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Expedição Antártida: cientista da UFPR atuará como “caçadora de ciclones extratropicais”

Por Alice Lima 

Supervisão: Maíra Gioia

Fotos: Arquivo pessoal 

 

A professora e doutora em Ciências Camila Carpenedo estudará a relação entre a variação de gelo marinho e os ciclones extratropicais que atingem regiões do hemisfério sul

 

No mês de novembro, a professora e doutora em Ciências da Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisadora do Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação de Emergência Climática, e coordenadora do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), Camila Carpenedo, embarca em uma expedição inédita para a Antártida. Ela vai analisar a influência do gelo marinho nos ciclones extratropicais, que atingem regiões equatoriais da América do Sul. A pesquisadora viaja em um navio quebra-gelo que sai do Rio Grande do Sul junto a um grupo de 61 pesquisadores do Brasil, Chile, China, Índia, Peru, Rússia e Argentina. Entre os pesquisadores estão 27 brasileiros. Os cientistas serão  responsáveis por estudar e coletar diversos dados sobre o oceano, geleiras, atmosfera e clima. O objetivo é compreender as consequências do aquecimento global no ponto mais austral do planeta. O navio da Marinha será conduzido pela Capitão-Tenente Sabrina Fernandes, que é a primeira mulher a conduzir um navio rumo à Antártida.

 

Rota de navegação da expedição. Imagem: Divulgação/UFRGS

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A rota da expedição irá contornar o continente, percorrendo aproximadamente 20 mil km, na tentativa inédita de aproximação máxima com as geleiras. Apesar da maior parte da expedição acontecer no mar, os cientistas irão desembarcar em bases de pesquisa que estão espalhadas pelo continente.

 

A expedição é uma realização do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT da Criosfera) e do Programa Antártico Brasileiro (Proantar) que são financiados pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq). A pesquisa também conta com a colaboração de cientistas e equipamentos de diversas universidades do país, como a Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Alguns dos equipamentos foram cedidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

 

Trajetória da cientista

 

Camila Carpenedo é gaúcha, da cidade de Porto Alegre. Ela relata que participar de uma expedição para a Antártida é um sonho de longa data que remonta os seus primeiros anos de graduação, quando escolheu cursar Geografia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), pois já pretendia estudar o polo. Segundo ela, a UFRGS possui o maior grupo de pesquisa sobre a Antártida do Brasil, atualmente chamado de Centro Polar e Climático. A equipe é responsável por investigar o papel da Antártida no sistema ambiental sul-americano.

 

“Desde a escolha do meu curso foi justamente para trabalhar com isso […] no segundo ano da graduação eu já comecei a fazer iniciação científica neste grupo, meu sonho sempre foi ir para a Antártida”, conta.

 

No verão de 2009 para 2010, ao final da graduação, a pesquisadora teve a oportunidade de ir para a esperada expedição. Porém, cinco dias antes da viagem, o Haiti foi atingido por um terremoto que abalou o país. Assim, todos os recursos de transporte foram redirecionados para uma ajuda humanitária e a expedição foi cancelada.
Agora, em 2024, mais de dez anos após a primeira oportunidade, Camila embarca para uma pesquisa inédita.

 

“Surgiu uma oportunidade que eu nunca nem imaginava, dar a volta na Antártica, eu vou conhecer todos os mares que eu estudo desde a graduação”, afirma.

Preparação

Como é a preparação para passar mais de dois meses no ponto mais austral da Terra, em meio a um mar de gelo?
Camila explica que todos os pesquisadores que participam da pesquisa tiveram que passar por uma bateria extensa de exames, como exames de sangue, raio-x do tórax e ecografia dos órgãos. Também foi requisitado que eles realizassem exames cardiológicos em movimento e em repouso. Os testes foram então levados a clínicos gerais para atestar a aptidão física dos cientistas. O navio conta com médicos a bordo, porém, os exames são feitos como uma forma de garantir que não haverá maiores complicações de saúde enquanto a equipe estiver em alto mar.

E as roupas?

Legenda: Malas da cientista para a expedição. Foto: Arquivo Pessoal

Durante o verão do hemisfério sul, as temperaturas no mar no polo sul não são tão extremas, girando em torno de 0° celsius, fator que facilita a coleta de dados. Porém, a pesquisadora reitera que dentro do continente as temperaturas são mais baixas, nesse caso, nos pontos de desembarque do navio, a equipe utiliza roupas especiais, que são disponibilizadas pela Estação de Apoio Antártico (Esantar), empresa responsável pelas logísticas das expedições antárticas no Brasil.

 

 

 

 

 

 

Equipamentos

 

O estudo de Carpenedo se resume em analisar a conexão entre o gelo marinho e a passagem de ciclones extratropicais. A pesquisa tem como base um artigo da cientista publicado em 2021, que relaciona a variação do gelo marinho com a propagação de frentes frias e ciclones extratropicais no hemisfério sul, fenômenos meteorológicos que estão frequentemente associados com eventos climáticos extremos, como as enchentes registradas no Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2024.

A análise será feita em parceria com a professora da Universidade Federal do Maranhão, Cláudia Parise, através de radiossondas atmosféricas, que são sensores acoplados em balões meteorológicos para medição de dados sobre a temperatura do ar, umidade, velocidade do vento e pressão atmosférica. A equipe vai atuar como uma espécie de “caçadores de ciclones extratropicais”, nas palavras de Camila, com o objetivo de fazer essas medições atmosféricas, antes, durante e depois da passagem de ciclones ou frentes frias. Durante o lançamento, os balões sobem quilômetros na atmosfera, por isso é essencial o uso de um equipamento específico para captar e armazenar os dados coletados: a digicora. Segundo a pesquisadora, só existem cerca de três digicoras no Brasil e a que será utilizada na expedição foi concedida pela Universidade Federal de Santa Maria. Além das radiossondas, as cientistas também farão o mapeamento do gelo marinho através de voos de drone, para verificar a espessura do gelo, cobertura de neve e localização.

 

Proa do navio. Foto: Arquivo pessoal

 

Quer saber mais?

 

A Agência Escola UFPR estará em contato direto com a cientista durante toda a expedição. Na próxima reportagem da nossa série, você vai conhecer um pouco mais do processo de pesquisa e como é a rotina de uma cientista na Antártida!

 

 

 

 

 

 

 

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Sobre a Agência Escola UFPR

A Agência Escola UFPR, a AE, é um projeto criado pelo Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD) para conectar ciência e sociedade. Desde 2018, possui uma equipe multidisciplinar de diversas áreas, cursos e programas que colocam em prática a divulgação científica. Para apresentar aos nossos públicos as pesquisas da UFPR, produzimos conteúdos em vários formatos, como matérias, reportagens, podcasts, audiovisuais, eventos e muito mais.

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