Por Flávia Cé Steil
Edição: Alice Lima
Fotos: Flávia Cé Steil
Foto de destaque: Priscila Murr
Entre 23 e 29 de julho, aconteceu na Universidade Federal do Paraná (UFPR) a 75ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, marcou presença e afirmou que o Brasil acredita e produz ciência de qualidade.
A reunião é o maior evento de divulgação científica da América Latina e reuniu nomes e debates fundamentais para o avanço da ciência e sua popularização. A sessão solene de abertura aconteceu no domingo (23), no Teatro Guaíra, e contou com apresentações artísticas. A programação se dividiu entre Jovem, Científica, Cultural e Dia da Família na Ciência. Em especial, a SBPC Científica contou com conferências, palestras, mesas-redondas e webminicursos a respeito de divulgação científica.
Pesquisas arriscadas e confiança dos brasileiros
Na segunda-feira (24), no auditório de Engenharia Química do Centro Politécnico, aconteceu a mesa-redonda sobre “Como apoiar pesquisas arriscadas?”, promovida pelo Instituto Serrapilheira, que expôs as tendências do meio científico de aversão ao risco. A ideia dos investimentos em pesquisas de ciência de alto risco é alimentar a produção de ciência disruptiva, garantindo autonomia científica e liberdade de experimentação dos cientistas.
No mesmo dia, a mesa-redonda “Os brasileiros confiam na ciência?” foi mediada pela professora doutora Valquíria John, professora de Jornalismo e responsável pela formação e capacitação na Agência Escola UFPR.
Na mesa, as palestrantes Luisa Massarani, coordenadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia da Fiocruz, e Vanessa Oliveira Fagundes, assessora de comunicação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais, discutiram os impactos da pandemia de coronavírus na confiança do povo brasileiro na ciência, além de analisarem a polarização política e sua relação com as ondas negacionistas dos últimos anos.
A conclusão das cientistas foi que, de modo geral, os brasileiros confiam nas descobertas científicas e que, mesmo em momentos de crise, a ciência desfruta de um status positivo.
“Pelos dados, os brasileiros confiam na ciência. A ciência é vista como benéfica pela população”, concluiu Fagundes.
No terceiro dia do evento, a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, marcou presença. A conferência com a ministra, com o título “Ciência, saúde e democracia”, abordou as propostas do governo para a reaproximação e reconstrução da ciência.
Dentre os temas discutidos, estavam os impactos da pandemia, o financiamento de pesquisas estratégicas para o Sistema Único de Saúde (SUS), a importância das instituições públicas para as aplicações da ciência e o seu papel para o Ministério da Saúde.
Sobre a meta do MS em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços de fortalecer o Sistema Único de Saúde e fazer com que 70% dos equipamentos, medicamentos e materiais médicos do SUS sejam produzidos no Brasil, a ministra afirmou:
“É uma meta para os próximos 10 anos. Não é um desafio pequeno, mas nós consideramos um desafio factível, se houver uma política pública consistente e contínua para este objetivo”.
A ministra participou do Pergunte aos Cientistas, da AE, e comentou a importância da divulgação científica.
Também na terça-feira, aconteceu a conferência “Ciência cidadã e democracia”, que apresentou os conceitos de Ciência Aberta e Ciência Cidadã e a forma que estão relacionadas com a democratização e divulgação do conhecimento científico.
Ainda houve a mesa-redonda “Como três projetos de divulgação científica defendem a ciência ao olhar para seus problemas?”, que discutiu, a partir da visão dos palestrantes Theo Ruprecht, do podcast Ciência Suja; Tais Oliveira, do Instituto Sumaúma; e Ana Carolina Canegal, do Observatório da Branquitude, as desigualdades existentes no meio científico.
Ana Carolina, inclusive, foi entrevistada pelo Bate-Pop AE, vodcast da AE. Confira abaixo!
Na quarta-feira (26), em sessão especial, aconteceram debates para a 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia (CNCTI). Com a presença de Ildeu de Castro Moreira, presidente de honra SBPC, Olival Freire Junior, diretor científico Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, Inácio Arruda, secretário da Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social, e Hugo Aguilaniu diretor-presidente do Instituto Serrapilheira, o objetivo foi discutir políticas de base para gerar estratégias de popularização da ciência, além de ferramentas de incentivo à aquisição de cultura científica no Brasil, tanto na educação básica quanto na superior.
Além disso, a Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Barbosa também esteve presente na SBPC. No ato, a ministra falou sobre a importância do resgate da CNCTI, e exaltou a atuação da SBPC como entidade de defesa do regime democratico e do conhecimento científico no Brasil.
“Historicamente, a ciência brasileira sempre enfrentou períodos de grandes desafios. Nesses momentos, a SBPC esteve à frente da resistência, sendo verdadeira trincheira em defesa da soberania nacional e da nossa democracia. A SBPC chega aos 75 anos como marca indelével de um Brasil que acredita na ciência e produz ciência da mais alta qualidade. É um patrimônio nacional.”, disse a ministra.
Segundo a ministra, as novas diretrizes da CNCTI seguirão quatro eixos:
- Recuperação, expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação;
- Reindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas;
- Ciência, tecnologia e inovação para programas e projetos estratégicos nacionais;
- Ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento social.
Por fim, a ministra Luciana Barbosa assinou acordos de financiamento com o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Celso Pansera, e anunciou o novo edital do Programa Futuras Cientistas com o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene).
Na quinta-feira (27), aconteceu a mesa-redonda “Ciência Móvel e a interiorização da divulgação científica”, que apresentou a experiência do projeto “Ciência Móvel” no Brasil, uma estratégia de democratização do conhecimento científico por meio de museus de ciência itinerantes.
No Science Arena, a mesa-redonda “Comunicação científica como vetor de colaboração e de diálogo entre pesquisadores”. A discussão girou em torno dos desafios da comunicação e divulgação científica e foram debatidas estratégias para promover articulação entre os pesquisadores, possibilitando novas colaborações e diálogos em tempos de incertezas e crises.
Os integrantes convidados do debate foram Renato Janine Ribeiro, presidente da SBPC, Clarice Cudischevitch, gestora de comunicação do Instituto Serrapilheira, e Regiane Ribeiro, coordenadora geral da Agência Escola de Comunicação Pública. Houve, na mesa, a integração entre divulgação científica no meio acadêmico (Agência Escola), o financiamento de projetos de divulgação (Serrapilheira) e as dificuldades no cenário nacional (SBPC).
Por fim, na sexta-feira (28), último dia de conferências e reuniões, aconteceu a mesa-redonda sobre “História e impacto das olimpíadas científicas no Brasil”, que apresentou um perfil histórico do papel das olimpíadas científicas no país e fez uma análise crítica dos resultados observados nos estudantes e professores que participam dessas competições.
Ainda na programação da 75ª Reunião Anual da SBPC, posteriores ao evento, serão ofertados webminicursos.