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“Haverá contraindicação da vacina para gestantes?”: cientistas da UFPR respondem dúvidas da sociedade sobre Covid-19

Perguntas da população sobre Covid-19 integram a campanha “Pergunte aos Cientistas”, da Agência Escola de Comunicação Pública UFPR #AgenciaEscolaUFPR

Por Chirlei Kohls

Uma explicação sobre o desenvolvimento de vacinas contra Covid-19 foi feita por cientistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) para uma dúvida sobre contraindicação para gestantes da servidora pública Maria Eliane Iachenski Belinovski, 37 anos, de São José dos Pinhais (PR). “Estudos de toxicidade reprodutiva estão em andamento e ainda não há resposta definitiva para a questão das vacinas em gestantes”, esclarecem.

A pergunta da Maria Elaine é uma das cerca de 150 já respondidas por pesquisadores da UFPR desde o início da pandemia. As dúvidas da sociedade envolvem vários aspectos sobre prevenção e contaminação, como uso de máscaras, prática de atividades físicas, limpeza de embalagens e alimentos, ida ao mercado, testes e vacinas e grupos de risco, entre outros.

As perguntas sobre Covid-19 integram a campanha “Pergunte aos Cientistas”, da Agência Escola de Comunicação Pública UFPR, que também lançou um hotsite de divulgação científica nesta semana. De jovens a idosos, até o momento, a população participante mora em 11 estados brasileiros e quatro países e atua em cerca de 50 diferentes profissões.

Para participar, basta enviar a pergunta ao e-mail agenciaescolaufpr@gmail.com ou no direct do perfil @agenciaescolaufpr no Instagram, com nome completo, idade, profissão e cidade onde reside. O objetivo da campanha “Pergunte aos cientistas” é aproximar a sociedade da UFPR, democratizando o acesso à produção de conhecimento e mostrando o impacto da ciência na vida das pessoas.

As explicações abaixo para novas dúvidas recebidas foram feitas pelas cientistas Alexandra Acco e Juliana Geremias Chichorro, professoras do Departamento de Farmacologia; Maria Carolina Stipp, doutoranda do mesmo departamento, e Álvaro Henrique de Lima Silva, mestrando também em Farmacologia; Patricia Dalzoto, professora do Departamento de Patologia Básica; e Roseli Wassem, professora do Departamento de Genética. Ainda participou o presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR, Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular. Confira:

Prevenção

“Haverá contraindicação da vacina do coronavírus para as gestantes?” (Maria Eliane Iachenski Belinovski, 37 anos, servidora pública, São José dos Pinhais-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Maria Eliane! Sua dúvida é pertinente e deve ser a mesma de muitas gestantes ou mulheres que planejam engravidar. Na corrida mundial por vacinas contra o coronavírus, há cerca de 187 vacinas candidatas. De acordo com registro da Organização Mundial da Saúde (OMS) em 22 de setembro, 38 vacinas estão em ensaios clínicos de fases 1, 2 e 3 em humanos, sendo que nove estão na fase 3, a mais avançada e a que define se a possível vacina fornece ou não imunização, protegendo da infecção – outras 149 estão em fases pré-clínicas. No entanto, as mulheres grávidas foram sistematicamente excluídas dos ensaios clínicos de vacinas e terapias. Atualmente, existem mais de 300 estudos explorando a terapêutica para Covid-19, com homens e mulheres de diferentes idades, mas com exclusão quase universal de mulheres grávidas ou que estão amamentando. Alguns recursos foram submetidos aos órgãos americanos National Institutes of Health (NIH) e Food and Drug Administration (FDA), que regulamentam esses estudos, para a inclusão segura de mulheres grávidas em estudos clínicos para terapias e vacinas da Covid-19, alegando que a vacinação durante a gravidez protege a mãe, o feto e o recém-nascido, e que essa triplicação do benefício poderia permitir a inclusão oportuna de mulheres grávidas nos testes de vacinas. O FDA estipulou que estudos de toxicidade no desenvolvimento e na reprodução em animais deveriam ser realizados antes que as vacinas candidatas fossem testadas em mulheres grávidas e lactantes. Assim, esses estudos de toxicidade reprodutiva estão em andamento e ainda não há resposta definitiva para a questão das vacinas em gestantes. Também não se sabe como serão os protocolos de vacinação quando alguma das vacinas em teste estiver disponível para a população, pois ainda está se testando se uma ou duas doses são suficientes, se indivíduos idosos precisam de mais doses, a partir de qual idade seria recomendada a vacinação, entre outros fatores que podem alterar a resposta vacinal. Desse modo, com as informações atuais, não podemos responder com clareza sua pergunta até que a primeira vacina esteja com todas as fases clínicas (1, 2 e 3) concluídas e com todas as variáveis analisadas, incluindo os riscos da vacinação durante a gestação.

“Só precisamos usar máscara quando precisarmos falar com alguém?” (Maria Lucia De Cerqueira Leite Duboc, 73 anos, aposentada, Rio de Janeiro-RJ)
Cientistas UFPR – Olá, Maria! Esperamos que esteja bem. O uso de máscara é recomendado em todos os espaços públicos, independentemente da interação com outras pessoas. Recomenda-se também o uso de máscara caso haja interação com uma pessoa que não seja do seu convívio. A máscara representa uma barreira física que contribui para reduzir a transmissão do vírus. Muitas pessoas estão infectadas com o coronavírus e não apresentam sintomas da doença. Essas pessoas podem eliminar no ambiente partículas (através da fala, tosse ou espirro) que podem conter o agente infeccioso. Existem evidências de que essas partículas podem ficar suspensas no ar por tempo variável dependendo do ambiente, bem como contaminar superfícies. Adicionalmente, um estudo publicado no Journal of General Internal Medicine propôs que o uso de máscaras pode levar a uma infecção menos grave a quem for contaminado, ou seja, amenizaria a gravidade e consequentemente a mortalidade da Covid-19. Portanto, o uso de máscara é fundamental e deve ser associado a outras medidas de prevenção da doença, principalmente lavagem frequente das mãos, manter os ambientes arejados e manter o distanciamento de ao menos 1,5 metro de outras pessoas.

“Moro em um condomínio fechado de 34 casas. Com a orientação de utilizar máscaras nas áreas internas mesmo em caminhadas, muitas pessoas pararam de se exercitar por não se adaptarem. Há a sugestão de ser feita uma escala de horário entre as casas para utilização da área da ciclovia em caminhadas e atividades físicas, de forma que as pessoas não se encontrem. Mantendo essa dinâmica, como vocês veem a dispensa do uso da máscara durante a caminhada e atividade física? Qual o risco de permanência do vírus em ambientes ao ar livre e qual a possibilidade de contaminação nesse caso?” (Ana Cardoso Vieira, 55 anos, analista de sistemas, Salvador-BA)
Cientistas UFPR – Olá, Ana! Esperamos que esteja bem. A máscara representa apenas uma das medidas de redução da transmissão do coronavírus. O coronavírus é transmitido através de partículas emitidas através da fala, tosse, espirro e secreções de pessoas contaminadas. Existem evidências de que essas partículas podem ficar suspensas no ar, por tempo variável dependendo do ambiente, bem como contaminar superfícies. Alguns estudos mostraram que a transmissão é muito superior em locais fechados. Em locais bem arejados e, especialmente ao ar livre, a dispersão dessas partículas ocorre rapidamente, o que reduz significativamente o risco do contágio. Além disso, o distanciamento social é uma das medidas mais importantes para prevenir o contágio. Portanto, se vocês estabelecerem escalas para utilização das áreas abertas, evitando o contato entre pessoas não familiares, o risco de contágio pode ser considerado muito baixo.

“O micro-ondas é eficaz para esterilizar outros materiais como embalagens de papel e tudo aquilo que possa ser levado ao aparelho? Quais os tempos e temperaturas de exposição às micro-ondas? Pergunto também: qual é a temperatura mínima que mata o vírus? Por quanto tempo posso manter alguma coisa no congelador para eliminá-lo? Ou isso não tem efeito algum?” (Luciano Carlos Vital de Mattos, 79 anos, economista, professor universitário aposentado, Ilhéus-BA)
“Em meu trabalho recebo uma série de documentos impressos e preenchidos a mão. São papéis que passam por vários órgãos, impossível rastrear. Se eu colocar esses documentos no micro-ondas consigo eliminar o vírus?” (Simone Coelba, 38 anos, administradora, Ciudad del Este-Paraguai)
Cientistas UFPR – Olá, Luciano e Simone! Esperamos que estejam bem. As temperaturas elevadas, cerca de 56 graus por 15 minutos, são capazes de inativar e/ou matar o vírus, mas ele consegue sobreviver por longos períodos em temperaturas negativas. Portanto, não é recomendado congelar materiais com a finalidade de desinfecção.
Já o uso de forno micro-ondas pode matar diversas classes de vírus após exposição entre um a cinco minutos. Mas existe grande variação entre os equipamentos (potência e forma de cozimento) e o tipo de material a ser esterilizado. Por exemplo, se o seu aparelho de micro-ondas deixa os alimentos extremamente quentes nas bordas e congeladas no centro, ele não desinfetará os materiais adequadamente. Além disso, a radiação do micro-ondas é uma forma de energia de radiofrequência que, quando utilizada em fornos domésticos (2.450 MHz), excita as moléculas de água, gerando calor, ou seja, as micro-ondas matam os micro-organismos através do aquecimento da água nos alimentos, não diretamente através da radiação. Assim, tentar aquecer outros materiais (papéis, por exemplo), pode ser perigoso, pois estão secos e podem pegar fogo.
Como não há trabalhos específicos com o SARS-CoV-2 e uso de micro-ondas, demonstrando temperaturas adequadas, potência e tempo para desinfecção, recomenda-se que ao manipular os documentos, os cuidados como lavagem das mãos e uso de álcool em gel sejam mantidos, assim como evitar levar as mãos ao rosto após manipulá-los.

“Quantas partes por milhão (ppm) de quaternário de amônio a Anvisa ou OMS recomenda para combate à Covid-19 em vias públicas? E qual geração de quaternário é mais recomendada? Por quê?” (Paulo Caetano da Silva, 52 anos, representante comercial, Uberlândia-MG)
Cientistas UFPR – Olá, Paulo! Os compostos de quaternários de amônio (CQAs) são desinfetantes já utilizados nas indústrias da área farmacêutica, de cosméticos e em ambientes hospitalares por suas ações fungicida, bactericida e também pelo seu potencial virucida. Por isso, e devido à sua ação particular sobre vírus envelopados, têm sido usados para a sanitização de vias públicas durante a pandemia do novo coronavírus. Eles atuam basicamente causando desnaturação e rompimento de complexos lipoproteicos do envelope viral, levando à sua inativação.
Por essas características, eles são comercializados de forma pura, em diferentes concentrações. Devido à essa variedade, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não fornece uma recomendação específica sobre a concentração a ser utilizada, informando a necessidade de seguir as recomendações dos fabricantes, sobre a concentração, diluição, método de aplicação e tempo de contato. Por outro lado, a Agência reforça a importância de se verificar regularização dos produtos e os riscos de efeitos adversos provocados, como irritação e sensibilização dérmica, especialmente nos trabalhadores que se expõem constantemente.
Como você citou, existem diversas gerações de CQAs. A variação das gerações é referente à estrutura química das porções alifáticas ou aromáticas ligadas ao átomo de nitrogênio. O mais recomendado e utilizado contra o SARS-CoV-2 tem sido o CQA de quinta geração. A escolha do produto de quinta geração tem sido feita por suas vantagens sobre os outros desinfetantes, que resulta em um processo de desinfecção mais eficiente em uma menor concentração.

“Temos utilizado hipoclorito de sódio (água sanitária) para desinfecção de frutas e verduras, mas ficamos preocupados ao ler advertências em algumas páginas francesas. Assim, percebemos que há um risco envolvido com a água sanitária e gostaríamos de receber mais orientações sobre o tema. Com relação ao hipoclorito de sódio, temos visto diferentes orientações sobre a dosagem e o tempo durante o qual as frutas e verduras devem ficar imersos. Qual combinação devemos seguir para a desinfecção de frutas e verduras? Uma vez que o recobrimento lipídico do SARS-CoV-2 é sensível ao sabão, lavar frutas e verduras com água e sabão pode ser uma opção? Esse procedimento pode danificar as frutas e verduras?” (Ivan Eidt Colling, 51 anos, professor universitário UFPR, Curitiba-PR)
Cientistas UFPR – Olá, Ivan! Sua preocupação é pertinente porque estudos conduzidos em laboratório mostraram que o vírus SARS-CoV-2 pode sobreviver por horas ou dias em alguns materiais de embalagem – principalmente papelão e várias formas de plástico. Além disso, o vírus é mais estável em temperaturas mais baixas, que é a forma pela qual muitos alimentos são transportados e armazenados. Embora, em teoria, pode ser possível se infectar pelo SARS-CoV-2 a partir de embalagens ou superfícies inanimadas, a chance dessa transmissão é pequena e apenas nos casos em que uma pessoa infectada tosse ou espirra na superfície e outra pessoa toca essa superfície logo após (dentro de até duas horas). De acordo com as agências de segurança alimentar dos Estados Membros da União Europeia, é muito improvável que possa adquirir Covid-19 ao manusear alimentos, pois não houve nenhum relato de transmissão da Covid-19 através do consumo de alimentos até o momento. O principal modo de transmissão da Covid-19 é de pessoa para pessoa, principalmente por meio de gotículas respiratórias que as pessoas infectadas espirram ou tossem.
As orientações da Direção-geral de Saúde e Segurança Alimentar da União Europeia para o manuseio de alimentos são:
1) Lavar bem as mãos com sabão e água morna antes e depois das compras.
2) Aplicar estritamente as regras de higiene na sua cozinha, que normalmente protegem de intoxicações alimentares.
3) Armazenar seus alimentos adequadamente (qualquer contato entre os alimentos consumidos crus e cozidos deve ser evitado).
4) Descartar a embalagem externa antes do armazenamento (por exemplo, envoltórios de papelão quando houver uma embalagem de plástico interna).
5) Lavar sistematicamente frutas e vegetais com água limpa, especialmente se eles não forem cozidos (SARS-CoV-2 não sobrevive ao cozimento).
6) Evitar a contaminação por utensílios de cozinha (facas, pratos etc.), lavando-os cuidadosamente com detergente entre usá-los para diferentes ingredientes alimentares.
7) Respeitar as instruções de cozimento (tempo, temperatura) para alimentos que se destinam a ser consumidos cozidos.
8) Lavar as mãos com água morna e sabão antes de começar a preparar ou cozinhar alimentos, bem como depois de prepará-los.
Sua preocupação com o uso do hipoclorito de sódio é relevante, pois segundo a Anvisa, na concentração 1% é um produto corrosivo, à semelhança da água sanitária cuja concentração de hipoclorito é maior (2,0% e 2,5%), podendo causar lesões dérmicas e oculares. O Conselho Regional de Química (CRQ) do Rio de Janeiro lançou em junho deste ano a cartilha sobre higienização e sanitização de alimentos do produtor ao consumidor que contempla parte de suas dúvidas sobre a higienização de alimentos frescos, que deve seguir as seguintes etapas:
1) Pré-lavagem em água corrente e sanitização por 10 minutos de imersão em solução de hipoclorito de sódio com 0,01% de cloro ativo (5 ml ou uma colher de sopa de água sanitária que seja indicada para uso em alimentos – checar na embalagem essa informação – para cada litro de água).
2) Enxágue em água corrente.
Como a indicação do CRQ é usar solução com 0,01% de cloro ativo (100 vezes menor que a concentração de 1% que é danosa), se você tiver uma solução que tem 2,0% ou 2,5% de cloro ativo, deverá usar 5 ml ou 4 ml, respectivamente, para um litro de água.

Contaminação

“O que acontece com os vírus causadores das doenças enquanto não há uma epidemia ou pandemia? De onde surgem? O que provoca o ‘nascimento’ de um deles? Uma vez ‘nascido’ vão contaminando os humanos? O que define ser uma epidemia? Um exemplo que procuro amarrar pra entender o SARS-cov-2 é o vírus do sarampo. Já temos vacina para ele, estava erradicado do Brasil, mas de repente ressurge. Onde ficou durante este tempo? Por que não ‘morreu’, visto que há vacina? O que mantém o vírus vivo?” (Thelma Sabim, 67 anos, aposentada)
Cientistas UFPR – Olá, Thelma! Sua pergunta é muito importante para evidenciar a importância das vacinas. Quando há um programa de vacinação e a maioria da população é vacinada contra determinadas doenças, os vírus e bactérias não conseguem se espalhar, pois uma grande parte dos indivíduos já está imune a esses patógenos (causadores de doença). É a famosa imunidade de rebanho que tanto ouvimos falar.
Vamos considerar o vírus do sarampo. Em 2016, o sarampo foi considerado eliminado nas Américas e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) concedeu ao Brasil o certificado de eliminação da doença. Isso significa que havia poucos casos da doença no país e que a transmissão estava controlada. Porém, desde 2018 vêm correndo surtos de sarampo no Brasil. Como é possível?
É importante ressaltar a diferença entre erradicação e eliminação. Um patógeno erradicado não existe mais, ele não é encontrado em nenhum lugar do mundo, como é o caso do vírus causador da varíola. Não há pessoas infectadas com esse vírus e, portanto, não existe transmissão. Não é o que observamos com o sarampo. O vírus foi eliminado em alguns lugares, mas ainda existe, ou seja, ainda há pessoas infectadas e, com isso, a transmissão pode ocorrer. Basta que uma pessoa portadora do vírus entre no país e ele poderá se espalhar, principalmente porque, nesse caso, sua capacidade de disseminação é muito alta. Uma pessoa infectada pode transmitir para até 20 outras pessoas!
Mas como o vírus voltou a circular se estava eliminado? A principal razão é a falta de cobertura vacinal, ou seja, as pessoas pararam de se vacinar. Os estudos indicam que os surtos acontecem quando indivíduos não se vacinam por decisão individual, o que pode acontecer por uma série de razões, como convicções individuais morais e religiosas, falta de conhecimento técnico-científico e experiências anteriores com vacinação. Uma pessoa pode acreditar que a vacina não é mais necessária, porque a doença não existe mais, por exemplo. As informações divulgadas pela mídia e redes sociais também podem contribuir para a não vacinação, quando levam a acreditar que as vacinas são prejudiciais, fato incentivado pelos movimentos antivacinas que ocorrem no mundo inteiro. No caso do sarampo, a cobertura vacinal já chegou a 95% no Brasil, o que é ideal para se atingir a imunidade de rebanho. Menos que isso já abre oportunidades para o vírus voltar a circular.
E de onde surgem os vírus que causam esses surtos? Enquanto a doença não for erradicada, o patógeno ainda existe. Os patógenos podem estar presentes na população, mas não ser espalhados devido à imunidade de rebanho. Alguns patógenos podem estar presentes em reservatórios naturais e, com o desmatamento, o consumo de animais exóticos e outras práticas, voltar a infectar seres humanos não imunizados.
É preciso enfatizar a importância da vacinação. Dentre os riscos associados às vacinas, o principal é a não vacinação. A decisão individual de não se vacinar leva a consequências não apenas para o indivíduo, mas para a população, expondo indivíduos mais vulneráveis.

“Insetos, como formigas, por exemplo, podem carregar o coronavírus de um local para outro?” (Marilene Faria)
Cientistas UFPR – Olá, Marilene! A sua pergunta é muito pertinente. Sim, vários experimentos demonstraram que os insetos podem carregar micro-organismos na superfície dos seus corpos, nas asas e patas. Formigas, baratas e outros insetos que podem estar presentes em todos os ambientes são considerados grandes veiculadores de bactérias, fungos e vírus. Eles estão associados, inclusive, com a disseminação de doenças em ambientes hospitalares. Formigas, em geral, são encontradas em ambientes limpos e frequentemente são usadas como indicadores da limpeza de um local. Baratas, por outro lado, já se movem por todos os lugares, sendo consideradas pontes entre áreas limpas e sujas.
O fato de insetos potencialmente carregarem vírus em suas patas e asas faz com que a manutenção das condições de higiene dos ambientes seja primordial, com a limpeza das superfícies e objetos assumindo um papel ainda mais importante, para o controle da infecção pelo novo coronavírus. Mas é preciso lembrar que, apesar de possível, esse modo de transmissão é pouco provável, principalmente se forem tomadas as medidas de higiene. A forma mais comum de transmissão da Covid-19 é pelo contato com partículas virais encontradas nas secreções das vias aéreas de pessoas infectadas. Por isso a importância do distanciamento social, do uso de máscaras e da higienização das mãos com água e sabão ou álcool 70% com frequência.

“Quando recebemos encomendas em casa, pedimos para o entregador deixar no meio do pátio, em uma parte calçada. Após higienizar as encomendas, limpamos a calçada onde ficaram as compras e onde o entregador pisou. Mas a dúvida é a seguinte: antes de limparmos o chão algumas vezes acabamos pisando no local e também precisamos caminhar na grama para abrir a torneira. A grama fica contaminada? Se sim, como devemos proceder para tornar seguro?” (Lisandra de Oliveira Sauer, 45 anos, professora, Pelotas-RS)
Cientistas UFPR – Oi, Lisandra! Você tem razão em se preocupar, precisamos mesmo ter cuidado. É possível, sim, que a grama seja contaminada por partículas virais oriundas dos calçados assim como a calçada e demais superfícies. É possível usar substâncias desinfetantes como álcool 70% e hipoclorito de sódio sobre a grama, mas isso pode prejudicar o crescimento ou até mesmo matar as plantas. Assim, depois que entrar em contato com superfícies potencialmente contaminadas você pode limpar o solado dos calçados em um pano embebido em água sanitária a 0,1% (hipoclorito de sódio diluído 20 vezes), pois essa solução desinfetante tem a capacidade de eliminar o vírus. Além disso, mantenha os procedimentos que você vem adotando, como limpeza da calçada e das embalagens, lavagem das mãos e utilização de álcool 70% para higienização das mãos e superfícies.

“Sou doméstica e minha patroa testou positivo para Covid-19. Ela começou com sintomas dia 09/06/20 e trabalhei até dia 10. Logo depois eu tive que me isolar por ser suspeita. Eu, desde o dia que ela começou com os sintomas, tive somente cólica abdominal. Somente eu e minha família não tivemos mais nada. É possível eu e minha família termos pegado Covid-19 e termos sido assintomáticos?” (Liliane Patrícia Ribeiro da Silva, 44 anos, doméstica, Oliveira-MG)
Cientistas UFPR – Cara Liliane, ficamos felizes com seu interesse em entender melhor a atual condição e nos colocamos à disposição para esclarecer outras dúvidas que tiver. As dores abdominais que você descreve são compatíveis com Covid-19 já que esse sintoma é observado em pacientes que de fato tiveram a doença. Por outro lado, o fato de nenhum membro da sua família ter tido nenhum sintoma sugere que talvez você não tenha transmitido para eles, o que é difícil evitar quando todos residem juntos. Se você transmitiu, é estranho que vocês todos tiveram sintomas muito leves, quase imperceptíveis. Ainda assim, é possível que isso tenha acontecido. A forma de avaliar isso seria através do teste imunológico. Infelizmente os resultados dos testes imunológicos (também chamados de testes rápidos, incorretamente) não têm boa precisão. Por isso, os testes também não confirmarão se tiveram mesmo ou não. Alguns testes imunológicos são realizados apenas com picada no dedo e têm taxa de erro bem alta. Outros são feitos com sangue coletado e tem maior confiabilidade. Dessa forma, o mais provável é que nenhum de vocês tenha contraído o vírus. Mas lembre-se que não é possível afirmar sem ter resultados confiáveis.

Clique aqui e confira outras matérias com perguntas da sociedade sobre Covid-19 respondidas por cientistas da UFPR

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Sobre a Agência Escola UFPR

A Agência Escola UFPR, a AE, é um projeto criado pelo Setor de Artes, Comunicação e Design (SACOD) para conectar ciência e sociedade. Desde 2018, possui uma equipe multidisciplinar de diversas áreas, cursos e programas que colocam em prática a divulgação científica. Para apresentar aos nossos públicos as pesquisas da UFPR, produzimos conteúdos em vários formatos, como matérias, reportagens, podcasts, audiovisuais, eventos e muito mais.

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