AE UFPR: conexão de ideias, pessoas e saberes em um novo caminho

Após sete anos de atuação e centenas de produções, o projeto está em um novo ciclo, mantendo vivo o legado de formar divulgadores da ciência e aproximar a universidade da sociedade

Por Murilo Ferreira e Cecília Comin 

Foto: Agência Escola     

Supervisão: Maíra Gioia

A Agência Escola de Comunicação Pública e Divulgação Científica (AE) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) chega a um novo capítulo de sua história. Após sete anos de sucesso na formação para a divulgação científica, agora o projeto entra em uma nova fase: passa a atuar como projeto técnico-científico do Laboratório de Comunicação Pública da Ciência do Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD).

Desde 2018, mais de 140 bolsistas dos cursos de graduação em Jornalismo, Design Gráfico, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda, Música, Artes Visuais, Produção Cultural, Comunicação Institucional e Desenvolvimento de Sistemas passaram pelo projeto, além de mestrandos e doutorandos dos Programas de Pós-graduação em Comunicação e em Design e MBA em Marketing.

Foram mais de 400 notícias publicadas, mais de 430 vídeos produzidos, 30 produções científicas e nove prêmios nacionais e regionais: 1º Prêmio Confies de Vídeo (2019), Anuário Ponto Pasta (2020), Concurso Audiovisual da Andifes (2021 e 2022), Encontro Brasileiro de Divulgadores de Ciência (2023) Prêmio Expocom Regional Sul (2024), Prêmio Expocom Nacional (2024), Prêmio Expocom Regional Sul (2025) e Prêmio Expocom Nacional (2025). A AE também esteve presente, por meio das suas produções, em sete festivais audiovisuais e centenas de ações de extensão.

Para além disso, as parcerias permitiram que o conteúdo produzido pela AE fosse distribuído, alcançando um público diverso. O Jornal Plural abriu espaço para as produções textuais, enquanto a Rede Evangelizar permitiu que os bolsistas experimentassem a rotina de uma emissora de televisão, bem como possibilitou a publicações de reportagens escritas para o Portal Ide+, já a Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (AERP) foi a ponte para a divulgação de material em áudios nos formatos de radiorreportagem e boletim sonoro.

A mudança marca uma transição. A coordenadora da Agência Escola e diretora do Setor de Artes, Comunicação e Design (Sacod), Regiane Ribeiro, explica o novo momento.

“A Agência Escola UFPR conclui um ciclo de sete anos dedicado à formação de jovens estudantes na divulgação científica e inicia uma nova etapa, agora reorganizada e redimensionada como o Laboratório de Comunicação Pública da Ciência da UFPR. Assim como a ciência é ambivalente e provoca desconstrução, nosso processo, enquanto produtores e pensadores da divulgação e popularização da ciência, é dinâmico, socialmente engajado e aberto a diferentes formas de conhecimento, atores sociais e estratégias comunicativas. Esta é uma fase de transformação e transição, mas seguimos com o mesmo compromisso: conectar ciência e sociedade.”

Sete anos de legado e aprendizado coletivo

Com o propósito de divulgar ciência de maneira criativa, a AE UFPR foi responsável por criar e divulgar diversos produtos. Os bolsistas, junto a professores, técnicos-administrativos, profissionais de comunicação e parceiros institucionais, contribuíram para fortalecer uma rede de divulgação científica. Isso foi realizado em diferentes formatos e plataformas.

Entre os muitos bolsistas que passaram pela AE, o publicitário Victor Finkler Lachowski sintetiza o impacto humano e profissional da experiência.

“Eu sempre vi uma necessidade de fazer alguma coisa além do que o mercado esperava. Na AE eu encontrei uma função social e científica. Pude divulgar algo em que acredito e que considero benéfico para a sociedade. A Agência Escola me formou um ser humano melhor, uma pessoa que compreende o papel da ciência na sociedade.”

Para a professora do Departamento de Comunicação e da Pós-graduação em Comunicação Valquíria Michela John, que acompanhou o projeto desde o início, os desafios foram grandes, mas o aprendizado foi maior.

“Os grandes desafios foram sempre ligados à questão da implantação mesmo, apesar de todo mundo saber da importância de um projeto e de um programa de educação científica na universidade. Nem sempre é fácil começar, como não foi. Mas foi possível consolidar a partir da compreensão de pesquisadores e pesquisadoras, que passaram a entender a importância das ações comunicacionais de divulgação científica”, lembra.

A professora recorda com carinho um dos primeiros produtos da AE: o podcast Fala, Cientista!

“O podcast Fala, Cientista! foi o primeiro produto da AE, o produto que eu ajudei a criar, a pôr no ar. Ele foi extremamente importante ao longo de 2020 e 2021 com os especiais relacionados à pandemia. Cumpriu um papel social de comunicação pública muito relevante, trazendo respostas para as dúvidas, as angústias, os anseios daquele momento extremamente complexo que nós vivíamos”, detalha.

Ao todo foram produzidos 63 episódios, além de 18 perfis de cientistas. Toda a produção pode ser acessada aqui.

Ciência Pra Quê?: do Pergunte ao Cientista ao diálogo com escolas públicas

Entre os produtos de maior destaque está o Ciência Pra Quê?, que nasceu a partir do projeto anterior Pergunte ao Cientista, criado durante a pandemia com o objetivo de responder às dúvidas da população sobre ciência e saúde pública. Com o passar do tempo, o formato foi reformulado, mantendo o mesmo propósito de democratizar o acesso ao conhecimento científico, mas voltando-se especialmente à educação básica pública. O projeto é resultado do trabalho coletivo dos ex-bolsistas Arthur José Magalhães Czerniak (Design Gráfico), Chaiane Petroli da Silva (Design Gráfico), Pedro Parreira (Design Gráfico), Leonardo de Souza Calesso (Relações Públicas), Sarah de Souza de Andrade (Relações Públicas) e Marcella Gomes Ventura (Relações Públicas), sob supervisão de Marcela Gonçalves Balbo (Pós-graduação), Naotake Fukushima (professor) e Juliana dos Santos Barbosa (professora).

A ex-bolsista de Relações Públicas Marina Rocha conta o impacto que o produto e a AE tiveram na sua formação.

“O Pergunte ao Cientista já nasceu de uma forma muito legal, e minha memória mais especial foi quando levamos os estudantes presencialmente até a Agência Escola. Muitos deles disseram que nunca tinham ido a uma universidade e que não sabiam que a universidade era legal daquele jeito. Foi muito especial ver o brilho nos olhos deles.”

No novo formato, o Ciência Pra Quê? ampliou os laços entre a universidade e as escolas públicas, aproximando jovens do conhecimento científico e inspirando novas gerações a reconhecer a ciência como parte do cotidiano. Nele o(a) cientista deixou de ocupar o centro da cena: todos passaram a compartilhar o mesmo espaço de diálogo, reafirmando a democratização e a desierarquização do saber científico.

Bate-Pop AE: ciência, cultura e entretenimento

Com dois episódios semestrais, o vodcast Bate-Pop AE misturou ciência, cultura e entretenimento e se tornou um dos produtos mais conhecidos da Agência Escola. A identidade visual foi criada por pelos ex-bolsistas Bruno de Almeida Lobo Marchini (Design) e Luiza Balliana Rossatto Opuszka (Publicidade e Propaganda), e o nome é uma criação da ex-bolsista Maria Eduarda de Marco (Publicidade e Propaganda).

“O Bate-Pop surgiu de uma demanda de experimentação e inovação da AE. Nós queríamos trazer o cientista para falar de pesquisas e fazer um atravessamento entre as relações multidisciplinares do processo de produção de conhecimento”, destaca Thiago Bezerra, coordenador do Núcleo de Audiovisual e idealizador do Bate-Pop.

O Bate-Pop veio depois do Fala, Cientista!. “É um dos atuais produtos mais importantes da AE, com um formato diferente e também muito rico”, completa a professora Valquíria. “Ele representa bem esse momento de amadurecimento da Agência.”

Ciência em Ponto: ciência cotidiana e acessível

A identidade visual do Ciência em Ponto foi desenvolvida pelas ex-bolsistas Letícia Terumi Uyetaqui e Luiza Talami, do curso de Design Gráfico, com naming criado por Kamilla Schreiber, de Comunicação Institucional. O projeto levou às redes sociais vídeos curtos e informativos sobre a ciência presente no cotidiano, com linguagem leve e acessível. A iniciativa exemplifica a capacidade da Agência Escola UFPR de adaptar formatos e linguagens para diferentes públicos, aproximando o conhecimento científico da sociedade. Inspirado pela popularização de plataformas como TikTok e Reels, o formato de vídeos curtos tornou a divulgação científica mais dinâmica e interativa.

Saúde nas ondas do rádio: Saúde pro Seu Conhecimento

Entre os produtos mais duradouros está o Saúde pro Seu Conhecimento, idealizado por Elson Faxina, professor e um dos primeiros coordenadores do núcleo de jornalismo da AE. O projeto distribui drops sonoros com dicas e informações de saúde baseadas em ciência, em parceria com a Associação das Emissoras de Radiodifusão do Paraná (AERP).

Faxina recorda que, no início, tudo era novo e por isso mesmo desafiador.

“Embora a gente soubesse exatamente o que queria, que era fazer um trabalho de divulgação científica em parceria, juntando professores e alunos, a gente não tinha ainda um modelo a ser seguido. Então foi a criação de um modelo próprio. A falta de um modelo e esse saber que a gente ia aprendendo e errando ao mesmo tempo foi fundamental.”

Ele também lembra o impacto da pandemia.

“Tínhamos apenas um ano e pouco de Agência Escola quando surgiu a Covid. Isso balançou muito, mas também foi um momento importante, porque conseguimos fazer muito trabalho em meio à pandemia, combatendo o negacionismo.”

UFPR na Sua Vida: a universidade em histórias reais

Criado em 2019, o UFPR na Sua Vida nasceu para mostrar o impacto da extensão universitária na vida das pessoas. O professor Faxina conta que o projeto ganhou ainda mais significado com o tempo.

“Era um projeto para divulgar a extensão da universidade, mostrando o pessoal beneficiado e também a população. O formato documental fez com que o público se reconhecesse nessas histórias, vendo a universidade pública como algo próximo e transformador.”

Em 2023 o produto foi reformulado e ganhou novo formato e linguagem. A reformulação envolveu os bolsistas da AE. O logotipo, por exemplo, foi criado pela ex-bolsista Letícia Terumi Uyetaqui (Design Gráfico).

A última história contada no UFPR na Sua Vida ainda está em destaque em inúmeros festivais realizados no Brasil. O Trecho Seis é um documentário criado pela Agência Escola onde acompanhamos o resgate e reabilitação do pinguim Mawé, encontrado ferido em uma praia do nosso litoral e tratado na sede do Laboratório Ecologia e Conservação, da UFPR, em Pontal do Paraná. Na produção do filme, a equipe decidiu, se valendo de um recurso mais lúdico, dar voz e personalidade aos pinguins. Mawé, personagem principal, é quem narra todos os acontecimentos e procedimentos de sua recuperação até sua soltura.

Luan Melo, co-diretor e responsável pela montagem da produção, destaca que o maior desafio foi lidar com a sensibilidade do tema, a fragilidade dos pinguins, buscando equilibrar a empatia com a consciência ambiental:

“Queríamos expor como eles sofrem por conta das nossas escolhas como sociedade, sem transformar isso apenas em algo fofo.”

Na pré-estreia, mais de 150 pessoas compareceram o que também rendeu a indicação a diversos festivais como a Mostra de Cinema do 12º Encontro de Divulgação de Ciência e Cultura da Universidade de Campinas, o Festival Internacional de Cinema MacacuCine 17ª edição, o CURTA 5 – Festival Estudantil de Curtas 14ª edição, a Mostra de Cinema das Missões 3ª edição, o Planeta. Doc Festival 10ª edição e o Visões do Mar Festival Internacional de Documentários de Niterói. Isso levou a história dos pinguins a novos públicos.

O futuro da Agência Escola

O novo ciclo é de continuidade, renovação e reposicionamento, como destaca a coordenadora Regiane Ribeiro.

“Seguimos divulgando, produzindo e discutindo ciência da mesma forma, mas a formação, que foi eixo estruturante das nossas ações, materializa-se agora de outra forma: no diálogo com parcerias institucionais, nas pesquisas de pós-graduação, em nível de mestrado, doutorado e pós-doutorado e na busca por editais e colaborações que ampliem nosso alcance. Seguimos comprometidos com o ensino, a experimentação e o trabalho colaborativo, agora orientados por dois grandes eixos: a produção de conhecimento em Comunicação Pública da Ciência e mediação comunicacional à divulgação e popularização da ciência.”

Entre esses parceiros estão o NAPI (Novo Arranjo de Pesquisa e Inovação) em Emergências Climáticas), o Laboratório de Geoprocessamento e Estudos Ambientais (Lageamb), o Laboratório de Análise de Materiais e Rochas (Lamir), a Pró-Reitoria de Pós-graduação (PROPG) e o INCT INOVALIGNO.

O que permanece é o espírito que guiou a Agência Escola desde o início: comunicar a ciência com sensibilidade, coletividade e propósito. E, nas palavras de tantos que passaram por lá, fazer da comunicação um ato de transformação.