Por Giovani Pereira Sella
Fotos: Giovani Pereira Sella
Supervisão: Maíra Gioia
5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia discutiu, além de outros temas, como tornar a circulação do conhecimento científico mais efetiva
Estudiosos da ciência e da popularização do conhecimento científico como forma de desenvolvimento da sociedade estiveram reunidos debatendo o tema durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia (CNCTI), realizada em Brasília entre os dias 30, 31 de julho e 1º de agosto. Além de outras sugestões, os principais debatedores destacaram a valorização do Ensino Básico, dos museus e das feiras científicas como maneiras de tornar a ciência mais palpável aos cidadãos. A reflexão ficou evidenciada na sessão ‘Popularização da Ciência e Tecnologia’, que ocorreu dentro do eixo IV, o de “desenvolvimento social”, e que promoveu a discussão de que divulgar ciência por meio de veículos de comunicação não é a única maneira de disseminação do saber científico.
O professor do Instituto de Física e do programa de Pós-Graduação em História das Ciências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ildeu de Castro Moreira, que também é presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, deu início à conversa ao enfatizar a importância do tema.
“Praticamente em todas elas [as conferências] o tema apareceu. Mesmo quando não estava diretamente ligado”, disse.
As 221 reuniões da 5ª CNCTI de 2024 ocorreram nos âmbitos municipais, estaduais, regionais, temáticos e livres. Sempre compostas pela comunidade científica, sociedade civil, diferentes órgãos do governo e setor produtivo empresarial.
A frase da ministra da Ciência, Tecnologia e Inovações do Brasil (MCTI), Luciana Santos, “A ciência voltou”, reverberada ao longo de todas as conferências, serve de baliza ao tom dos presentes na sessão sobre popularização da ciência. Os convidados foram: a coordenadora geral da Febrace e pesquisadora de tecnologias aplicadas à educação da Universidade de São Paulo (USP), Roseli Lopes, a diretora de Popularização da Ciência, Tecnologia e Educação do MCTI e professora do Instituto Federal do Triângulo Mineiro, Juana Nunes, e o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e idealizador do Espaço Ciência, Antônio Carlos Pavão.
Os convidados observaram que, desde a última CNCTI, realizada em 2010, pouco se investiu e cumpriu das recomendações pontuadas acerca do tema. O Livro Azul, documento síntese da 4ª CNCTI que apresenta as diretrizes que deveriam ser seguidas pelos órgãos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação para os anos de 2010 a 2020, registrou muito dos pontos que foram discutidos.
Roseli Lopes, por exemplo, afirmou que é preciso investimento em profissionais para concretizar as propostas.
“Para desenvolvimento esperado de todos eixos temáticos de discussão propostos é necessário um corpo de profissionais e cientistas grande e de qualidade. É extremamente importante induzir e atrair pessoas talentosas no ‘fazer’ da ciência”, completou.
As falas dos convidados que a seguiram apontaram para como isso pode ser feito. Para Pavão, por exemplo, a popularização deve ocorrer pela valorização da ciência e da tecnologia no Ensino Básico e no fortalecimento de instituições, como museus e feiras científicas. Ele reconheceu a falta de profissionais dessa área presentes na 5ª CNCTI.
“Cadê o professor de Ensino Médio, cadê o professor de Ensino Básico?”, questionou.
Segundo ele, os museus são maneiras de fazer a ciência chegar na sociedade e a universidade é o local da produção científica.
“A integração desses universos é essencial”, declarou.
Exemplos de projetos e programas brasileiros de sucesso foram trazidos para a discussão, em grande parte relacionados a STEAM, metodologia que une Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática para dinamizar o ensino e a aprendizagem. A Febrace, Obmep, Espaço Ciência e o Programa Nacional Pop Ciência 2022 foram mencionados como modelos que podem ser seguidos para a popularização e desenvolvimento da área nos próximos anos.
Porém, essas ações que fazem parte de uma estratégia política para garantir à população brasileira o acesso a seus direitos, não são sempre reconhecidas pelos gestores dos investimentos, segundo Juana Nunes. Para ela, a discussão sobre popularização da ciência deveria ser o quinto eixo da conferência, que é a porta voz de uma discussão ampla que, por vezes, é incompreendida. A falta de reconhecimento na área da popularização ficou evidenciada em seu discurso.
“Nós não vamos conseguir fazer a revolução que precisamos fazer na Ciência e na Tecnologia sem fazer com que as crianças experimentem o que é fazer ciência na prática […] tendo acesso aos equipamentos dos laboratórios”, completou.
A síntese dessa discussão e outras serão divulgadas pela comissão de organização da 5ª CNCTI. A sessão ‘Popularização da Ciência e Tecnologia’ pode ser vista na íntegra no Youtube do MCTI pelo link: https://www.youtube.com/live/0T3dDQUdGfM?si=hXGub1Eub-047dGD