Por Priscila Murr
Fotos: Priscila Murr, Steyce Lopes, Camila Domit e Regiane Ribeiro
Supervisão: Maíra Gioia
Celebrando a arte, a história e a diversidade, Festival Ocupa Riachuelo movimentou a rua mais antiga da cidade, nos dias 8 e 9 de fevereiro
A Curitiba quieta de Dalton Trevisan ganhou sons inusitados neste segundo final de semana de fevereiro. O cinza da paisagem foi mesclado às cores vibrantes do espaço do Love City, que fica na Riachuelo, a rua mais antiga da cidade, local onde aconteceu a exibição de parte do Documentário “Trecho Seis”, produzido pela Agência Escola (AE) UFPR, integrando as atrações do Festival Ocupa Riachuelo.
Por sorte, a timidez não faz parte das características das personagens dessa história. Principalmente do Mawé, que é quem narra, num telão de 100 polegadas, e para um público de cerca de cem pessoas, boa parte daquilo que considera uma aventura: desde ser encontrado ferido em uma praia do litoral paranaense pelos profissionais do Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná (LEC/UFPR), passando por tratamento e reabilitação, até a soltura, para voltar à natureza junto com outros pinguins-de-magalhães resgatados em Pontal do Paraná.
Como parte do projeto “UFPR Na Sua Vida”, uma coleção de vídeos documentais feitos pela AE que demonstram o impacto das ações e projetos de extensão da Universidade na sociedade, o filme narra todos os acontecimentos e procedimentos, valendo-se do recurso lúdico ao atribuir voz humana e personalidade aos pinguins por meio de uma dublagem.

Foto: Camila Domit
A médica veterinária Thaila Corona, que acompanhou a sessão na primeira fila, e com os olhos marejados em cada minuto do filme, reconhece o valor de falar sobre a temática trazida no produto da AE.
“A gente não tem ideia de que qualquer ação vai ter um impacto enorme no ecossistema inteiro. Então, por mais que você não tenha tanto engajamento na causa dos oceanos, se você é um habitante do planeta Terra, você se importa com isso. Mas o engajamento da sociedade é a parte crucial, e isso a gente só vai conseguir promovendo momentos assim”, aponta.

Foto: Priscila Murr
Orgulhosa com o resultado do trabalho, a Coordenadora-geral da AE, Regiane Ribeiro, enfatiza a aproximação entre o público e a ciência a partir de eventos como esse.
“É bom demais ver a ciência, a universidade pública e a nossa UFPR ocupando as ruas… porque a Agência Escola quer contar histórias, e o Trecho Seis é uma dessas iniciativas, que vai mostrar um trabalho de conservação e pesquisa de excelência”, enfatiza.
Com o apoio da rede de pesquisa e divulgação científica Coalizão Paraná pela Década do Oceano, que também é uma iniciativa da UFPR, o LEC participa do evento viabilizando a exibição do documentário, elaborado a partir da parceria com a AE. Além disso, traz uma Mostra Cultural que faz parte das ações da Coalizão, a “Travessia Caiçara”, uma experiência de imersão no norte do litoral paranaense. As imagens, de autoria do fotógrafo e repórter cinematográfico Maycon Hoffmann, foram dispostas no interior do Bar Cataia, parceiro do evento. Materializando a história dos povos tradicionais, sua relação com a natureza e a força da cultura oceânica, a exposição contou com cerca de 500 pessoas no lançamento.

Foto: Steyce Lopes
Emocionada com a repercussão do evento, a bióloga, que é coordenadora do Laboratório e professora do Setor Litoral da UFPR, Camila Domit, fala da importância do momento para a implementação de uma cultura oceânica, destacando que o grande desafio para a conservação da biodiversidade, da natureza e próprio do oceano, é compartilhar o conhecimento sobre o tema, especialmente entre aqueles que ainda não têm acesso a essas informações.
“Trazer o oceano pra um ambiente que não tem tanto contato com ele, é o que mais me encanta! Porque fazer divulgação científica significa falar com as pessoas que não dialogam na mesma linguagem. É trocar conhecimentos e ideias com outras pessoas. Aqui, a gente tem um público que é da cultura, que é da arte, que tem uma preocupação com a sociedade, com o bem-estar das pessoas… Eu acho que é o lugar ideal pra gente trazer e fortalecer o conceito de que o oceano faz parte da nossa vida e é quem faz da nossa vida uma vida de qualidade”, garante.
Ocupando a rua
A primeira edição do Festival Ocupa Riachuelo, que tem o objetivo de resgatar a essência curitibana de vivência nas ruas, celebrando a arte e a cultura, contou com programação entre às 11h e 20h dos dias 8 e 9 de fevereiro. Valorizando a produção local, e compartilhando histórias que marcam a capital paranaense, essa rua icônica virou palco de exposições e atrações artísticas, culturais, musicais, cinematográficas, esportivas e gastronômicas. E, para fomentar o comércio local durante o fim de semana, contou com a participação dos estabelecimentos que ficam no entorno.

Foto: Regiane Ribeiro
Para a produtora executiva do Festival, Josi Forbeci, além de ser uma forma de ressignificação, esse movimento de ocupação é fundamental para a preservação dos espaços de Curitiba. Ela aponta que a expectativa de público gira em torno de 500 a 1000 pessoas.
“Realizar um evento na rua é uma maneira de valorizar a cidade, fortalecendo a economia e celebrando a identidade única de nossa comunidade. O Ocupa Riachuelo é um convite para viver essa experiência, ocupando a rua com cultura, estilo e propósito. Porque, quando um local está ocupado, com pessoas passando e coisas acontecendo, o lugar fica diferente, e a gente sente o quanto as pessoas gostam disso”, declara.
A idealizadora do Festival, Lia Perini, fala da importância de levar as pessoas pra rua como uma forma de impulsionar a alegria, dando brilho e luz à cidade.
“Os espaços públicos são feitos para as pessoas. E a Riachuelo é uma rua muito importante pra história de Curitiba. Eu tenho um negócio aqui e moro nessa região. Nós, enquanto público que frequenta esse local, percebemos que esse projeto já estava no inconsciente coletivo, porque as pessoas se identificaram com o evento, eu acho que elas estavam querendo alguma coisa nesse sentido, porque tudo fluiu muito organicamente. O Festival serviu para o público (re)conhecer a Riachuelo, ajudando e acabar com a ideia de que o centro é perigoso”, destaca.
O Love City foi o principal espaço do evento, promovendo, além da exibição do Documentário da AE, desfile de carnaval, discotecagem, shows, feira de moda autoral e sustentável, bem como a exposição de pequenos negócios criativos. A Praça 19 de Dezembro também fez parte da rota de atrações, da mesma forma que a Praça de Bolso dos Ciclistas. Outros estabelecimentos, como o Cataia Bar e a Alfaiataria, participaram com promoções exclusivas e programação artístico-cultural gratuita.