor, inflamação, prevenção de infecções bucais, sedação, entre outras aplicações. Mas há uma preocupação, já que o desenvolvimento de um medicamento parte principalmente de estudos com pacientes adultos. Ao pensarmos na odontopediatria, especialidade da odontologia que trabalha com crianças, é necessária uma atenção maior no cuidado com os pequenos.
A partir desta observação, as professoras da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Juliana Feltrin, do Departamento de Estomatologia (área da Odontologia que estuda e trata as enfermidades relacionadas à boca), e Juliana Geremias Chichorro, do Departamento de Farmacologia, organizaram juntas o livro “Terapêutica Medicamentosa em Odontopediatria”. Com o conteúdo é possível se atualizar com as evidências mais recentes sobre a aplicação de medicamentos durante procedimentos no público infantil.
A ideia de criação do livro surgiu por discussões do Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso de Odontologia da UFPR. Lançado pela editora Napoleão Quintessence, a construção do material envolveu também o conhecimento dos profissionais e pesquisadores da Odontologia e Farmacologia da UFPR, bem como de outras instituições. Pesquisadores de áreas conexas, como da pediatria, também colaboraram no desenvolvimento do livro.
Medicamentos são há séculos parte do tratamento na medicina. Segundo estudos da mestre em Farmacologia Clara Brandelli, há relatos do uso de plantas medicinais desde 2.600 a.C, na Mesopotâmia. Como relata o artigo “A História dos Medicamentos: a fantástica evolução”, do farmacêutico Lauro Moretto e do médico Dagoberto Brandão, no século 19 surgiram as primeiras produções industriais de medicamentos com os primeiros laboratórios farmacêuticos nos Estados Unidos, em 1850. A evolução dos medicamentos que vemos hoje foram lentas e se aprimoraram com a tecnologia, mas desde 1977, com o surgimento da Farmacovigilância, recebe orientações e também avaliação nas suas diferentes aplicações.
“A farmacoterapia é o uso de medicamentos para prevenir, controlar ou tratar doenças no paciente. Na Odontologia há diversas situações nas quais o profissional precisa utilizá-la como tratamento principal ou coadjuvante ao procedimento odontológico”, conta Juliana Feltrin, professora de odontopediatria da UFPR. A farmacologia é essencial ao uso clínico dos dentistas. Na área da pesquisa, o foco principal é a avaliação da eficácia e segurança dos medicamentos.
A dificuldade que circula o tema da prescrição médica em crianças está justamente nos estudos, no desenvolvimento e aplicação desses medicamentos. Questões éticas, de segurança e até consentimento dos pais limitam a avaliação dos efeitos de determinados remédios no paciente infantil. “Uma criança não é um adulto em miniatura, uma criança tem características fisiológicas diferentes”, relata Juliana Chichorro. O sistema que faz o metabolismo dos medicamentos não está totalmente desenvolvido nas crianças. Isso dificulta a eliminação do medicamento no organismo.
Juliana Chichorro ainda explica: “São feitas avaliações para aplicar o medicamento, aprovado em adultos, no paciente infantil. Mas isso tem várias limitações e muitas vezes os testes não são realizados nesta população. Em muitos casos os danos só são observados quando uma grande parcela da população pediátrica faz o uso de algum medicamento por um longo período.
As dificuldades na prática profissional
Existem várias dificuldades relacionadas à prescrição de medicamentos em crianças: desde dificuldades práticas, como a comunicação entre profissionais de saúde e os responsáveis pelas crianças, bem como a forma de ensino sobre o tema nos cursos de odontologia. Normalmente não há uma integração dos conteúdos de farmacologia e odontopediatria nas grades curriculares.
“A evolução na ciência muda antigas práticas. Para muitos aspectos da odontologia ainda não existe uma forte evidência científica. Muitas vezes o profissional baseia sua prática apenas na experiência clínica, mas a prática pode ser controversa entre as diversas instituições de ensino”, relata Feltrin. Assim, o material conta com a colaboração de muitos pesquisadores e clínicos experientes, integrando a evidência científica disponível, a experiência clínica e o conhecimento de farmacologia para a melhor atuação.
Apesar do tema envolver os profissionais e estudantes da saúde, os resultados de uma boa orientação farmacêutica refletem diretamente na sociedade, submetida a esses cuidados. A prática da automedicação, com relaxantes musculares, analgésicos, anti-hipertensivos, entre outros, é um exemplo. Esse comportamento é replicado por muitas pessoas, mesmo com medicamentos prescritos. Apesar de comum, pode ser perigoso. “Acredito que por meio da educação em saúde, profissionais podem utilizar diversas abordagens para evitar e alertar tal prática”, ressalta Juliana Feltrin.
Os benefícios da correta orientação dos profissionais clínicos sobre a terapia medicamentosa na odontopediatria refletem na qualidade de vida de todos. “Quando temos um profissional bem orientado, ele vai proporcionar um atendimento melhor ao paciente. Isso reflete na prática clínica e na saúde da população”, afirma Juliana Chichorro.
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