Por Alana Morzelli
Foto: Giovani Pereira Sella
Edição e supervisão: Maíra Gioia
Após seis décadas, comunicadores discutem a memória do jornalismo praticado durante o golpe
O golpe que instaurou a Ditadura Militar no Brasil completou sessenta anos em abril deste ano. Foram 21 anos sob um regime de governo que abalou todos os setores da sociedade. Nesse sentido, a imprensa sofreu de maneira significativa, sobretudo mediante a censura. Até hoje, o período deixa marcas que alteram a vida e carreira de jornalistas, fotógrafos, cinegrafistas e outros profissionais da área.
Para discutir esse cenário, o novo episódio do Bate-Pop AE Ciência em play, “60 anos da Ditadura Militar: os caminhos da imprensa entre o sagrado e o profano”, trata dos caminhos que foram possíveis — e necessários — à imprensa da época, que tentava contornar a repressão. Assim, esse episódio do vodcast parte da premissa de recuperação da memória do jornalismo produzido durante a ditadura militar.
Diante da perseguição política, os jornalistas paranaenses que foram cassados ou impedidos de trabalhar se viram com poucas opções à disposição para permanecer no mercado. Os principais meios de comunicação ativos no estado naquela época eram a revista Voz do Paraná e a gráfica Grafipar. O jornalista e professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal do Paraná José Carlos Fernandes é um dos convidados do episódio e rememora o papel desses veículos como meios para expressar resistência ao regime.
Em uma relação paradoxal, alguns jornalistas se uniram à Grafipar para publicar conteúdos com a temática do erotismo para a expressão de textos aprofundados. Curiosamente, esses textos eram revisados em sigilo por grandes intelectuais da época.
“Era a turma do ‘desbunde’, que achava que o Regime Militar não era apenas uma questão política, mas que passava pelo corpo e pela repressão dos costumes”, explica Fernandes.
Em contrapartida ao erótico profano, a comunicação religiosa também foi usada como ferramenta de rebeldia. A revista Voz do Paraná adotou temas que visavam classes pouco favorecidas e minorias não retratadas na imprensa da época.
“Os temas sociais eram bem-vindos na Voz do Paraná”, conta o professor.
O outro convidado do Bate-Pop AE é André Justus, doutorando no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPR. Justus estuda a relação entre o jornalismo paranaense — considerado, historicamente, “chapa branca” — e a resistência à Ditadura Militar.
“É importante olhar para trás, procurar trabalhar com a memória não é fácil”, diz Justus.
Durante o episódio, disponível no canal do YouTube da Agência Escola UFPR, são exploradas todas as faces da imprensa no Paraná e algumas contradições do período de repressão política e militar.
Em sua primeira experiência como apresentador do vodcast, o bolsista Rodrigo Matana destaca a seriedade necessária para lidar com a temática.
“Foi muito bom poder falar sobre um tópico tão pesado como foi o período da Ditadura Militar no Brasil de uma maneira leve e didática. Espero que isso mostre as pessoas que, apesar das pressões que a imprensa passou na época, houve alternativas”, conta.
Assista o Bate-Pop AE
Confira o episódio completo e todas as discussões trazidas por essas especialistas no 5º episódio do Bate-Pop AE: