Por Camila Calaudiano
Fotos: freepik
Supervisão: Maíra Gioia
Pesquisas realizadas na Universidade Federal do Paraná buscam analisar os efeitos dos dispositivos na saúde dos usuários e compreender o uso pelos jovens
É provável que a decisão sobre a regulamentação ou não dos cigarros eletrônicos (CE) no Brasil fique para 2025. É que o Projeto de Lei (PL) 5008/2023, que propõe regulamentar a produção, comercialização, fiscalização e propaganda desses dispositivos, tem enfrentado sucessivos adiamentos na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado apesar de o uso de cigarros eletrônicos ser uma questão de saúde pública. Segundo a pesquisa Covitel 2023, pelo menos 4 milhões de brasileiros já utilizaram algum Dispositivo Eletrônico para Fumar (DEF), e de acordo com o Instituto de Pesquisas e Consultoria (IPEC), o número de usuários saltou de 500 mil, em 2018, para 2,2 milhões, em 2022. O aumento é mais expressivo entre os jovens, de 18 a 24 anos, considerados os principais consumidores dos cigarros eletrônicos.
A escassez de dados e informações científicas sobre os efeitos desses dispositivos no organismo humano, permitiu que falsas afirmações sobre o produto se disseminassem e ganhassem força entre os usuários. A principal delas é a ideia equivocada de que os cigarros eletrônicos são menos prejudiciais à saúde do que os cigarros convencionais e que seriam um meio para o usuário do cigarro comum deixar o vício, gradativamente. Mas, um estudo em andamento no Departamento de Prevenção e Reabilitação em Fisioterapia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sob a orientação da professora Silvia Regina Valderramas, que busca analisar como o CE afeta a capacidade de exercícios físicos dos usuários, observou o contrário, segundo Gabriele Kapp, estudante de Fisioterapia e uma das pesquisadoras.
“O cigarro eletrônico aeroliza um líquido fornecendo nicotina pro usuário, mas sem gerar combustão. Então essa característica de não combustão promoveu o cigarro eletrônico como uma suposta medida de diminuição dos riscos à saúde. Mas a gente já consegue ver que isso não é verdade”, afirma.
Além da cotinina, substância derivada da nicotina com efeitos tóxicos, os dispositivos contêm metais potencialmente cancerígenos, como alumínio, cromo e níquel, que podem ser liberados junto ao vapor durante a inalação.
Regulamentação e desafios para conter o avanço dos cigarros eletrônicos no Brasil
Os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), também conhecidos como cigarros eletrônicos, vaporizadores, vapers, pods ou e-cigarettes, chegaram ao Brasil em 2003. Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização, importação e propaganda desses produtos. Recentemente, a Agência revisou a resolução e decidiu manter a proibição. Apesar disso, o uso desses dispositivos tem crescido de forma exponencial, alimentado pelo mercado ilegal.
A prática de vaporizar utilizando um dispositivo pequeno, discreto, que não precisa ser aceso e não deixa odores desagradáveis, tornou-se especialmente atrativa para os mais jovens. Além disso, a crença equivocada de que os cigarros eletrônicos são menos prejudiciais à saúde do que os cigarros convencionais contribuiu para a popularização do produto.
A Agência Escola conversou com alguns usuários. Gaby, 24 anos, fuma pods há mais de três anos. Ela relata ter experimentado o cigarro convencional pela primeira vez “em um rolê com amigos”. Gostou da experiência e quis continuar fumando, mas não podia em casa por conta do cheiro. O cigarro eletrônico, então, surgiu como uma alternativa. Por outro lado, uma jovem de 19 anos, que preferiu não se identificar, deixou o pod pelo cigarro comum. Ela também começou a usar dispositivos eletrônicos por curiosidade, entre amigos, e passou a gostar. No entanto, desistiu do pod devido ao alto custo, que pode variar de R$60,00 a R$200,00. Ela, que também fuma escondida da família, relata ter percebido “uma diferença considerável em relação ao fôlego e conforto do pulmão” depois que parou de usar o pod. “Me sinto menos cansada e a respiração melhorou muito”.
Os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEF), também conhecidos como cigarros eletrônicos, vaporizadores, vapers, pods ou e-cigarettes chegaram ao Brasil em 2003. Desde 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização, importação e propaganda desses produtos. Recentemente, a Agência revisou a resolução e decidiu manter a proibição. Apesar disso, o uso desses dispositivos tem crescido de forma exponencial, alimentado pelo mercado ilegal. A prática de vaporizar utilizando um dispositivo pequeno, discreto, que não precisa ser aceso e não deixa odores desagradáveis, tornou-se especialmente atrativa para os mais jovens. Além disso, a crença equivocada de que os cigarros eletrônicos são menos prejudiciais à saúde do que os cigarros convencionais contribuiu para a popularização do produto.
Outra iniciativa que busca compreender o uso do CE pelos jovens é o Projeto de Extensão Prevenção, Orientação e Diálogos (POD), também da UFPR. O projeto é coordenado pela professora Bianca de Oliveira Cata Preta, do Departamento de Saúde Pública da instituição. A iniciativa começou em 2024 e tem como objetivo “criar um ambiente de discussão com jovens universitários sobre o uso de cigarros eletrônicos”, afirma a coordenadora. O Brasil é um exemplo quando se trata de países que conseguiram reduzir significativamente a taxa de tabagismo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a redução foi de 35% desde 2010.
“Foi a partir de estudos de base científica que a gente começou a construir a ideia de que esse produto fazia muito mal à saúde, e hoje a gente já tem isso muito bem estabelecido. E foi por meio desses estudos, descrevendo o uso de cigarros comuns e os seus malefícios que a gente conseguiu pensar em alternativas para reduzir o consumo do tabagismo no Brasil, né? […] Então a ciência ajudou muito nisso. E, a partir de estudos, o país conseguiu fazer legislações apropriadas para diminuir esse consumo, [como] a taxação de produtos, proibição de propagandas e outros”, comenta a pesquisadora.
Para participar da pesquisa sobre os cigarros eletrônicos, basta preencher o formulário de inscrição. O grupo de pesquisa entrará em contato com aqueles que se enquadrarem nos critérios de participação.
Formulário: https://forms.gle/MRAmxAkE3fF6xxRZ6