Por Priscila Murr
Fotos: Daniel dos Santos
Supervisão: Maíra Gioia
Maior evento de popularização científica do Brasil evidencia representatividade do público infanto-juvenil no processo de educação para a ciência
No Museu Nacional, localizado no Complexo Cultural da República, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), o que chama a atenção é a presença marcante das crianças e dos adolescentes. Entre autoridades, pesquisadores e professores, os estudantes têm destaque, seja em virtude da paixão pelo universo científico, seja pela ampla atuação no que diz respeito à popularização da ciência.
Não à toa, esses jovens, nomeados de “Embaixadores Mirins”, foram convidados para participar do Encontro Nacional de Popularização da Ciência, atividade que fez parte da 21ª SNCT, que aconteceu entre os dias 5 e 10 de novembro, na capital federal, e é organizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
“São crianças-prodígio, que se destacam por produzir conteúdo de divulgação científica para outras crianças e jovens, incentivando o interesse pela ciência”, conta a diretora do departamento de Popularização e Educação Científica do MCTI, Juana Nunes.
Como parte das ações que integram o Programa Nacional de Popularização da Ciência, “Pop Ciência”, que tem como objetivo divulgar a ciência para toda a sociedade, de forma a reduzir a distância entre cientistas e leigos, o programa de embaixadores do MCTI vai na mesma linha, mas protagonizado exclusivamente por cientistas brasileiros com idade entre seis e 15 anos. Eles realizam e divulgam experimentos, conteúdos e ações de popularização da ciência, traduzindo conceitos científicos complexos de maneira acessível, aproximando a ciência de jovens e adultos de todas as idades.
O painel “Comunicação Pública da Ciência: desafios e participação ativa de meninas e meninos” abriu espaço para um bate-papo especial, que contou com a presença de parte do “Grupo de Trabalho Embaixadores Mirins da Popularização da Ciência”, instituído pela Portaria MCTI nº 7.834, de 18 de janeiro de 2024. Com papel fundamental de engajamento, sobretudo com relação ao universo infantojuvenil, o grupo participa de ações de forma voluntária, com reuniões a cada três meses.
A Coordenadora-geral da Agência Escola (AE) UFPR e integrante dos Novos Arranjos de Pesquisa e Inovação (NAPI) Paraná Faz Ciência (PrFC), Regiane Ribeiro, foi convidada para mediar o painel, que contou com as seguintes presenças: as meninas da “Duplinha Big Bang”, Beatriz e Isabella Toassa; os irmãos Luna e Theo Guedes; Maria Larissa Pereira, a Larittrix; João Vitor Garcia Geiss; e Mateus Macêdo da Silva Paiva.
“Foi muito bacana mediar a conversa, mas, o mais incrível, foi escutar e construir pontes de interlocução com essa moçada que representa a força da educação científica, da escola, das ações de popularização a ciência, e do conhecimento para transformação social. E a parte mais incrível é o poder da representatividade para inspirar mais crianças a acreditarem no poder da ciência e no impacto que ela tem em nossas vidas”, declara a Coordenadora-geral da AE.
Em oficinas práticas, palestras e rodas de conversa, os embaixadores participaram ativamente, realizando, inclusive, uma série de experimentos ao vivo, oferecendo uma visão concreta de aplicação da ciência no dia a dia. A presença deles engloba o esforço contínuo de criação de uma cultura científica mais robusta no Brasil. A meta do MCTI é oportunizar o contato de mais jovens com a ciência a cada ano, transformando a curiosidade em ações concretas de divulgação, de forma interativa e descomplicada.
O secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social (SEDES) do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação, Inácio Arruda, destaca a importância desses jovens para a democratização do conhecimento científico.
“Queremos que a ciência seja compreendida e valorizada por todos. E a participação dos embaixadores é essencial para mostrar que ela faz parte do cotidiano de cada cidadão e que todos têm o direito de acessar esse conhecimento”, afirma.
Os Embaixadores
Incentivando as pessoas a considerarem a ciência como uma opção de carreira, todos os Embaixadores Mirins presentes deram seu relato sobre trajetória e desafios na ciência brasileira. Acompanhe a seguir:
Beatriz Toassa e Isabella Toassa são conhecidas como a “Duplinha Big Bang”. Com 13 e 12 anos respectivamente, as irmãs têm um projeto social que leva conteúdo científico a alunos de escolas públicas periféricas de São Paulo, onde moram. Em suas redes sociais, compartilham fatos curiosos sobre ciência, astronomia e tecnologia, e, além disso, ensinam a fazer experimentos impressionantes. Também são multimedalhistas e fazem parte tanto da Academia Brasileira de Jovens Cientistas (ABJC) quanto do grupo de Embaixadores Mirins do Pop Ciência do MCTI.
“Esse é a nosso 3º ano consecutivo apresentado na SNCT, e nós amamos muito! A semana nacional é uma festa da ciência. E nós, embaixadores, temos um papel muito importante de servir de exemplo para que outras crianças olhem para nós e para onde nós conseguimos chegar e se inspirem. Para que outros jovens e crianças saibam que, com esforço, dedicação e persistência todos podem chegar lá. Agora, as crianças sabem que tem lugar pra elas, há um “LÁ” para se chegar. A educação muda a vida e transforma o futuro!”, argumentam Beatriz e Isabella Toassa.
Luna Abiorana Guedes e Theo Abiorana Guedes são irmãos e têm 7 e 9 anos, respectivamente. Identificados com altas habilidades e apresentam facilidades nas áreas artísticas, de raciocínio lógico e linguagem. Naturais de Águas Claras (DF), os mais jovens Embaixadores Mirins do Pop Ciência do MCTI moram em Fortaleza, para onde seu pai e sua mãe se mudaram após os bons resultados dos filhos em Olimpíadas. Além de estudarem com bolsas integrais, os Cientistas Cidadãos são Sócios-mirins da Associação de Engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (AEITA) e medalhistas em Olimpíadas Científicas. São considerados crianças-prodígio.
“A gente gostou muito da SNCT. E, na última mesa do evento, a gente palestrou junto com outros Embaixadores Mirins. Nossa missão é divulgar a ciência para outras pessoas, para crianças e para quem não conhece nada sobre ciência”, dizem Luna e Theo Abiorana Guedes.
“Eu gostei de quatro estandes, da caneta 3D, do IMPA (eu também passei para a segunda fase da OBMEP), da massagem e dos jogos com cadeira de rodas para ter a experiência de uma pessoa com mobilidade reduzida”, lembra Luna Abiorana Guedes.
“Eu gostei do estande do IMPA (Instituto de Matemática Pura e Aplicada), que organiza a OBMEP, que é uma olímpiada que eu fiz recentemente. Além de falar sobre a OBMEP, eles disponibilizaram vários quebra-cabeças para ‘decifrarmos’”, conta Theo Abiorana Guedes.
Maria Larissa Pereira Paiva é conhecida nas redes sociais como “Larittrix”. Seu apelido é inspirado na estrela Bellatrix, a terceira mais brilhante da constelação de Órion, onde estão as “Três Marias”, que figuram como o primeiro objeto de estudo da jovem. Com 19 anos, ela é a mais nova Embaixadora Mirim do Pop Ciência do MCTI e tem o sonho de se especializar em Astronomia, mas também quer contribuir para a educação do Brasil, incentivando cada vez mais meninas e mulheres à ciência. A cearense já foi certificada pela Nasa por encontrar um asteroide durante um projeto de incentivo à ciência da agência espacial norte-americana.
“Foi uma experiência incrível e muito importante para mim. Poder apresentar meu trabalho literalmente para professores, adultos, graduados e pós-graduados que estavam pedindo conselhos sobre divulgação científica a crianças e jovens, kkkkk, foi tudo! Essa experiência me deu ainda mais vontade de continuar minha jornada! Foi um espaço onde pude discutir sobre a importância da representatividade e da igualdade de gênero na ciência, algo que faz parte dos meus valores e das bandeiras que levo comigo. A importância de participar desse evento vai além do aprendizado pessoal: é também sobre fortalecer redes de apoio e dar visibilidade para a ciência feita no Brasil, especialmente para aqueles que vêm de regiões menos representadas”, descreve Maria Larissa Pereira Paiva.
João Vitor Garcia Geiss tem 14 anos. Ele é o único guarulhense nomeado Embaixador Mirim do Pop Ciência do MCTI. Além de palestrante científico, o Cientista Cidadão é multimedalhista em Olimpíadas Científicas e Sócio-mirim da Associação de Engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (AEITA), centro de excelência de ensino superior pública da Força Aérea Brasileira, que contribui significativamente para o desenvolvimento científico, tecnológico e de defesa do país.
“Foi minha primeira vez em uma SNCT, fiquei de fato extasiado com o tanto de avanços científicos e tecnológicos produzidos em prol da nossa população. Me deparei com tantas oportunidades direcionadas a crianças e adolescentes. Fiquei emocionado por ver a ciência tomando a dianteira do nosso país e sendo realmente popularizada. Nunca tinha visto isso antes, a ciência sendo colocada de forma tão acessível, democrática, de maneira efetiva e inclusiva. Foi lindo demais”, enfatiza João Vitor Garcia Geiss.
Mateus Macedo da Silva Paiva tem 11 e é natural de Fortaleza. O jovem Embaixador Mirim do Pop Ciência do MCTI é medalhista em Olimpíadas Científicas e Sócio-mirim da Associação de Engenheiros do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (AEITA). Ele começou nas Olimpíadas quando tinha oito anos e, atualmente, já participou de mais de 40. Além disso, o Cientista Cidadão já detectou doze asteroides na fase preliminar e já foi reconhecido como a criança mais talentosa do mundo pelo International Star Kids Awards (IKSA).
“A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia foi muito interessante. Visitei quase todos os estantes, que estavam bastante interativos, e participei de vários desafios, com de variados temas. Conheci projetos e aprendi muito. A importância da minha participação, e dos demais embaixadores, é estar incentivando, a cada dia mais, as crianças e jovens a se interessar pela ciência e, assim, melhorar o futuro do nosso país”, reflete Mateus Macedo da Silva Paiva.
Dezenas de outros Embaixadores Mirins foram convidados para o evento, mas por uma série de motivos pessoais e de transporte não puderam participar.
A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2024
Sob o tema “Biomas do Brasil: diversidade, saberes e tecnologias sociais”, a 21ª SNCT alerta para a urgência de reconhecer, valorizar e proteger a riqueza da biodiversidade nos diversos biomas brasileiros, bem como de conhecimentos tradicionais das comunidades que neles habitam.
Segundo a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, o espaço é uma oportunidade de aproximação entre as pessoas e o conhecimento científico, mostrando que a ciência está em todo lugar e é para todos.
“A SNCT é uma grande festa do conhecimento e do saber, um espaço para mostrar o potencial que a ciência tem de transformar o nosso futuro, abrir oportunidades para nossos jovens e combater o negacionismo na raiz”, declara.