Laboratórios de diferentes setores se juntaram em ação inédita: a criação do primeiro centro de ciências forenses universitário de todo o Brasil
Por Gabriel Costa
Fotos: Gabriel Costa e banco de imagens
Supervisão: Maíra Gioia
Sangue, crime e morte. Quando se pensa em ciências forenses, é natural associar o campo a temas mórbidos. São décadas de séries, filmes e livros retratando a perícia criminal de forma espetacularizada — o que não é, necessariamente, errado. Mas, na realidade, esse campo vai muito além disso e impacta o seu dia a dia mais do que você imagina. As ciências forenses são intrínsecas à convivência contemporânea em sociedade.
Por definição, ciências forenses são a aplicação de conhecimentos e técnicas científicas na resolução de casos criminais — e também em uma série de outras questões legais. Ou seja: não, não se trata só de morte. A área abrange desde a autenticação de produtos cosméticos até a identificação de amostras de DNA. São práticas que, muitas vezes, passam despercebidas, mas que impactam diretamente setores como a saúde, o comércio e a segurança pública — e, consequentemente, a economia do país todos os dias.

Os casos não são resolvidos na rua, mas sim dentro de laboratórios especializados. Pesquisadores, mestres e doutores dedicam sua vida acadêmica — e por vezes pessoal — às ciências forenses.
Diante dessa demanda, laboratórios de diferentes setores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) se juntaram em ação inédita: a criação do primeiro centro de ciências forenses universitário de todo o Brasil. E o seu impacto vêm sendo sentido muito além dos campi. Já foram institucionalizadas parcerias com a Polícia Científica do Paraná e com a Polícia Federal, nos mais diversos temas.
Processo de criação

A ideia de criar um centro universitário voltado às ciências forenses surgiu em 2018, durante uma reunião no Setor de Ciências Exatas da UFPR. Participaram do encontro o professor Marcos Sunye, do Departamento de Informática e atualmente reitor da Universidade, o professor Andersson Barison, do Departamento de Química da UFPR, e o então secretário estadual de Segurança Pública do Paraná, Wagner Mesquita Groschock.
Foi ali, naquele encontro, que Sunye propôs a criação de um centro universitário voltado às ciências forenses — uma sugestão nascida da articulação que ele já vinha construindo junto às polícias Civil e Científica do Estado.
“Eu nem sabia na época. Mas foi ali que tudo começou”, lembra Barison.
O Centro nasceu para oficializar algo que, na prática, já existia. Há décadas, laboratórios da UFPR desenvolvem pesquisas voltadas à área forense, mas faltava uma integração formal entre esses grupos.

De acordo com Anelize Bahniuk, professora do curso de Geologia e diretora do Laboratório de Análises de Minerais e Rochas da UFPR, o Centro de Ciências Forenses funciona como uma espécie de centro virtual.
“São vários laboratórios consolidados que atuam de forma conjunta, oferecendo apoio e desenvolvendo pesquisas dentro da temática forense”, explica.
A força do centro está na articulação entre diferentes áreas do conhecimento, que se unem em torno de um objetivo comum.
Atuação do Centro
O Centro de Ciências Forenses da UFPR tem uma atuação tão diversa quanto o próprio campo permite. São vários os laboratórios que integram sua estrutura, refletindo a multidisciplinaridade da área. Entre eles, estão o Centro de Computação Científica e Software Livre (C3SL), do Departamento de Informática; a Central Analítica do Departamento de Química (CA-DQUI); o Laboratório de Análises de Minerais e Rochas, vinculado ao Departamento de Geologia; e o Laboratório Multiusuário de Ressonância Magnética Nuclear.
Cada um possui um foco de pesquisa e atuação diferente. O C3SL tem seu foco em crimes digitais, o Lamir em questões geológicas — como a análise de ossadas — , e o laboratório da RMN na análise e identificação de diferentes substâncias químicas.

O Centro é um ecossistema poderoso de pesquisadores e laboratórios que decidiram se unir para fortalecer o trabalho em nome da Universidade. Por enquanto, o Centro de Ciências Forenses é formado por departamentos da própria UFPR. No entanto, desde o início, outras universidades e órgãos governamentais demonstraram interesse em integrar a iniciativa. A expansão começou a ganhar corpo com a criação do Novo Arranjo de Pesquisas e Inovação (Napi) de Segurança Pública e Ciências Forenses — um núcleo que ampliou o alcance do projeto e iniciou a agregação de novas instituições e profissionais.
“O NAPI já conta, por exemplo, com pesquisadores da Unicentro, de Guarapuava, além de envolver a Polícia Científica do Paraná, que atua em parceria com eles”, explica André Grégio, coordenador do centro e professor do Departamento de Informática da UFPR.
“Também já estamos agregando outras instituições, como a Polícia Federal de Florianópolis”, complementa Grégio.
O Napi também foi o responsável por formalizar as parcerias entre a UFPR e a Polícia Científica, reunindo diferentes atores sob o mesmo guarda-chuva.
“Hoje, esse arranjo facilita muito o trâmite entre as instituições, criando uma rede mais coesa e eficiente”, destaca Bahniuk.
Com a Polícia Federal, o processo também começou de forma pontual.
“Firmamos um convênio, que permitia a troca de amostras e possibilitava que peritos viessem até aqui em busca de informações. Aos poucos, esse contato foi se consolidando até se tornar uma parceria formalizada”, relembra Bahniuk.
Série:
Além da ficção
Com um trabalho tão amplo, é impossível contar todos os casos, histórias e curiosidades do Centro de Ciências Forenses da UFPR em apenas uma reportagem. Por isso, a Agência Escola UFPR se debruçou sobre o tema em uma série repleta de momentos marcantes.
As histórias vão desde o projeto Fim do Luto de Famílias de Pessoas Desaparecidas, que trabalha com ossadas não reconhecidas, até uma pesquisa sobre as substâncias químicas presentes em cigarros eletrônicos.
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