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Pesquisadores da UFPR analisam aumento de práticas sustentáveis entre costureiras durante pandemia

Estudo sobre economia circular contou com entrevistas de profissionais de 14 bairros de Curitiba #AgenciaEscolaUFPR

Por Breno Antunes da Luz
Sob supervisão de Chirlei Kohls

“Durante aproximadamente dez meses, comprei um mínimo de material. Elástico, plástico para embalar e etiquetas que mandei confeccionar”, relata a costureira Midori Ohata, de Curitiba, que viu na produção de máscaras uma oportunidade durante a pandemia. A confecção usando materiais alternativos e sustentáveis é o que se chama de “economia circular”.

Esse foi o tema do estudo do professor Harrison Corrêa, do Departamento de Engenharia Mecânica da UFPR (Universidade Federal do Paraná), e da doutoranda Daniela Corrêa, do Programa de Pós-graduação em Educação Física, e que também trabalha como fisioterapeuta da Força Aérea Brasileira. O trabalho mostra o crescimento de práticas sustentáveis entre os profissionais da costura na cidade de Curitiba.

O artigo publicado na revista internacional Frontiers in Sustainability, da Suíça, é uma continuação de um estudo dos mesmos pesquisadores sobre o crescimento de práticas de economia circular com a pandemia. “Ao analisarmos o trabalho das costureiras, as quais muitas empregavam sobras de confecção para produção de máscaras, observamos práticas de economia circular nesse ofício”, explica Harrison.

“O estudo não evidencia o aumento do trabalho das profissionais de costura, embora possamos estimar que a demanda delas tenha crescido”, acrescenta. Os dados apresentados no artigo referem-se aos insumos usados para fabricação de máscaras e reutilização de sobras de costura.

Ao todo, foram entrevistadas 71 profissionais da região de Curitiba, em 14 bairros da capital paranaense. A pesquisa mostrou que 95% das entrevistadas começaram a confeccionar máscaras na pandemia – destas, 32% usavam sobras de tecido. A média de produção entre as profissionais era de 457 unidades por mês.

Prática sustentável

“Eu tinha um grande acervo de tecidos, que usei para confeccionar as máscaras. Os poucos tecidos que comprei foram para atender algumas encomendas e para repor, principalmente tecidos pretos, que fazem as máscaras mais pedidas”, conta Midori, que também respondeu ao questionário da pesquisa.

A costureira Midori Ohata participou da pesquisa e conta que usou acervo de tecidos para confeccionar máscaras durante a pandemia. Fotos: Divulgação

A costureira explica que usava plásticos para embalar individualmente, por questão de higiene, mas as máscaras eram entregues em embalagens de papel. Grande parte dos resíduos eram destinados à doação para artesãs e uma parte foi utilizada como recheio de almofadas para meditação confeccionadas por ela mesma.

Segundo os dados da pesquisa, cerca de 64% das máscaras produzidas pelas costureiras entrevistadas eram feitas de algodão, conforme recomendações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). Dentre essas peças, o preço de produção da máscara de algodão é, em média, de R$ 12,90; é um valor mais barato que a máscara de tricoline, por exemplo, que chega em R$ 24,90.

Midori, que trabalha com a produção de fantasias e figurinos, se envolveu com máscaras a partir do pedido de uma familiar. “Começou a ficar difícil de encontrar máscaras para comprar, então resolvi confeccionar algumas e doar para a família e os amigos”, explica.

Quando as vendas começaram a aumentar, Midori decidiu dar uma passo à frente. “Com incentivo dos amigos, iniciei uma produção melhor e criei um empreendimento informal. Vendia as máscaras já higienizadas e embaladas, prontas para usar. Trabalhamos bastante e isso nos proporcionou uma pequena renda, ajudando muito a passar por alguns meses. Em fevereiro deste ano resolvi interromper a produção e voltar a me dedicar às minhas outras atividades”.

Impactos

“Estudos acerca de economia circular podem e devem ser conduzidos em qualquer segmento produtivo, independente do período de pandemia”. Como explica o professor Harrison, a pesquisa permite inferir sobre a prática de economia circular em um segmento produtivo. Os princípios e metodologia podem ser transpostos para outros setores e ramos de atividade econômica, permitindo melhor panorama sobre oportunidades de melhorias no modo de produção.

Para Daniela, a pesquisa pode impactar o modo como enxergamos as atividades de trabalho. “Qualquer atividade produtiva tem sua importância econômica e responsabilidade ambiental, em maior ou menor grau. Portanto, deveriam ser repensadas a ponto de serem mais circulares, com menor desperdício de insumos e otimização na produção”.

Ainda segundo Daniela, o trabalho também tem um papel de exaltar a função importante que os profissionais da costura exercem durante a pandemia. “A pesquisa também mostra a relevância das costureiras, que perceberam desde o início a importância do uso de máscaras para controle da proliferação do vírus, utilizando materiais recomendados pela OMS e demais agências de saúde e suas secretarias. Isso demonstra a inegável percepção de mercado desses profissionais, além de suas preocupações com a questão ambiental”.

A ideia

O artigo é fruto de uma parceria entre Daniela e Harrison, que uniram a vida pessoal e profissional. Os dois são casados, e tiveram a ideia de fazer a pesquisa durante um café, numa conversa sobre a importância das máscaras para controle da transmissão do vírus.

“Na ocasião, eu estava como chefe do Centro de Estudos Covid do Esquadrão de Saúde do CINDACTA II (Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo)”, diz Daniela. “Nós buscávamos artigos sobre o tema e debatíamos algumas ideias. Até que veio a pergunta: essa pandemia seria oportunidade para as práticas de economia circular ganharem força? Muita coisa estava sendo reaproveitada, reutilizada e reciclada, devido às restrições. Então, veio o primeiro artigo sobre essa reflexão”.

Assista abaixo a um vídeo sobre o uso de máscaras durante a pandemia:

Foto destaque: Céline Martin por Pixabay/ Divulgação

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