Estudantes do Colégio Estadual Teotônio Vilela, da rede pública, debateram temas relevantes com cientistas da Universidade e participaram de oficinas no campus do Departamento de Comunicação
Por Cecília Comin
Fotos: Agência Escola UFPR
Supervisão: Maíra Gioia
Em setembro, a Agência Escola estreou o “Ciência Pra Quê?”, em uma ação colaborativa com o Colégio Estadual Teotônio Vilela, localizado no bairro CIC em Curitiba. No “Ciência Pra Quê?” o(a) cientista deixa de ocupar o centro, e todos compartilham o mesmo espaço, reforçando a democratização do saber científico. O foco do novo projeto foram os integrantes do Clube STEAM, um grupo de ciências da instituição que oferece atividades no contraturno para alunos do oitavo ao terceiro ano do Ensino Médio, impulsionado pela Rede Paraná Faz Ciência dos Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (NAPI). O objetivo do clube é proporcionar experiências que vão além da sala de aula e trazem o universo da pesquisa científica para a educação básica.
No ano passado, os estudantes já haviam prestigiado a pré-estreia especial do documentário “Trecho Seis”, produzido pela Agência Escola, no Teatro da Vila. Atualmente, a camiseta do Clube STEAM traz o Mawé — pinguim que é o personagem central do filme — em destaque na estampa.
“Quero fazer letras, mas o clube me chamou a atenção. Gosto da autonomia que existe nele, é algo que não temos na sala de aula, além de a participação me deixar com um compromisso, algo para fazer toda quinta”, comentou Ana Clara, que está no 2° ano do Ensino Médio.

Na primeira etapa do “Ciência Pra Quê”, os bolsistas do Núcleo de Planejamento da AE acompanharam duas pesquisadoras em uma ida ao colégio, visando promover uma discussão participativa a partir da questão “De que maneira os diferentes resíduos sólidos impactam na crise climática?”. A primeira convidada foi a jornalista Criselli Maria Montipó, graduada em Comunicação Social pelo Centro Universitário da Cidade de União da Vitória (UNIUV) e doutora pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Criselli é especializada em política, meio-ambiente e educação, atualmente faz pós-doutorado e pesquisa estratégias para falar sobre crise climática por meio do Programa de Pós-graduação em Comunicação (PPGCom) da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Também esteve presente a jornalista Serli Ferreira de Andrade, graduada pela Universidade Tuiuti do Paraná e mestre em Agroecologia pela Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Serli é camponesa e especializada em meio-ambiente, reforma agrária e políticas públicas, além de pesquisar resíduos sólidos em Curitiba e Região Metropolitana por meio do Programa Pós-graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento (PPGMade) da UFPR.
O intuito da roda de conversa era que, para além de tirarem suas dúvidas com as cientistas, os estudantes pudessem contribuir com seus próprios conhecimentos e percepções sobre o tema dos resíduos sólidos. Os assuntos abordados foram efeito estufa, revolução industrial, os malefícios do uso do plástico e racismo ambiental. A turma começou tímida, apenas escutando atentamente, mas ao final do encontro se sentiram mais confortáveis para comentar. Um deles reforçou que o descarte incorreto desses materiais pode provocar fenômenos climáticos extremos, e outra aluna lembrou que o termo “aquecimento global” foi substituído pelo conceito de ebulição global, devido à proporção que esse fenômeno tomou.
“Fico muito feliz em ver uma geração engajada em fazer ciência na escola”, declarou Criselli, ao final do debate.
Oficina de vídeo na Agência Escola
Depois do encontro com as pesquisadoras, era necessário continuar estimulando os alunos a desenvolverem ciência através de uma produção autoral. Ficou decidido que os membros do Clube STEAM irão produzir dois vídeos em parceria com a AE, um stopmotion e um documental, com duração de dois a cinco minutos e temática delimitada. Para tanto, a equipe foi convidada a visitar e conhecer o Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD) — espaços como o prédio do Decom e o local de trabalho da AE — para uma oficina de roteirização, captação e edição de vídeos.
Durante a tarde, os alunos puderam entender melhor a dinâmica de cada núcleo do projeto, conhecer a identidade visual do CPQ e explorar diversas técnicas e atividades promovidas pelo Núcleo Audiovisual como capacitação para os produtos que vão criar. Além disso, para muitos, a experiência foi o primeiro contato real com uma universidade, o que ajudou a desconstruir ideias pré-estabelecidas sobre a faculdade e mostrar o ensino superior público como um mundo possível para cada um deles.
A professora coordenadora do clube, Francini Vila dos Santos, reconhece a importância dessa troca e chegou a encontrar com uma ex-aluna, também do Colégio Teotônio Vilela, que hoje estuda na UFPR. Segundo ela, muitos dos alunos da escola pública não tem dimensão do que é uma universidade, não sabem que caminho trilhar para chegar lá, ou creem que é algo muito distante de sua realidade.
“Esse contato que eu tenho trazido com pesquisadores é uma maneira de tentar abrir os olhos que eles podem também. Quando se pensa em cientista, muitos deles pensam de forma isolada, um cientista único num laboratório, uma coisa muito distante do cotidiano, talvez só em universidades internacionais. Não sabem que, por exemplo, dentro aqui da Universidade Federal tem pesquisas acontecendo todo dia, sempre. O clube de ciências é para dizer para eles que é possível eles fazerem o que eles quiserem fazer”, relatou.

Da interação com os equipamentos à discussão sobre várias ideias para os vídeos, os alunos se viram ocupando o papel central da produção. Um momento de verdadeira liderança aconteceu ao longo da apresentação inicial do Núcleo de Design, quando o estudante Julio Francisco da Silva Lopes pediu licença para explorar o material do CPQ no computador e aproveitou para deixar um feedback positivo sobre a estética criada pelos bolsistas.
Outra integrante do STEAM, Rayssa Rosa dos Santos, dividiu que já conhecia a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UFPR), por conta do programa de extensão Meninas nas Ciências, em que também é bolsista. Para ela, porém, a vivência na UFPR, com a oficina, foi diferente.
“Eu gosto muito de fotografia e filmar, como um hobby. Aprendi mais sobre os ângulos e tudo mais, que eu não sabia muito. Gostei muito de conversar sobre o roteiro, sobre as ideias que a gente teve, sobre o que a gente está planejando”, compartilhou Rayssa.
Em breve, a Agência Escola terá outra ida ao colégio para auxiliar e dar suporte na gravação dos vídeos.

Ciência Pra Quê?
O “Ciência pra quê?” nasce da reformulação do “Pergunte aos Cientistas”, projeto da Agência Escola criado em 2020 para estabelecer um contato entre a sociedade e os cientistas durante a pandemia de Covid-19. As pessoas enviavam suas dúvidas por e-mail, e a AE coletava as respostas com pesquisadores da universidade, diálogo que facilitou o combate à desinformação e às preocupações que marcaram esse período.
Embora tenha sido muito importante na época, o “Pergunte aos Cientistas” trazia o especialista como protagonista. O objetivo do “Ciência pra quê?” é horizontalizar essa relação e colocar os estudantes como sujeitos da pergunta, destacando a ciência como objeto de interesse compartilhado. A mudança incorpora maior participação dos professores e alunos, que dividem vivências e experiências coletivas.
A identidade visual também foi reformulada, com elementos lúdicos pensados para o público infanto juvenil — formas abstratas e coloridas representam a diversidade da ciência, todas as caras e formas que ela pode ter. O bolsista do Núcleo de Design da AE, Pedro Parreira, explica que o CPQ é pensado para ser uma “marca mutante”. Segundo ele, como o mote do projeto é trabalhar com temáticas, escolas e vivências diferentes a cada edição, é importante que a identidade se adeque a esses contextos sem perder a essência.
“Foi um projeto muito legal, muito corrido também, mas o Núcleo trabalhou muito bem em conjunto. A definição de público é muito importante quando você vai fazer uma campanha, uma identidade visual. E hoje a gente teve a confirmação final, com os próprios alunos, de que funciona até num contexto mais amplo, em questão de faixa etária. A gente está muito feliz com o trabalho que a gente fez e em ter recebido eles”, comentou Parreira.